Ninguém parecia preocupado com o fato de não haver representantes de outros países — ou mesmo de outros estados —entre os participantes. Eles só queriam saber de pegar impulso no topo da ladeira e descê-la com rapidez. Alguns, lá embaixo, ainda giravam o carrinho sobre o asfalto. Na tarde de ontem, Belo Horizonte sediou a primeira edição do Mundialito de Rolimã do Abacate. Apesar do título pomposo, foi apenas um despretensioso campeonato idealizado por um pequeno centro cultural chamado Quilombo do Abacate — daí a fruta do nome.
A pista improvisada ocupou dois quarteirões da Avenida Magi Salomon, entre as ruas Lagoa da Prata e Paracaíma, no Bairro Salgado Filho, Região Oeste de BH. Nas bordas, ela era demarcada por caixas de papelão e pneus, que serviam para conter “pilotos” desorientados. Segundo os organizadores, 40 competidores se inscreveram, de forma gratuita. Alguns correram nas três categorias. Na de velocidade, o que importava era alcançar primeiro a linha de chegada. Na de manobra, o concorrente descia sozinho e, para impressionar os jurados, rodopiava e outros tipos de firula. Na categoria de estilo, ganhava quem se apresentasse com mais criatividade e tivesse o carrinho, digamos, mais bonito, charmoso, engraçado — os critérios não eram muito claros.
Os primeiros colocados receberam troféus. As provas começaram por volta das 15h, sob sol forte. No microfone, o locutor anunciava os competidores. Para proteger a cabeça, alguns usavam capacetes de bicicleta ou de moto, mas havia quem descesse a ladeira sem proteção alguma – felizmente, algumas pessoas só sofreram arranhões. Havia carrinhos de várias cores, alguns mais sofisticados que outros. Uns com rodas de aço e outros de borracha. Alguns com bancos estofados, enquanto o assento da maior parte era de madeira mesmo. Em um deles, o freio era formado por alavancas pressionadas com a mão, como os de bicicleta. Em quase todos, porém, parava-se à maneira antiga, pressionando os pés contra o chão.
Técnicas Morador da vizinhança, o garoto Wesley Gontijio, de 11 anos, competiu pela equipe Quebra Tudo. Ele começou a andar de rolimã há uns seis anos, mas estava parado há mais de um. “Deu para ver que eu tava meio enferrujado. Na descida, fui frear, perdi o controle e acabei batendo na calçada”, contou. Mesmo assim, ele não desanimou. Ensinou que para ganhar velocidade deve-se pegar impulso com as mãos no chão e variar de um lado para o outro o eixo dianteiro das rodas.
Engana-se, porém, quem acha que havia apenas crianças entre os competidores. O professor Dênis Pimenta, de 51 anos, era o veterano. De vez em quando, ele se reúne com uma turma para descer ladeiras no Bairro Santa Terezinha. “Comecei fazendo carrinhos para meu filho, mas ele cresceu e não quis mais. Aí, peguei para mim e gostei”, disse. André de Menezes, de 24 anos, se inscreveu em três categorias. Ele contou que não brincava de rolimã havia 15 anos. “O carrinho estava esquecido em um quartinho. É algo que não tem idade”.