Jornal Estado de Minas

Força das águas alaga Silviano Brandão e assusta fãs de festival de música

Árvore caída na Avenida do Contorno, desta vez no Bairro Floresta - Foto: Marcos Vieira/EM/D.A/PressMunida de garrafas de refrigerantes turbinadas com bebidas alcoólicas destiladas, uma multidão de jovens se acumulava nas entradas da Arena Independência, ávidos por curtir ontem o grande show deste feriado com a música eletrônica do francês David Guetta. Por volta das 18h30, contudo, o público presente ao estádio do Horto, na Região Leste de BH, foi apanhado pelo temporal que atingiu a região metropolitana. O vento frio fez com que os jovens se espremessem em filas e entrassem apressados para o estádio, que é parcialmente coberto. Em questão de minutos as ruas íngremes se transformaram em cachoeiras, arrastando o lixo deixado pelo público nas ruas em volta do Independência. Garrafas de vodca, uísque, vinho e cachaça foram carregadas pela correnteza junto com embalagens plásticas de gelo, pratos de papel alumínio e latinhas de bebidas. Tudo isso foi parar nas bocas de lobo e bueiros da parte mais baixa do bairro, onde se formaram redemoinhos até entupir a drenagem.

Confira imagens dos transtornos provocados pela chuva na capital


Sem ter para onde escoar com rapidez a água barrenta que descia do Santa Tereza e do Horto, em poucos minutos a Avenida Silviano Brandão, que fica na parte baixa, se transformou num córrego de águas turbulentas na direção do Ribeirão Arrudas e Avenida dos Andradas. Ambulantes que vendiam lanches precisaram entrar em bares e subir nos bancos de pontos de ônibus para não serem apanhados pela água. Os bancos de plástico, cones de sinalização de trânsito e cavaletes que estavam postados pela via acabaram arrastados e desceram avenida abaixo.
Uma picape da Empresa de Transporte e Trânsito de BH (BHTrans) foi arrastada por cerca de 10 metros pela força da correnteza. O veículo só parou quando seu pneu caiu num bueiro e ficou no meio da rua retendo o lixo que boiava. Impotente, uma policial militar do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran), responsável por organizar o tráfego nos arredores do Independência, nada pôde fazer, a não ser filmar com o telefone celular o veículo sendo levado pela enxurrada.

NO CANTEIRO CENTRAL Devido ao aumento do nível da água, que chegou a meio metro, vários motoristas preferiram não se arriscar na travessia e foram estacionando próximo ao canteiro central com seus pisca-alertas ligados. Dois ônibus e um caminhão tentaram prosseguir, mas desistiram, optando por retornar sobre o canteiro para não terem de enfrentar os pontos onde a correnteza era mais forte. Pega de surpresa, a ambulante Margarida Salomão, de 37 anos, disse que aquele ponto costuma alagar, mas que nunca tinha visto a água subir tão subitamente. “Foi rápido demais. Quase não deu para fechar o carrinho de salgados e procurar um lugar seco.
A gente sabe que aqui é área de risco, mas sempre pensa que consegue dar um jeito quando a chuva vem”, disse.

Veja fotos registradas pelos internautas durante o temporal


SHOW DEBAIXO D’ÁGUA


O DJ francês David Guetta, a principal atração do festival de música eletrônica de ontem na Arena Independência, se apresentou o tempo todo, das 20h até quase as 22h, debaixo de chuva. Mas o aguaceiro não diminuiu o ânimo da plateia que enfrentou o temporal com bom humor e se divertindo com o imprevisto. A chuva começou por volta das 18h30, quando estava no palco o DJ escocês Calvin Harris, e não parou mais. Foi a primeira apresentação musical na arena desde a sua inauguração, no início do ano.

ANÁLISE DA NOTÍCIA

Até quando BH vai sofrer?

Álvaro Fraga

A cada nova temporada de chuvas a população de Belo Horizonte se prepara para o pior. Temporais como os de ontem à tarde, que causou a morte de um homem e prejuízos para um sem-número de pessoas, são comuns nesta época do ano, sempre com os mesmos resultados trágicos: destruição, caos e falta de perspectiva de uma solução para o problema. Há tempos este filme de terror se repete algumas vezes por ano, sem que as autoridades tomem as providências que os cidadãos esperam. As chuvas deste ano estão apenas começando, mas a paciência de quem sofre com elas já se esgotou. Está na hora de transformar promessas e projetos em obras.
A cidade exige e merece um tratamento melhor..