Jornal Estado de Minas

Seminário sobre arquitetura do futuro em Belo Horizonte debate sustentabilidade

Equilíbrio é a melhor atitude para conciliar atividade econômica, preservação ambiental e projetos arquitetônicos. No mundo contemporâneo, a palavra ganha a força da sustentabilidade. “Quando um empreendedor do setor de mineração vai explorar uma área, deve conjugar dois verbos fundamentais: retirar e devolver. Se vai explorar o terreno, precisa pensar em entregá-lo totalmente recuperado”, afirma o arquiteto italiano e professor da Faculdade de Gênova Marco Casamonti. Na manhã desta quarta-feira (veja a programação), ele vai falar, em Belo Horizonte, sobre projetos de preservação e recuperação do meio ambiente, no seminário Arq.Futuro Belo Horizonte 2012 – A construção da paisagem, que reúne arquitetos e urbanistas brasileiros e internacionais na Escola Guignard, na Região Centro-Sul.



Segundo Casamonti, é possível desenvolver projetos em áreas degradadas por atividades econômicas ou desocupadas há muito tempo, evitar conflitos e integrar natureza e arquitetura. Ele citou o projeto que o Studio Archea, de Florença, do qual é sócio-fundador, fez para a vinícola Antinori, dona de uma área de 60 mil metros quadrados, em San Casciano Val di Pesa, na Itália. “Tivemos que revolver cerca de 400 mil metros cúbicos de terra, num território de montanhas. Mas conseguimos deixar o terreno como estava, com a sua geografia original. Fizemos túneis subterrâneos e seguimos a filosofia de ‘tirar e devolver’, sem impactos ambientais”, explicou o arquiteto italiano. “Senso de economia verde, responsabilidade e ética também fazem parte do equilíbrio. E os avanços da tecnologia se tornaram fortes aliados nessa história.”

Na manhã dessa terça-feira, ao falar no Arq.Futuro sobre A relação da mineração e do patrimônio histórico em Minas Gerais, o professor da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Flávio Carsalade, destacou vários exemplos de áreas transformadas para o lazer, a cultura e a arte. “Em BH, há o Parque das Mangabeiras, antes um terreno de mineração aos pés da Serra do Curral. E temos outras áreas que podem ser aproveitadas, entre elas a Minas de Águas Claras, que foi descomissionada”, ressaltou.

A futura implantação do Geopark, no Quadrilátero Ferrífero, com chancela da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), será muito bem-vinda, acredita Carsalade, pois se trata de uma “forma sustentável” para a região que engloba vários municípios no entorno de BH. “Mas para conciliar exploração econômica, preservação ambiental e conservação do patrimônio cultural são necessárias alternativas, que passam pela democratização das decisões e informações entre governo e mineradoras; integração com planejamento urbano e regional, por meio de plano diretor; estudos e monitoramento. Para vingar, no entanto, os projetos devem ser discutidos com as comunidades”, observa.



O professor Carsalade prefere falar em “mineiração” (com a letra i). “Minas tem que tomar as rédeas da discussão sobre a mineração, principalmente sobre as áreas remanescentes. Não podemos pensar nesses locais apenas como terrenos disponíveis para condomínios. Há alternativas. BH tem carência de áreas culturais e muitos lugares, até pedreiras, como ocorreu em Curitiba (PR), podem ser usados com fins culturais”, afirmou. Ele destacou ainda o aproveitamento das minas de carvão, em Pas-de-Calais, na França, que, depois do tratamento adequado, se tornaram patrimônio da humanidade, com reconhecimento da Unesco. A pesquisadora do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da UFMG Fabiana Borges lembrou que a mineração faz parte da história de Minas, sendo importante criar saídas para áreas degradadas ou desocupadas, desde que as comunidades possam participar ativamente do processo.

Caminhos

Considerado um dos principais nomes da arquitetura no mundo, o uruguaio Rafael Viñoly, radicado há mais de 30 anos em Nova York (EUA), se disse surpreso com BH, onde esteve em 1954. “É outra cidade”, afirmou ao contemplar a capital do alto do Bairro Mangabeiras. Viñoly também põe fé na “sustentabilidade”, mas lembra que o assunto é bem complexo. “Tem que haver uma combinação de ações dos capitais privado e público, regulamentação e interesse da população”, disse o arquiteto uruguaio. Ele lembrou ainda que, dentro da “nova geografia”, tema de hoje do seminário, o arquiteto tem papel de relevância para a busca de soluções. “Mais do que ser um arquiteto, o profissional deve ser também intelectual, livre. E não trabalhar sob ingerência das autoridades.”

À tarde, na palestra A paisagem arquitetônica de Minas Gerais, a ex-presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) Maria Elisa Costa, que coordena o acervo da Casa Lúcio Costa, no Rio de Janeiro (RJ), destacou que “Minas é moderna de nascença. Desde os primeiros tempos do Ciclo do Ouro, depois com o barroco, Minas era assim”. Para ela, se fosse montado um quebra-cabeças sobre o Brasil, o estado teria que ser a peça central, a agrupar todas as outras. Há uma cumplicidade espontânea entre Minas e o Rio, e o padrão da arquitetura daqui é melhor do que o de lá”, afirmou Maria Elisa. O Arq. Futuro – Belo Horizonte 2012 é organizado pelo grupo Bei%2b Branded Content, dos editores Marisa Moreira Salles, mineira radicada em São Paulo, e Tomas Alvim.



Serviço
Informações detalhadas sobre o seminário estão no site www.arqfuturo.com.br. A Escola Guignard fica na Rua Ascânio Burlamaque, 540 (entrada pela Rua Odilon Braga), no Bairro Mangabeiras, na Região Centro-Sul de BH

PROGRAMAÇÃO
» Hoje – Tema: novas geografias
10h às 10h40 – Projetos de preservação e recuperação do meio ambiente: Vinícola Antinori – palestra do professor da Faculdade de Gênova, Itália, Marco Casamonti, do Studio Archea, sediado em Florença
11h às 11h40 – Inhotim – palestra do professor da UFMG e integrante do escritório Arquitetos Associados Carlos Alberto Maciel
11h40 às 12h10 – Conversa entre Marco Casamonti, Carlos Alberto Maciel, André Corrêa do Lago e Flávio Carsalade
15h às 15h40 –Preservação e transformações urbanas, reutilização de áreas industriais e projetos culturais – palestra do arquiteto japonês Shohei Shigematsu, sócio do escritório OMA, em Nova York (EUA)
16h às 16h40 –Palestra do arquiteto mineiro Gustavo Penna, do escritório Gustavo Penna Arquiteto & Associados
16h40 às 17h10 –Conversa entre Shohei Shigematsu, Gustavo Penna, André Corrêa do Lago e Karen Stein