Depois do susto da noite de quinta-feira, faxina e contabilidade de prejuízos na manhã de ontem. Pela extensão da operação limpeza, espalhada por toda a cidade, dava para ter noção do alcance dos estragos provocados pela tempestade da noite de quinta-feira. Na Avenida Silviano Brandão, um dos pontos mais atingidos, funcionários de lojas da via que separa os bairros Horto e Santa Tereza, na Região Leste de Belo Horizonte, começaram o expediente com rodos, vassouras, mangueiras e panos de chão nas mãos. Trabalho árduo na tentativa de pôr fim à sujeira que restou do temporal do fim da tarde de anteontem, quando a água invadiu os estabelecimentos. Móveis, mercadorias, carros, computadores e eletrodomésticos ficaram estragados. Ainda sem contabilizar as perdas, comerciantes se queixavam da falta de medidas da prefeitura para evitar os alagamentos. A reclamação era a mesma entre moradores. Alguns tiveram que deixar suas casas às pressas com medo da água.
Apesar de não estar na região da cidade mais castigada pela chuva de anteontem – a Leste foi a quinta em acumulado de precipitação, com 69,2 mm entre as 8h de quinta e as 8h de sexta-feira, segundo a Defesa Civil Municipal – ,a Avenida Silviano Brandão se transformou em um verdadeiro rio de água barrenta e lixo no dia da tempestade. Em pouco mais de 20 minutos, carros foram arrastados e a água assustou pedestres.
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Em 2009, a Avenida Silviano Brandão recebeu obras de drenagem na esquina com Rua Felipe Camarão, próximo ao viaduto do metrô. Na época, forma investidos R$ 1,16 milhão para ampliação da rede que recebe água pluvial, na tentativa de resolver os constantes alagamentos. Mas ontem a água subiu quase dois metros no local. “Fizeram uma obra que não foi suficiente para acabar com o transtorno que enfrentamos todos os anos”, critica o comerciante Eustachio de Oliveira, de 75, que tem uma loja de tecidos e aviamentos na Rua Pitangui, na esquina com a avenida. Com funcionárias, ele ontem retirava da loja produtos completamente encharcados. “Vou ver se dá para aproveitar alguma coisa.
PORTAS FECHADAS Por causa da limpeza, todos os lojistas afetados pelo temporal atrasaram o horário habitual de abertura do comércio. Situação ainda pior enfrentou na loja de sapatos Lilu, na Avenida Gustavo da Silveira, no cruzamento com a Avenida Silviano Brandão. O estoque já vinha sendo reforçado por causa do aquecimento das vendas do fim de ano, e parte dos produtos ficou completamente estragada. Todas as caixas de sapato e meias que estavam no chão foram atingidas pela água, que subiu pelo menos 20 centímetros dentro do estabelecimento.
Até mesmo quem não é da região foi afetado, caso do ambulante Alexandro Duarte Nogueira, de 40, que anteontem trabalhava no Horto vendendo cachorro-quente e bebidas. Com o alagamento, o carro dele foi arrastado. “Trabalhei tanto ontem para ganhar R$ 500 e vou gastar muito mais do que isso para consertar meu carro. Esses alagamentos na cidade são uma vergonha. Não é a primeira vez que isso acontece.
Enquanto a solução não vem, a comerciante Neia Guimarães, de 43, prefere se adiantar. Ela, que precisou sair às pressas de casa ontem, com medo da água, garante que vai procurar outro endereço para morar. Está no Horto há pouco mais de um ano e já viu a água subir duas vezes. “O proprietário disse que o problema tinha sido acabado após a obra da prefeitura. Mas parece que a obra não foi bem feita ou não está dando conta. Não quero esperar para ver no que vai dar”, diz.
INTERDIÇÃO Ontem, funcionários da Defesa Civil estiveram em um prédio na Rua Zircônio, 514, no Bairro Camargos, Região Oeste da capital, para vistoriar o imóvel, onde um muro de contenção cedeu por causa da chuva. Dos dois blocos que haviam sido interditados, um já foi liberado. O outro permanece com acesso restrito, diante da recomendação da contratação de pessoal especializado para fazer obras de contenção e reparo.
Pane elétrica
Até o fim da tarde de ontem, os danos provocados pelo temporal de quinta-feira na rede elétrica eram visíveis em vários pontos de Belo Horizonte. Segundo a Cemig, durante a noite e a madrugada havia 171 funcionários trabalhando para restabelecer o fornecimento de energia. Até a manhã de ontem, esse número mais que dobrou, chegando a 353.