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Estado de Minas

Assassinato de criança deixa Bom Sucesso dividida entre o horror e a revolta

Termina de forma trágica busca pela menina Kamyla, de 5 anos, desaparecida havia 6 dias. Depois que corpo foi encontrado em pasto, população indignada ameaçou linchar suspeito


postado em 23/10/2012 06:00 / atualizado em 23/10/2012 06:48

Cartazes de luto e faixas pretas se juntaram às manifestações de tristeza pela morte de Kamyla(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Cartazes de luto e faixas pretas se juntaram às manifestações de tristeza pela morte de Kamyla (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)


Bom Sucesso – Depois de seis dias de busca incessante pela menina Kamyla Grazzyele Santos Vitoriano, de 5 anos, acabaram nessa segunda-feira de forma trágica as esperanças de achá-la com vida. O corpo da garota foi encontrado em um pasto em Bom Sucesso, no Centro-Oeste de Minas, a 206 quilômetros de Belo Horizonte. Kamyla estava desaparecida desde a tarde de terca-feira passada, quando foi sequestrada a 20 metros de sua casa, na Rua Três Pontas, Bairro Palmeiras. A polícia mantém um casal preso como suspeito, sendo que o homem tem passagem policial por envolvimento com menores. O crime bárbaro chocou a cidade pacata, de 18 mil habitantes, e o delegado precisou pedir reforco à PM da vizinha Lavras, pois moradores tentaram invadir a delegacia para linchar o suspeito.

O corpo de Kamyla foi encontrado por volta das 8h, dentro de um saco de ração amarrado com fios, à beira de um córrego na zona rural, na localidade conhecida como Escambui. Estava despida e muito machucada, com perfurações no peito, pescoço e na cabeça, supostamente provocadas por uma faca. As roupas estavam em um outro saco. “Foi jogada lá como se fosse lixo”, revoltou-se o pai, o pintor Wander Ferreira Vitoriano, de 36 anos, que acompanhava as buscas desde o dia do desaparecimento.


Segundo o delegado Emílio de Oliveira e Silva, que não divulgou os nome dos detidos por segurança, há fortes indícios de que o casal preso tenha participado do sequestro e da morte da menina. A suspeita é uma mulher de 25 anos, que está grávida e é viciada em crack. Presa na quinta-feira, de acordo com as investigações, ela é mãe de cinco filhos e já teria vendido algumas das crianças – o que pode indicar, segundo o delegado, uma motivação para o crime. O amante dela, morador de Lavras, tem 40 anos e é suspeito de ter abusado sexualmente de Kamyla. O delegado já sabe que ele tem ficha criminal, no estado da Bahia, por abuso de menores.

“Ainda precisamos saber como foi o rapto, quanto tempo ela ficou viva, qual a motivação e quem cometeu essa atrocidade”, disse o delegado. “Há fortes indícios de que eles participaram, mas a mulher nega tudo e o amante dela, em depoimento, entrou em contradição. A suspeita é de que o crime tenha tido conotação sexual. Ele já tem um histórico de pedofilia, com passagem pela polícia pelo crime de sedução de menores, mas pode ter também relação com tráfico de crianças, pois a mulher já vendeu alguns dos filhos que teve”, explicou o policial.


A população estava mobilizada na esperança de encontrar Kamyla com vida. Desde terça-feira passada foram espalhados cartazes com fotos pedindo informações sobre o paradeiro da criança, colados em postes, muros e vidros de carros. Até as letras em alvenaria com o nome da cidade, na entrada do município, ganharam um folheto, mostrando a agonia dos moradores, que se solidarizaram com a dor da familia. “Nos revezamos de dia e à noite atrás de informações e pistas”, contou um lavrador. “Procurávamos a menina todos os dias, até as três da manhã.”


Mobilização

Os jovens também usaram a internet para fazer um apelo e divulgaram fotos da garota. Ontem, depois de saber que o corpo havia sido encontrado por um parente, cartazes de luto e faixas pretas se juntaram às manifestações de tristeza e aos pedidos de justiça. “Eu participei de um dos grupos de busca com mais 100 pessoas e hoje (ontem) cedo caminhava pelo pasto de uma fazenda quando vi um saco. Abri e vi que era o corpo de uma criança. Voltei correndo para a delegacia, para chamar os policiais. Vi a parte das costas, percebi que ela estava sem roupa e machucada”, contou Zélio Vitoriano, primo do avô de Kamyla.

Para o delegado, a mulher suspeita conhecia a rotina de Kamyla, porque frequentava uma boca de fumo perto de onde a menina morava. Na casa da suspeita a polícia encontrou um urso de pelúcia e uma caixa de lápis de cor. A Justiça decretou a prisão temporária da mulher, detida na cidade de Nepomuceno. O suspeito prestou depoimento durante a tarde toda em Bom Sucesso e também teve prisão pedida. Na porta da unidade, uma multidão passou o dia em vigília.

“Fizemos buscas onde o corpo foi encontrado na terça e na quarta-feira. Na quinta, moradores voltaram às imediações, o que mostra que a vítima foi transportada para lá depois. Não havia sangue e Kamyla provavelmente foi morta há mais de três dias”, disse o delegado. Em estágio avançado de decomposição, o corpo seguiu para Belo Horizonte, a fim de ser necropsiado no Instituto Médico Legal (IML).

Ontem, mais de mil pessoas participaram de uma carreata com buzinaço exigindo justiça. Indignados, moradores carregavam cartazes com fotos da menina e faixas de despedida. Um carro de som acompanhava o cortejo, integrado também por muitas crianças. A manifestação prosseguiu até as proximidades da delegacia, onde o delegado precisou usar um microfone para acalmar a população. Ele também pediu que qualquer pessoa que tivesse informações sobre o crime denunciasse, para ajudar nas investigações. À noite, na praça central houve um culto ecumênico em memória da criança. “Jamais vimos algo tão monstruoso assim”, disse a vendedora Ana dos Reis, de 42 anos. O velório deve ocorrer hoje, na Igreja de Nossa Senhora Aparecida.

 

Três perguntas para...

Wander Ferreira Vitoriano,
de 36 anos, pai de Kamyla

 

Como foi enfrentar esses dias de angústia?   
Foram dias muito dolorosos, de muita expectativa. Durante o dia, eu rodava a cidade toda atrás dela, ia às cidades vizinhas. Passava as noites em claro, às vezes até três horas da manhã em busca de alguma notícia. Todo mundo ajudou, levando fotos. Entregaram para caminhoneiros e motoristas da rodovia, nos municípios próximos...

De que forma terminaram as buscas?
Um parente achou um saco, com o grupo de buscas dele, e avisou à polícia. Fui correndo para lá, porque também estava ajudando na procura, e vi que ela estava dentro de um saco parecido com saco de batata, jogada numa vala de uma fazenda. Contaram que estava amarrada. Eu só pude ver o rosto, a polícia não me deixou chegar muito perto. Foi só para reconhecer minha filha, que estava muito machucada. Foi jogada lá como se fosse lixo.

O que o senhor espera agora?
Justiça. Quero que paguem pelo mal que fizeram. 


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