No que depender de ativistas e autoridades de Caeté, na Grande BH, a morte violenta de cão sem nome, dono e raça definida na região pode se tornar símbolo nacional de maus-tratos contra animais. A cidade de 40 mil habitantes, a 45 quilômetros da capital, foi palco ontem de encontro que reuniu representantes de 50 ONGs do Brasil, numa força-tarefa para cobrar medidas do poder público pela proteção e educação de respeito aos bichos. Os ativistas cobram ainda empenho da polícia para identificação e punição do agressor, que, segundo investigações preliminares, na noite de 19 de setembro, teria estuprado o animal. Revoltados, particulares oferecem R$ 1,5 mil como recompensa por informações que enquadrem o malfeitor. A partir de hoje, em BH, 15 ônibus vão circular com propaganda e 5 mil panfletos serão espalhados, além de intensa campanha nas redes sociais para sensibilizar a população.
O policial Clemilsson Ferreira Silva Campos, de 32, considera o caso grave e diz que o delegado, Bruno Affonso, de 35, mesmo de férias, acompanha as investigações. “É uma agressão sexual. Uma pessoa capaz de cometer algo assim tem de ser identificada e examinada”, afirma. Jussara de Oliveira e Silva, de 56, presidente da Sociedade Galdina Protetora dos Animais e da Natureza (SGPan), mostra-se estarrecida com a agressão. Liderança pela causa animal em Caeté, Jussara espera que o movimento em torno do “ato de terror”, enfim, conscientize os brasileiros de que nenhum ser vivo pode ser maltratado. “Quem faz isso com um animal é capaz de agredir qualquer um”, ressalta.
A ativista relata dois outros casos de terror contra animais em Caeté. O primeiro, em 2007, no Bairro Bonsucesso, onde dois adolescentes atearam fogo numa cadela que, socorrida, sobreviveu por semana apenas. Ela recebeu o nome de Galdina em homenagem ao índio Galdino, queimado vivo enquanto dormia em um abrigo de ponto de ônibus em Brasília, em 1997. O outro, recente, envolveu sujeito preso em flagrante, enterrando cão vivo, depois de agredi-lo a pauladas em pleno Centro da Cidade. Na última ocorrência, no Bairro Pito Aceso, Jussara, emocionada, conta que, quando soube, por volta das 23h, foi ao local, mas já não era possível fazer mais nada.
Revolta
No Conjunto Hibisco – onde o animal foi encontrado sem vida –, o clima é de dupla indignação: pela morte do cão e pelas conversas de roda, nos últimos dias, em que o residencial é tratado como reduto de violência. Com 200 unidades de 37 metros quadrados, em 25 blocos de oito apartamentos, o Hibisco faz parte do programa Minha Casa Minha Vida e acolhe cerca de 1 mil pessoas, das quais 600 crianças. Pequenos como Nívia, Núbia, Nádia, Eliza e Emmanuel, filhos de Ludmila Santana Vieira Rocha, de 29, brincam com a cadela Preta, integrante da família.
Ludmila está indignada com o drama do cão encontrado morto perto do Bloco 18. A dona de casa, feliz com a casa nova desde maio, não acredita que moradores do Hibisco seriam capazes de tamanha brutalidade. “Isso foi feito fora do conjunto. Só pode. Temos muitas crianças, muitos cachorros aqui e todos são tratados com carinho. Não conheço quem poderia fazer algo assim”. Mostra-se triste com os comentários ruins sobre o residencial. “Não podem ficar falando do Hibisco por aí. É preciso ter responsabilidade para divulgar uma coisa dessa. Somos pobres. Só isso”, diz.
Mães e crianças indignadas
Para Angelina de Lima, de 45, mãe de três filhos, a morte do cachorro é uma decepção. Aponta uma cadelinha simpática, alegre entre as crianças: “Aquela é a Amarela. Dorme todos os dias na minha porta. Quem faz isso com o cachorro só pode ser um psicopata”, considera. Para a diarista, o crime foi cometido fora das linhas do Hibisco. “O corpo do cão pode ter sido trazido para cá”. Diz que a evidência maior de que ninguém no conjunto conhece o agressor é a ausência de pistas mesmo diante da recompensa de R$ 1,5 mil.
