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Estado de Minas

Testemunha denuncia omissão do Samu e da PM na morte de atriz assassinada em BH

Prisão de acusados de matar atriz atenua dor da família, mas não alivia a revolta


postado em 26/10/2012 06:00 / atualizado em 26/10/2012 07:48

Luis Henrique Paulino e Gleisson Martins assumiram o crime(foto: Jair Amaral/em/D.a press)
Luis Henrique Paulino e Gleisson Martins assumiram o crime (foto: Jair Amaral/em/D.a press)
“Quando vimos os dois no dia do reconhecimento, não tivemos dúvida de que foram eles. Na hora veio toda a carga de emoção e tristeza daquela noite.” A lembrança a que se refere a professora de francês Alexandra Montes, de 32 anos, cunhada da artista plástica e atriz Cecília Bizzotto, de 32 anos – morta durante assalto na casa onde morava com os pais, no Bairro Santa Lúcia, Centro-Sul de Belo Horizonte –, guarda um misto de alívio por ver dois dos três acusados detidos e revolta pelo atendimento que diz ter recebido após a tragédia.

Presos quarta-feira, os suspeitos Gleisson Martins Horário, de 28 anos – com longa ficha policial e que ganhou direito a liberdade condicional em 2011 –, e Luis Henrique da Silva Paulino, de 20, confessaram o crime e foram apresentados ontem pela Polícia Civil, 18 dias depois do crime em que Alexandra e namorado dela, Marcelo Bizzotto, irmão de Cecília, também foram feitos reféns. A polícia diz estar na pista do terceiro acusado e promete a prisão para breve. Alexandra elogia o trabalho investigativo, mas não esquece o horror daquele domingo. Além da morte da cunhada, a professora afirma que o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ignorou o primeiro pedido de socorro e sustenta que ela e o namorado não foram atendidos pelo 190 da Polícia Militar, nem pessoalmente, na sede do 22º Batalhão da PM, na Barragem Santa Lúcia.

“Depois que os ladrões fugiram, chamamos pela Cecília, que estava trancada no quarto, já que o assaltante pulou a janela depois de atirar. Como ela não respondeu, saímos da casa de carro para buscar ajuda”, lembra Alexandra. A cunhada de Cecília conta que, do celular emprestado por um taxista na rua, ela e o namorado ligaram três vezes para o 190, sem sucesso. “Diante disso, fomos até o 22º Batalhão e as luzes estavam todas apagadas. Gritei desesperadamente no portão, mas ninguém atendeu”, conta.

Da unidade policial, os dois foram buscar socorro na 1ª Delegacia de Polícia Civil, na Rua Carangola, no Bairro Santo Antônio. Do local, ligaram para o Samu mas, conforme a professora, o pedido de socorro foi negado por falta de um telefone para contato. “Eu disse à atendente que havíamos sido vítimas de um assalto, que estávamos sem celular e sem poder voltar para casa, pois os bandidos estavam com a chave. Ainda assim, ela não permitiu que a ambulância fosse enviada”, revolta-se Alexandra. Somente com a intervenção de um policial civil a PM foi, enfim, avisada e deslocou-se para a casa.

Sensação de desamparo

Após as tentativas frustadas de pedidos de socorro à polícia e ao Samu, a cunhada de Cecília Bizzotto, a professora de francês Alexandra Montes, de 32 anos, diz ter ficado o sentimento de desamparo quando o assunto é segurança e saúde em Belo Horizonte. Ela critica o atendimento do Samu, dizendo que os funcionários que receberam a ligação dela no dia do crime são incompetentes e despreparados para a função.

Alexandra afirma que, ao ligar para o serviço de urgência, a orientação que recebeu da atendente foi para que ela e o namorado voltassem para a casa onde o crime ocorreu, para checar se Cecília estava ferida. “São totalmente incompetentes. Explicamos a situação, que também éramos vítimas, mas não teve jeito. Se a Cecília ainda estivesse viva, perdendo sangue, poderia ter morrido naquela hora”, critica. Segundo a cunhada da atriz, o telefone chegou a ser passado ainda para outra pessoa, desta vez um homem, que deu a mesma instrução e em seguida desligou.

O contato com o Samu teria sido feito por Alexandra da 1ª Delegacia de Polícia Civil, no Bairro Santo Antônio, para onde ela e o namorado Marcelo, irmão de Cecília, seguiram depois de tentativas frustadas de chamar a Polícia Militar. Foi nesse local que um policial civil conseguiu falar com a PM. “Aí resolvemos voltar para a casa da Cecília. Estávamos extremamente nervosos e o Marcelo disse que tinha que salvar a vida da irmã dele. Quando chegamos, encontramos uma viatura da PM na porta. Em 10 minutos chegou toda a polícia de Belo Horizonte e também o Samu”, conta.

Sem registros

As denúncias da vítima são negadas pelo Samu e pela Polícia Militar. Por meio de nota, o serviço de emergência informou não ter identificado nenhuma ligação na qual o médico tenha negado atendimento por falta de contato de quem fez a chamada. Conforme o documento, o órgão recebeu uma única ligação para o endereço do Bairro Santa Lúcia, à 1h34 do dia 7 de outubro. “A pessoa que fez a ligação se identificou como policial civil e relatou que uma pessoa estava ferida em uma casa próxima ao local em que ele estava. A médica reguladora do Samu conversou com o policial e empenhou a Unidade de Suporte Avançado 4 para o endereço informado”, diz a nota.

Na versão da polícia, havia militares de plantão no 22º Batalhão na noite do crime, tanto na guarita de entrada, como no serviço de vigilância das dependências do prédio e na sala de operações, onde é feito o controle de ocorrências. Sobre as ligações que não teriam sido atendidas pelo 190, a PM reforça que todas as informações relativas às chamadas telefônicas e demais dados da ocorrência foram repassados à Polícia Civil para a instauração de inquérito. Sob argumento de que a apuração é sigilosa, a PM informou não poder divulgar esses dados.


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