Apesar da fama de tradicional, Minas Gerais é o terceiro estado onde há maior concentração de casais gays morando sob o mesmo teto, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro. A constatação vem de dados do Censo 2010, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pela primeira vez, o órgão investigou a fundo famílias formadas por homossexuais e identificou que, do total de 67,4 mil casais gays que vivem juntos no país, 4,9 mil (7,3%) moram em Minas, que ainda figura no topo de outro ranking: Tiradentes, nos Campos das Vertentes, e Rodeiro e Pequeri, na Zona da Mata, estão entre as cinco cidades brasileiras onde há, proporcionalmente, mais gays que decidiram juntar as escovas de dente.
O Censo 2010 mostrou também que a maioria quase absoluta dessa população vivia em união consensual. Mais da metade desses casais se encontrava na Região Sudeste e que um quarto dos casados com pessoas do mesmo sexo tem nível superior completo. A maioria dos homossexuais entrevistados se declarou católica (47,4%), seguida por pessoas sem religião (20,4%).
Apesar da vida a dois assumida por homossexuais, Minas mantém comportamentos conservadores e, 10 anos depois do último Censo, continua com o menor percentual do país de casais vivendo em união consensual, 25,9%. O número, entretanto, representa um salto significativo, se considerado que, em 2000, apenas 18,8% dos casados em Minas viviam em união consensual, mas está longe de alcançar os 36,4% no Brasil em 2010.
De acordo com a demógrafa do IBGE Luciene Longo, Minas é um estado onde a força da religião e dos costumes se mantém, mas, por ser o segundo estado mais populoso, acaba tendo peso maior na ruptura dessas tradições, caso das uniões homoafetivas. “Como Minas tem uma população grande, com mais de 19 milhões de habitantes, é natural que tenha número maior de casais de homossexuais”, afirma Luciene.
Traços mais liberais estão presentes em municípios do interior, figuram no topo do ranking das cidades com maior concentração de casais homossexuais vivendo sob o mesmo teto, em relação ao total da população. Com 6,9 mil habitantes, Tiradentes, a 190 quilômetros da capital, é a terceira na lista, atrás apenas de Águas de São Pedro e São João de Iracema, ambas em São Paulo. A cidade histórica é seguida por Pequeri, com 3,1 mil moradores, e Rodeiro, com 6,8 mil pessoas.
Enquanto a média nacional é de 0,03% dos cônjuges morando com pessoas do mesmo sexo, Tiradentes, Pequeri e Rodeiro têm percentual de 0,14%, 0,13% e 0,12%, respectivamente. “Primeiramente, há de se considerar que tratamos de números pequenos. Apesar disso, observamos que todas as cidades estão próximas do Rio de Janeiro, um estado mais liberal”, avalia Luciene.
O jovem tiradentino Rodrigo Giovani dos Santos, de 27 anos, ilustra bem essa estatística. Ele mantém união estável com o contador Igor Vanucci Gonçalvez Jacques, de 26, que há dois anos se mudou para a cidade histórica, onde os dois vivem juntos. Rodrigo trabalha numa pousada e acredita que a diversidade de frequentadores de Tiradentes estimula um perfil mais liberal. “Apesar de ser uma cidade religiosa, não há preconceito. Minha família também tem princípios bem mineiros, do interior mesmo, mas recebeu o Igor muito bem”, conta Rodrigo, que é católico e quer passar a união estável para casamento, para adotar uma criança.
Segundo o rapaz, Tiradentes recebe bem os casais homoafetivos. “Nossa cidade é muito tranquila e o número de gays vem aumentando nos últimos anos. Creio que eles se sentem bem por aqui”, diz. “Vamos juntos ao bares, andamos de mãos dadas quando queremos e não percebo olhar torto para a gente. Só vi isso uma vez, mas nem partiu de morador, foi um turista que falou bobagem”, conta Igor, que é budista. “Nós dividimos as despesas e tudo o que compramos para a casa. A gente curte ficar em casa juntos e aproveitamos bastante a companhia um do outro nos eventos da cidade”, acrescenta.
Celeste lembra que os homossexuais da sua geração levavam mais tempo para assumir a escolha. No caso dela, isso ocorreu aos 25 anos, depois até de se relacionar com homens. Ela diz que a sociedade passou a discutir mais o assunto, deixando de acreditar nos estereótipos. “No passado, a gente se descobria ou se revelava bem mais tarde. Mas acho que essa tranquilidade crescente que a gente percebe nas ruas com os homoafetivos está ligada à forma como nos colocamos diante da sociedade. Na minha época, a sociedade era mais preconceituosa e a ideia que se fazia era de promiscuidade. No país, 53,8% dos casais homossexuais que moram juntos são mulheres, segundo o Censo 2010.
