As ruas do Bairro Nossa Senhora do Rosário, em Ouro Preto, amanheceram de luto
Segundo relatos de PMs, os companheiros de casa de Daniel o encontraram sem respirar por volta das 11h e imediatamente chamaram a políciaO Samu também foi acionado, mas o estudante já estava morto quando a equipe chegouDe acordo com a PM, colegas do rapaz contaram que ele bebeu cerveja, uísque e energético durante uma festa na república que teria sido organizada para comemorar o fato de Daniel ter deixado de ser “bicho”, maneira como os estudantes se referem a calourosNascido em Guaranésia, no Sul de Minas, ele conseguiu ser aprovado este ano na Ufop depois de quatro tentativas (leia perfil).
Ainda segundo a PM, Daniel passou mal e foi posto para dormir por colegasNa manhã seguinte, os companheiros notaram que ela não respirava“Eles (os colegas) informaram que colocaram Daniel para dormir e também foram para suas camasNo dia seguinte, quando acordaram, perceberam que ele não respondia e chamaram o resgate e a PM”, disse o sargento Alexandro Ferreira da Silva
“Um deles me disse que ele (Daniel) chegou por volta das 23h de sexta-feira, já passando malEle abriu a porta do quarto e foi dormirOutro amigo falou que, por volta das 2h30 de sábado, passou lá e ele estava roncando, dormindo de bruços, com sinal de que tinha vomitado”, afirmou João Batista Afonso, de 47 anos, tio de Daniel que esteve no enterroSegundo Felipe Laudade, de 32 anos, amigo do estudante, ele ouviu de companheiros do estudante de artes cênicas que ele havia estado em outra festa, com os colegas de sala.
O corpo de Daniel foi levado para Itabirito, antes de seguir para GuaranésiaSegundo informações da Polícia Civil de Ouro Preto, o médico-legista constatou indícios de que o aluno da Ufop tenha se asfixiado com o próprio vômitoO laudo final, porém, ficará pronto em 30 diasO delegado de Ouro Preto vai aguardar o resultado do exame de necropsia para avaliar se abre inquérito para apurar as circunstâncias da morte do estudante.
Álcool em excesso
A morte de Daniel chocou familiares do aluno e voltou a chamar a atenção para o consumo de álcool entre estudantes na cidadeNo ano passado, pesquisa da Associação Nacional de Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) mostrou que os alunos da Ufop são os que mais admitem beber periodicamente ou sempre entre universitários do país (leia mais na página 20)Para parentes de Daniel, o rapaz passou a beber mais depois que foi morar em Ouro PretoO tio do estudante considera que os colegas dele poderiam ter tido mais atenção
Nas repúblicas de Ouro Preto, ninguém quis se manifestar“Não vamos falar nadaEstamos de lutoFoi uma fatalidade”, defendeu uma moradora de repúblicaA Rua Doutor Cláudio Lima, onde fica a república Nóis é Nóis, estava vaziaUm ônibus cedido pela Ufop levou os moradores até Guaranésia para o enterroNa entrada do imóvel, ainda havia sinais da festa da última sexta-feira, com caixas de cerveja e marcas de sujeira.
Daniel Macário de Melo Júnior, conhecido pelos apelidos de Juninho ou Bode, tinha 27 anosEm sua cidade natal, Guaranésia, no Sul de Minas, participava de um grupo de teatro amador e cantava em uma banda de forróTambém dava aulas gratuitas de teatro para crianças Morava desde o início do ano em Ouro Preto, onde cursava o segundo período de artes cênicasEra o terceiro de quatro irmãosSeria o primeiro da família a obter um diploma universitário
ENTREVISTA
Daniel Macário de Melo, aposentado, pai do estudante
‘Espero que sirva de lição’’
Em entrevista ao Estado de Minas, a voz gagueja e treme ao telefoneO aposentado Daniel Macário de Melo, de 60 anos, tenta se conter, mas não esconde a saudade do filho, a quem chamava de JuninhoE revela que ele e a mulher, Enedina Afonso de Mello, de 54, sentem-se culpados pela morte do terceiro da prole de quatro irmãos.
Como era Daniel?
Ele era muito alegre, animadoGostava de imitar os outros, de brincar, contar piadaEra muito queridoJá sepultei meu pai, minha mãe, um irmão mais velho..Mas filho parece que dói maisAgora, um tem de dar força para o outroPrecisamos nos fortalecer e tocar o barco.
A notícia de que ele teria bebido demais antes de morrer surpreendeu a família?
Aqui, de vez em quando ele exagerava, mas a gente estava por perto pra cuidar deleDeu pra ver que os amigos (de Ouro Preto) são atenciososAcho que eu e Enedina devíamos ter alertado para que ficassem de olho quando ele bebesse muitoNós falhamos nissoSe a mãe estivesse lá, teria dado um jeito de levá-lo ao banheiro, pra ele refrescar e melhorar um pouco Espero que o que aconteceu sirva de lição para os jovens, para maneirarem um pouco.
Colaboraram Paula Takahashi e Tiago de Holanda