A BHTrans pode ou não multar? Independentemente da decisão, especialistas acreditam que a proibição foi um divisor na gestão do trânsito de Belo Horizonte, e avaliam que a empresa ficou perdida diante da indefinição de suas funções
De acordo com o economista João Luiz da Silva Dias, segundo presidente da empresa municipal, a BHTrans sofreu retrocessos ao longo do tempo e um deles foi o fato de ter perdido o poder de autuação“Acho que a gestão do transporte público também está prejudicadaAs empresas de ônibus estão cada vez mais no controleÉ preciso resgatar essa competência, pois responsabilidade não se delegaPode-se terceirizar uma série de serviços, mas o planejamento e a gestão têm que ser feitos pela BHTransNão serão a guarda ou a PM que vão fazer”, afirmou.
Já para Ricardo Mendanha Ladeira, engenheiro e último presidente da empresa municipal antes da atual gestão, uma saída seria transformar a BHTrans em uma autarquia“É fundamental que haja uma estrutura própria de autuação, mas agora isso pode ser feito em conjunto com a PM ou grupo específico da Guarda Municipal
Osias Baptista explica que a BHTrans foi criada como sociedade de economia mista porque na época se pretendia obter a agilidade jurídica e legal de uma empresa privada“A intenção era não ficar preso ao regime público, mas não adiantou, porque ela assumiu todas as dificuldadesUma forma seria transformá-la em uma autarquia da administração direta, dentro de uma secretariaAssim não haveria espaço para questionamentos”, afirmou.
Capitais
No Brasil, segundo especialistas, Belo Horizonte é a única capital onde a empresa que gerencia o tráfego é impedida de multarDe acordo com o presidente da Associação Nacional de Transporte Público (ANTP), Ailton Brasiliense Pires, em São Paulo os agentes com poder de autuar são lotados na Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), que também é uma empresa de economia mista, e as autuações são decididas pelo Departamento de Operações do Sistema Viário, ligado à prefeitura“As empresas criadas a partir de 1998, depois do Código de Trânsito Brasileiro, têm um modelo semelhante ao de São PauloNenhuma das empresas de trânsito tem fins lucrativos e Belo Horizonte é a única no país que não pode autuar.” No Rio de Janeiro, segundo ele, há uma parceria com a Guarda Municipal para a ação no trânsito.
Aposta na eletrônica Ronaldo Guimarães Gouvêa, coordenador geral do Núcleo de Transporte da Escola de Engenharia da UFMG, diz que a tendência nacional dos órgãos de trânsito é investir em equipamentos eletrônicos, deixando a presença física nas ruas de lado“Os órgãos estão depositando confiança na parafernália tecnológica e deixando os agentes de lado, mas isso é um problema, porque os equipamentos precisam dar suporte à açãoA presença física do fiscal é psicologicamente importante e precisa ser mais intensa”, afirmou.