Para o coordenador geral do Movimento Gay de São João del-Rei e Região das Vertentes, Carlos Bem, Tiradentes é uma cidade gay friendly. “Os eventos que movimentam a cidade sempre recebem muita gente de fora, inclusive homossexuais. Vem muita gente de outros estados e outros países até para abrir restaurantes e pousadas. Essa pode ser uma das hipóteses para a cidade estar se destacando dessa forma.”
O Censo 2010 mostrou também que a maioria quase absoluta dessa população vivia em união consensual. Mais da metade desses casais se encontrava na Região Sudeste e que um quarto dos casados com pessoas do mesmo sexo tem nível superior completo. A maioria dos homossexuais entrevistados se declarou católica (47,4%), seguida por pessoas sem religião (20,4%).
Apesar da vida a dois assumida por homossexuais, Minas mantém comportamentos conservadores e, 10 anos depois do último Censo, continua com o menor percentual do país de casais vivendo em união consensual, 25,9%. O número, entretanto, representa um salto significativo, se considerado que, em 2000, apenas 18,8% dos casados em Minas viviam em união consensual, mas está longe de alcançar os 36,4% no Brasil em 2010.
De acordo com a demógrafa do IBGE Luciene Longo, Minas é um estado onde a força da religião e dos costumes se mantém, mas, por ser o segundo estado mais populoso, acaba tendo peso maior na ruptura dessas tradições, caso das uniões homoafetivas. “Como Minas tem uma população grande, com mais de 19 milhões de habitantes, é natural que tenha número maior de casais de homossexuais”, afirma Luciene.
Traços mais liberais estão presentes em municípios do interior, figuram no topo do ranking das cidades com maior concentração de casais homossexuais vivendo sob o mesmo teto, em relação ao total da população. Com 6,9 mil habitantes, Tiradentes, a 190 quilômetros da capital, é a terceira na lista, atrás apenas de Águas de São Pedro e São João de Iracema, ambas em São Paulo. A cidade histórica é seguida por Pequeri, com 3,1 mil moradores, e Rodeiro, com 6,8 mil pessoas.
Enquanto a média nacional é de 0,03% dos cônjuges morando com pessoas do mesmo sexo, Tiradentes, Pequeri e Rodeiro têm percentual de 0,14%, 0,13% e 0,12%, respectivamente. “Primeiramente, há de se considerar que tratamos de números pequenos. Apesar disso, observamos que todas as cidades estão próximas do Rio de Janeiro, um estado mais liberal”, avalia Luciene.
O jovem tiradentino Rodrigo Giovani dos Santos, de 27 anos, ilustra bem essa estatística. Ele mantém união estável com o contador Igor Vanucci Gonçalvez Jacques, de 26, que há dois anos se mudou para a cidade histórica, onde os dois vivem juntos. Rodrigo trabalha numa pousada e acredita que a diversidade de frequentadores de Tiradentes estimula um perfil mais liberal. “Apesar de ser uma cidade religiosa, não há preconceito. Minha família também tem princípios bem mineiros, do interior mesmo, mas recebeu o Igor muito bem”, conta Rodrigo, que é católico e quer passar a união estável para casamento, para adotar uma criança.
Segundo o rapaz, Tiradentes recebe bem os casais homoafetivos. “Nossa cidade é muito tranquila e o número de gays vem aumentando nos últimos anos. Creio que eles se sentem bem por aqui”, diz. “Vamos juntos ao bares, andamos de mãos dadas quando queremos e não percebo olhar torto para a gente. Só vi isso uma vez, mas nem partiu de morador, foi um turista que falou bobagem”, conta Igor, que é budista. “Nós dividimos as despesas e tudo o que compramos para a casa. A gente curte ficar em casa juntos e aproveitamos bastante a companhia um do outro nos eventos da cidade”, acrescenta.
Escolha sem medo
Celeste lembra que os homossexuais da sua geração levavam mais tempo para assumir a escolha. No caso dela, isso ocorreu aos 25 anos, depois até de se relacionar com homens. Ela diz que a sociedade passou a discutir mais o assunto, deixando de acreditar nos estereótipos. “No passado, a gente se descobria ou se revelava bem mais tarde. Mas acho que essa tranquilidade crescente que a gente percebe nas ruas com os homoafetivos está ligada à forma como nos colocamos diante da sociedade. Na minha época, a sociedade era mais preconceituosa e a ideia que se fazia era de promiscuidade. No país, 53,8% dos casais homossexuais que moram juntos são mulheres, segundo o Censo 2010.
Para o coordenador geral do Movimento Gay de São João del-Rei e Região das Vertentes, Carlos Bem, Tiradentes é uma cidade gay friendly. “Os eventos que movimentam a cidade sempre recebem muita gente de fora, inclusive homossexuais. Vem muita gente de outros estados e outros países até para abrir restaurantes e pousadas. Essa pode ser uma das hipóteses para a cidade estar se destacando dessa forma.”