A intensidade das chuvas do início do ano foi uma das principais causas de diversos desastres naturais em Minas Gerais. Em todo o estado moradores perderam bens móveis e imóveis devido à inundações e desabamentos. Municípios ficaram ilhados. E em Betim o cenário não foi diferente. Centenas de famílias ficaram desalojadas em pontos diferentes da cidade devido ao aumento dos rios, sem contar aquelas que ficaram em alerta durante todo o período de chuva diante do risco de deslizamentos de terra.
Infelizmente para quem viveu tudo isso, há menos de um ano, a chegada de um novo período chuvoso traz novamente o clima de preocupação à tona, uma vez que meteorologistas já alertam sobre a possibilidade de chuva além da média esperada para o início de 2013. A previsão vale para quase todo o estado. Segundo os meteorologistas, os temporais de
dezembro e janeiro podem chegar a 50% do previsto para todo o ano de 2013 em algumas regiões mineiras. “Teremos chuvas significativas especialmente nos meses de dezembro e janeiro. São esperadas chuvas de volume significativo, similar ao que aconteceu no ano passado”, destaca a meteorologista do TempoClima da PUC Minas, Adma Raia.
De acordo com o meteorologista e diretor regional do Climatempo, Ruibran dos Reis, a estimativa é de que o índice pluviométrico na região central do estado atinja 750 mm nos meses de janeiro e fevereiro, sendo que o normal para os meses combinados é de 500 mm. “Prevemos que em novembro e em dezembro teremos chuvas abaixo do valor esperado, muitas chuvas típicas de verão, com muitas pancadas à tarde. Agora em janeiro e fevereiro teremos uma chuva mais contínua. O risco de desastres, como inundações e deslizamentos, tem potencial maior para esses meses”.
O meteorologista ainda explica que esse índice alto não é comum historicamente, mas será favorecido pela atuação do fenômeno meteorológico El Niño.
Atenção dobrada
Como a chuva em si não é a única responsável pelos desastres, a população deve tomar cuidados redobrados para que os danos do período sejam minimizados. Na mesma época do ano passado, 20 pessoas morreram em Minas Gerais, sendo que 16 delas ocorreram em enxurradas, deslizamentos e inundações. Em todos esses casos, o respeito às orientações de prevenção de risco poderiam ter evitado os falecimentos.
Ambos os meteorologistas concordam que as margens de rios serão as áreas mais perigosas no início do ano. “Em linhas gerais, a população deve evitar áreas de risco, leitos de rios, áreas que periodicamente são inundadas. Eles devem evitar ocupar esses lugares porque na época seca é como se o rio estivesse encolhido, mas na época de chuvas ele volta e abraça toda a área. Se a gente ocupa a área que é do rio, com certeza a gente vai ter problemas”, pontua Adma Raia.
Segundo Reis, a ocorrência de mortes por inundações e alagamentos pode acontecer com mais frequência em novembro e dezembro. Já em janeiro e fevereiro, quando os solos estarão mais encharcados, os moradores devem ficar atentos a qualquer movimentação de terra e acatar as observações da Defesa Civil.
A sugestão com destaque especial para os leitos de rios é um alerta válido para quase todos os mineiros que passaram os primeiros meses de 2012 em abrigos temporários devido às fortes nundações. Betim foi uma das mais de 150 cidades mineiras que decretaram estado de emergência. Lá, famílias de bairro diferentes sofreram com enchentes que a cidade não via do mesmo nível há quase uma década. As famílias do bairro Nossa Senhora de Fátima foram as primeiras, no ano passado, a terem suas residências invadidas pela água de um córrego diretamente ligado à lagoa Várzea das Flores. Com o aumento da precipitação, ainda em meados de dezembro, o nível do córrego aumentou rapidamente e desabrigou dezenas de famílias ao redor do entroncamento das ruas Tocantins e Amazonas, região caracterizada com área de risco.
No entanto, os maior prejuízo na cidade aconteceu na Colônia Santa Isabel, onde milhares de pessoas foram obrigadas a passar a primeira semana do ano fora de casa. Lá, ruas inteiras foram alagadas e casas submersas quase por completo pela água do rio Paraopeba. Com a água subindo devagar, várias famílias conseguiram tirar seus pertences à tempo, mas viram as estruturas de seus imóveis serem mais uma vez danificadas pela enchente.
Por mais que o aumento do rio em períodos chuvosos seja um evento naturalmente esperado, a ação do homem é uma das grandes responsáveis pelo forte impacto negativo e destrutivo das inundações. O rio Paraopeba é prova disso. Ao longo de toda sua bacia, que é composta por 45 municípios da região central do estado, várias cidades foram devastadas. Além dos danos em Betim, a cidade Brumadinho ficou completamente ilhada e municípios como Jeceaba, Congonhas e Conselheiro Lafaiete tiveram as piores enchentes de suas histórias. Um dos principais motivos apontados pelos gestores municipais e moradores foi o efeito das atividades econômicas diretamente relacionadas com o rio. Ao longo de boa parte de sua bacia, o Paraopeba recebe água de lavagem de minério. Os resíduos do mineral ficam depositado nas calhas do rio, diminuindo sua profundidade. Isso faz com que o leito do rio se expanda acima do esperado quando o volume de água aumenta.