No Bloco 18, Patrícia Teixeira Moreira Rodrigues, de 38, está certa de que o cão não foi agredido no local. Com a janela de casa que dá para o local onde o cão foi encontrado, a dona de casa foi quem ligou para a zoonose e pediu orientação. “Disseram-me que não podiam fazer nada porque ele já estava morto e falaram para a gente levar o corpo para o lado de fora do condomínio”, conta. Patrícia é outra que considera irresponsabilidade divulgar o Hibisco como “lugar perigoso, de favelados”. “Até então não sabia dessa polêmica. Isso só pode ser para difamar o nosso condomínio. O cachorro não ficou chorando 12 horas como estão dizendo. Eu teria escutado. Olhe ali a minha janela”, indica.
A militante da proteção animal, Patrícia Dutra, de 43, reconhece a falta de laudo oficial para as investigações. No entanto, está convencida pela apuração da polícia e pela avaliação das fotografias feitas pela ONG Galdina de que se trata de ato brutal contra o bicho. Lamenta que os moradores do Bairro Pito Aceso se sintam ofendidos, discriminados. “O ocorrido foi em Caeté. O cão foi encontrado no Hibisco, mas poderia ter sido em qualquer outro ponto. Infelizmente, existem pessoas ruins em todas as regiões. Não se trata de nada contra a boa gente trabalhadora do residencial”, afirma.
Luta contra o preconceito
“Porque as pessoas também não falam da festa linda que fizemos no Dia das Crianças?”, indaga Danielle Cristina de Matos, de 32, síndica do Hibisco, mãe de Kaic Luís, de 10, e cuidadora do vira-lata Hathy, de 1. A líder comunitária mostra-se tão entristecida com o ocorrido quanto os ativistas reunidos com o prefeito eleito de Caeté, Zezé Oliveira. “Isso ficou muito feio para gente. Mas lá não é o que estão dizendo. Eu morava no Bairro Pedra Branca e a polícia estava sempre lá… ninguém dizia nada. Agora, basta aparecer uma viatura no Hibisco para todo mundo discriminar”, reclama.
Para a vendedora o malfeitor do cão não é morador do residencial. “Por R$ 1,5 mil, mais do que o salário da maioria das famílias daqui, se fosse morador já teria sido descoberto. Não tenho dúvida”, ressalta. A vendedora não quer que a imagem do residencial fique manchada, “justamente agora, quando as amizades estão sendo construídas”. Para ela, os moradores estão aprendendo com boa vontade a viver bem em comunidade. Volta a falar na festa promovida dia 12, das 10h às 22h, para mais de 1 mil pessoas.
“O que se viu foi apenas a alegria das crianças. Muitas jamais tinham participado de um encontro assim. São moradores que vieram de bairros e condições muito diferentes. Temos muitas crianças carentes e o preconceito vindo da difamação não ajuda em nada”, avalia. Danielle enumera com emoção a quantidade de boas famílias ali, em busca de uma vida melhor.
O policial Clemilsson Ferreira Silva Campos, de 32, considera o caso grave e diz que o delegado, Bruno Affonso, de 35, mesmo de férias, acompanha as investigações. “É uma agressão sexual. Uma pessoa capaz de cometer algo assim tem de ser identificada e examinada”, afirma. Jussara de Oliveira e Silva, de 56, presidente da Sociedade Galdina Protetora dos Animais e da Natureza (SGPan), mostra-se estarrecida com a agressão. Liderança pela causa animal em Caeté, Jussara espera que o movimento em torno do “ato de terror”, enfim, conscientize os brasileiros de que nenhum ser vivo pode ser maltratado. “Quem faz isso com um animal é capaz de agredir qualquer um”, ressalta.
A ativista relata dois outros casos de terror contra animais em Caeté. O primeiro, em 2007, no Bairro Bonsucesso, onde dois adolescentes atearam fogo numa cadela que, socorrida, sobreviveu por semana apenas. Ela recebeu o nome de Galdina em homenagem ao índio Galdino, queimado vivo enquanto dormia em um abrigo de ponto de ônibus em Brasília, em 1997. O outro, recente, envolveu sujeito preso em flagrante, enterrando cão vivo, depois de agredi-lo a pauladas em pleno Centro da Cidade. Na última ocorrência, no Bairro Pito Aceso, Jussara, emocionada, conta que, quando soube, por volta das 23h, foi ao local, mas já não era possível fazer mais nada.
Revolta
No Conjunto Hibisco – onde o animal foi encontrado sem vida –, o clima é de dupla indignação: pela morte do cão e pelas conversas de roda, nos últimos dias, em que o residencial é tratado como reduto de violência. Com 200 unidades de 37 metros quadrados, em 25 blocos de oito apartamentos, o Hibisco faz parte do programa Minha Casa Minha Vida e acolhe cerca de 1 mil pessoas, das quais 600 crianças. Pequenos como Nívia, Núbia, Nádia, Eliza e Emmanuel, filhos de Ludmila Santana Vieira Rocha, de 29, brincam com a cadela Preta, integrante da família.
