Jornal Estado de Minas

Tristeza e dor que não têm fim

Mãe de menina cruelmente assassinada em Bom Sucesso desabafa

Dona de casa manteve acesa a esperança de rever a filha de 5 anos, que ficou desaparecida por quase uma semana, até ser encontrada morta

Paula Sarapu

Wander Ferreira Vitoriano e Delane dos Santos, pais de Kamila, na porta da casa da família tentam assimilar o fim trágico de suas buscas pela filha - Foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press.



O portão aberto indicava que a esperança de ter a filha de volta em casa permaneceu viva por todos esses diasCom a voz mansa, a dona de casa Delane dos Santos, de 36 anos, ainda usava verbos no presente para falar da pequena Kamyla, e agradecia a cada um dos vizinhos e amigos da cidade pelo carinho que recebeu nos dias de angústia, sem notícias da filhaDelane faz força para acreditar que a dor que sente é uma provação divinaLembra que a menina de 5 anos pediu que ela fizesse uma broa antes de sair de casa para chamar um amiguinho da escola, e disse que cinco minutos depois foi até a rua para chamá-la para fazer o dever de casa.

“Foi tão rápido..Ela acabou de comer, colocou o prato dentro da pia e saiu pela porta dos fundosLarguei a limpeza da casa e saí atrás dela pela porta da frenteMas ela já tinha sumido”, contou a mãe“Não ouvi barulho de carro, nem de moto, nem gritaria da minha filhaNão sei como a levaram daqui, mas ninguém da rua viu.”


Delane disse que estava aflita, mas também esperançosaSe agarrou à alegria da caçula para dar forças ao marido, visivelmente mais abaladoA filha mais velha, Karolayne, de 8 anos, está na casa de uma amiga

“Tentei transmitir alegria e tranquilidade para minha família e para minha filha saber que eu estava esperando por ela”, disse“Não sei como será minha vida daqui para frente, mas preciso de tranquilidade para dar força à minha famíliaA dor é muito grande, por isso peço que continuem rezando por mim.”

"Piores que bichos"

A casa de Kamyla virou ponto de peregrinaçãoDelane recebeu todos os que passaram por lá com um abraçoNão quis ouvir nada sobre os suspeitos “Sei que o delegado ainda vai vir falar comigo, para me dar uma resposta, porque ele fez tudo o que podia para encontrar minha filha vivaEu queria não acreditar em tudo isso e tenho pena dessas pessoas, pelo falta de humanidade delasForam piores que bichos, mas eu não tenho raivaVou aceitar como uma provação de Deus.”


Com Alice, a boneca preferida da filha, nos braços, Delane lembrou que Kamyla estava terminando o ano na Escola Municipal Antônio Mourão Guimarães, e que já sabia escrever o nomeReligiosa, a menina participou da festa de sua santa preferida, Nossa Senhora Aparecida, e participou de uma novena

Também comprou sapato novo para a boneca, que enfeitava o quarto rosa que Kamyla dividia com a irmã na casa recém- construída.


“Ela é muito queridaPercebi que já era do mundo pelo jeito que todos acolheram nossa tristeza, para que Kamyla não fosse só mais um caso de criança desaparecida”, disse ela“A cidade inteira se mobilizou e eu não tenho palavras para agradecer a todosSe pudesse, bateria de porta em porta, porque me senti reconfortadaNinguém deixou de procurar por ela por um minuto e eu tinha certeza de que ela iria voltar para casa Deus tem o tempo Dele e eu esperava que Ele pudesse me conceder essa graça, mas pelo menos Ele me devolveu o corpo dela, para que eu possa procurá-la quando tiver saudades.”