Jornal Estado de Minas

Assassinato de criança deixa Bom Sucesso dividida entre o horror e a revolta

Termina de forma trágica busca pela menina Kamyla, de 5 anos, desaparecida havia 6 dias. Depois que corpo foi encontrado em pasto, população indignada ameaçou linchar suspeito

Paula Sarapu

Cartazes de luto e faixas pretas se juntaram às manifestações de tristeza pela morte de Kamyla - Foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press



Bom Sucesso – Depois de seis dias de busca incessante pela menina Kamyla Grazzyele Santos Vitoriano, de 5 anos, acabaram nessa segunda-feira de forma trágica as esperanças de achá-la com vidaO corpo da garota foi encontrado em um pasto em Bom Sucesso, no Centro-Oeste de Minas, a 206 quilômetros de Belo HorizonteKamyla estava desaparecida desde a tarde de terca-feira passada, quando foi sequestrada a 20 metros de sua casa, na Rua Três Pontas, Bairro PalmeirasA polícia mantém um casal preso como suspeito, sendo que o homem tem passagem policial por envolvimento com menoresO crime bárbaro chocou a cidade pacata, de 18 mil habitantes, e o delegado precisou pedir reforco à PM da vizinha Lavras, pois moradores tentaram invadir a delegacia para linchar o suspeito.

O corpo de Kamyla foi encontrado por volta das 8h, dentro de um saco de ração amarrado com fios, à beira de um córrego na zona rural, na localidade conhecida como EscambuiEstava despida e muito machucada, com perfurações no peito, pescoço e na cabeça, supostamente provocadas por uma facaAs roupas estavam em um outro saco“Foi jogada lá como se fosse lixo”, revoltou-se o pai, o pintor Wander Ferreira Vitoriano, de 36 anos, que acompanhava as buscas desde o dia do desaparecimento.


Segundo o delegado Emílio de Oliveira e Silva, que não divulgou os nome dos detidos por segurança, há fortes indícios de que o casal preso tenha participado do sequestro e da morte da meninaA suspeita é uma mulher de 25 anos, que está grávida e é viciada em crackPresa na quinta-feira, de acordo com as investigações, ela é mãe de cinco filhos e já teria vendido algumas das crianças – o que pode indicar, segundo o delegado, uma motivação para o crimeO amante dela, morador de Lavras, tem 40 anos e é suspeito de ter abusado sexualmente de Kamyla

O delegado já sabe que ele tem ficha criminal, no estado da Bahia, por abuso de menores.

“Ainda precisamos saber como foi o rapto, quanto tempo ela ficou viva, qual a motivação e quem cometeu essa atrocidade”, disse o delegado“Há fortes indícios de que eles participaram, mas a mulher nega tudo e o amante dela, em depoimento, entrou em contradiçãoA suspeita é de que o crime tenha tido conotação sexualEle já tem um histórico de pedofilia, com passagem pela polícia pelo crime de sedução de menores, mas pode ter também relação com tráfico de crianças, pois a mulher já vendeu alguns dos filhos que teve”, explicou o policial.


A população estava mobilizada na esperança de encontrar Kamyla com vida Desde terça-feira passada foram espalhados cartazes com fotos pedindo informações sobre o paradeiro da criança, colados em postes, muros e vidros de carrosAté as letras em alvenaria com o nome da cidade, na entrada do município, ganharam um folheto, mostrando a agonia dos moradores, que se solidarizaram com a dor da familia“Nos revezamos de dia e à noite atrás de informações e pistas”, contou um lavrador “Procurávamos a menina todos os dias, até as três da manhã.”


Mobilização

Os jovens também usaram a internet para fazer um apelo e divulgaram fotos da garotaOntem, depois de saber que o corpo havia sido encontrado por um parente, cartazes de luto e faixas pretas se juntaram às manifestações de tristeza e aos pedidos de justiça“Eu participei de um dos grupos de busca com mais 100 pessoas e hoje (ontem) cedo caminhava pelo pasto de uma fazenda quando vi um saco

Abri e vi que era o corpo de uma criançaVoltei correndo para a delegacia, para chamar os policiaisVi a parte das costas, percebi que ela estava sem roupa e machucada”, contou Zélio Vitoriano, primo do avô de Kamyla.

Para o delegado, a mulher suspeita conhecia a rotina de Kamyla, porque frequentava uma boca de fumo perto de onde a menina moravaNa casa da suspeita a polícia encontrou um urso de pelúcia e uma caixa de lápis de corA Justiça decretou a prisão temporária da mulher, detida na cidade de NepomucenoO suspeito prestou depoimento durante a tarde toda em Bom Sucesso e também teve prisão pedidaNa porta da unidade, uma multidão passou o dia em vigília

“Fizemos buscas onde o corpo foi encontrado na terça e na quarta-feiraNa quinta, moradores voltaram às imediações, o que mostra que a vítima foi transportada para lá depois Não havia sangue e Kamyla provavelmente foi morta há mais de três dias”, disse o delegadoEm estágio avançado de decomposição, o corpo seguiu para Belo Horizonte, a fim de ser necropsiado no Instituto Médico Legal (IML)

Ontem, mais de mil pessoas participaram de uma carreata com buzinaço exigindo justiçaIndignados, moradores carregavam cartazes com fotos da menina e faixas de despedidaUm carro de som acompanhava o cortejo, integrado também por muitas criançasA manifestação prosseguiu até as proximidades da delegacia, onde o delegado precisou usar um microfone para acalmar a populaçãoEle também pediu que qualquer pessoa que tivesse informações sobre o crime denunciasse, para ajudar nas investigaçõesÀ noite, na praça central houve um culto ecumênico em memória da criança“Jamais vimos algo tão monstruoso assim”, disse a vendedora Ana dos Reis, de 42 anosO velório deve ocorrer hoje, na Igreja de Nossa Senhora Aparecida.

 

Três perguntas para...

Wander Ferreira Vitoriano,
de 36 anos, pai de Kamyla

 

Como foi enfrentar esses dias de angústia?   
Foram dias muito dolorosos, de muita expectativaDurante o dia, eu rodava a cidade toda atrás dela, ia às cidades vizinhasPassava as noites em claro, às vezes até três horas da manhã em busca de alguma notíciaTodo mundo ajudou, levando fotosEntregaram para caminhoneiros e motoristas da rodovia, nos municípios próximos...

De que forma terminaram as buscas?
Um parente achou um saco, com o grupo de buscas dele, e avisou à polícia Fui correndo para lá, porque também estava ajudando na procura, e vi que ela estava dentro de um saco parecido com saco de batata, jogada numa vala de uma fazendaContaram que estava amarradaEu só pude ver o rosto, a polícia não me deixou chegar muito pertoFoi só para reconhecer minha filha, que estava muito machucadaFoi jogada lá como se fosse lixo.

O que o senhor espera agora?
JustiçaQuero que paguem pelo mal que fizeram.