Ludmila está indignada com o drama do cão encontrado morto perto do Bloco 18. A dona de casa, feliz com a casa nova desde maio, não acredita que moradores do Hibisco seriam capazes de tamanha brutalidade. “Isso foi feito fora do conjunto. Só pode. Temos muitas crianças, muitos cachorros aqui e todos são tratados com carinho. Não conheço quem poderia fazer algo assim”. Mostra-se triste com os comentários ruins sobre o residencial. “Não podem ficar falando do Hibisco por aí. É preciso ter responsabilidade para divulgar uma coisa dessa. Somos pobres. Só isso”, diz.
Mães e crianças indignadas
Para Angelina de Lima, de 45, mãe de três filhos, a morte do cachorro é uma decepção. Aponta uma cadelinha simpática, alegre entre as crianças: “Aquela é a Amarela. Dorme todos os dias na minha porta. Quem faz isso com o cachorro só pode ser um psicopata”, considera. Para a diarista, o crime foi cometido fora das linhas do Hibisco. “O corpo do cão pode ter sido trazido para cá”. Diz que a evidência maior de que ninguém no conjunto conhece o agressor é a ausência de pistas mesmo diante da recompensa de R$ 1,5 mil.
No Bloco 18, Patrícia Teixeira Moreira Rodrigues, de 38, está certa de que o cão não foi agredido no local. Com a janela de casa que dá para o local onde o cão foi encontrado, a dona de casa foi quem ligou para a zoonose e pediu orientação. “Disseram-me que não podiam fazer nada porque ele já estava morto e falaram para a gente levar o corpo para o lado de fora do condomínio”, conta. Patrícia é outra que considera irresponsabilidade divulgar o Hibisco como “lugar perigoso, de favelados”. “Até então não sabia dessa polêmica. Isso só pode ser para difamar o nosso condomínio. O cachorro não ficou chorando 12 horas como estão dizendo. Eu teria escutado. Olhe ali a minha janela”, indica.
A militante da proteção animal, Patrícia Dutra, de 43, reconhece a falta de laudo oficial para as investigações. No entanto, está convencida pela apuração da polícia e pela avaliação das fotografias feitas pela ONG Galdina de que se trata de ato brutal contra o bicho. Lamenta que os moradores do Bairro Pito Aceso se sintam ofendidos, discriminados. “O ocorrido foi em Caeté. O cão foi encontrado no Hibisco, mas poderia ter sido em qualquer outro ponto. Infelizmente, existem pessoas ruins em todas as regiões. Não se trata de nada contra a boa gente trabalhadora do residencial”, afirma.
Luta contra o preconceito
“Porque as pessoas também não falam da festa linda que fizemos no Dia das Crianças?”, indaga Danielle Cristina de Matos, de 32, síndica do Hibisco, mãe de Kaic Luís, de 10, e cuidadora do vira-lata Hathy, de 1. A líder comunitária mostra-se tão entristecida com o ocorrido quanto os ativistas reunidos com o prefeito eleito de Caeté, Zezé Oliveira. “Isso ficou muito feio para gente. Mas lá não é o que estão dizendo. Eu morava no Bairro Pedra Branca e a polícia estava sempre lá… ninguém dizia nada. Agora, basta aparecer uma viatura no Hibisco para todo mundo discriminar”, reclama.
Para a vendedora o malfeitor do cão não é morador do residencial. “Por R$ 1,5 mil, mais do que o salário da maioria das famílias daqui, se fosse morador já teria sido descoberto. Não tenho dúvida”, ressalta. A vendedora não quer que a imagem do residencial fique manchada, “justamente agora, quando as amizades estão sendo construídas”. Para ela, os moradores estão aprendendo com boa vontade a viver bem em comunidade. Volta a falar na festa promovida dia 12, das 10h às 22h, para mais de 1 mil pessoas.
“O que se viu foi apenas a alegria das crianças. Muitas jamais tinham participado de um encontro assim. São moradores que vieram de bairros e condições muito diferentes. Temos muitas crianças carentes e o preconceito vindo da difamação não ajuda em nada”, avalia. Danielle enumera com emoção a quantidade de boas famílias ali, em busca de uma vida melhor.