Ruas e avenidas com ameaça imediata de inundação serão solenemente fechadas pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), impedindo a entrada de qualquer veículo ou pedestre que não estejam entre as ações do poder público de resgate ou reparos. A medida, divulgada ontem pela PBH, deve estar pronta para ser implantada nos próximos dias. No entanto, ela não prevê levantamento sistemático de rotas alternativas, desvios e retornos para os veículos, ônibus e caminhões, quesito fundamental na avaliação de especialistas em transporte e trânsito para evitar ainda mais congestionamentos na cidade. Isso sem contar que, com a proximidade do período natalino, a tendência é de mais carros nas ruas, motoristas estressados e movimentação intensa de pedestres nos principais pontos comerciais da capital.
“As equipes da BHTrans levariam de 20 a 30 minutos para chegar ao local. Será realizado o fechamento da via com sinalização, permitindo acesso somente ao pessoal em missão (ambulâncias e viaturas). Nas vias com trânsito local, não haverá desvios a serem realizados e os fechamentos não afetarão o transporte coletivo”, informou a prefeitura por meio de um comunicado. As mudanças repentinas do transporte coletivo e desvios sem estudos aprofundados foram criticados por especialistas.
Um plano completo de fechar vias ameaçadas por inundações durante tempestades, como declarou na sexta-feira o prefeito Marcio Lacerda (PSB), não encontraria tempo hábil para ser concebido ou sequer aplicado na sua totalidade nesta temporada chuvosa de 2012/2013. Especialistas em engenharia de transporte e trânsito procurados pelo Estado de Minas avaliam que iniciar o levantamento das condições dos 80 pontos de alagamento do município, identificar trechos de retenção, traçar as rotas alternativas e desviar ônibus já seria impossível para este ano.
Soado o alarme de uma enchente, colocar a parte operacional na rua, – que é aplicar tudo isso nas vias ameaçadas, em diversos pontos simultâneos, usando apenas a mão de obra dos agentes da BHTrans e da Guarda Municipal –, é ainda mais complicado. O prefeito declarou ainda que as obras de ampliação do sistema de drenagem da cidade e da capacidade das vias, que seriam a solução definitiva para as enchentes, levarão mais de cinco anos e custarão cerca de R$ 4 bilhões.
“Bloquear o tráfego para que as pessoas não transitem onde pode alagar é uma medida extremamente delicada. Não é nada simples de se executar. Seria necessário fazer uma licitação para contratar empresas especializadas para reforçar os técnicos da PBH só para estudar as alternativas”, avalia o mestre em engenharia de transportes e professor da PUC Minas, Paulo Rogério da Silva Monteiro. “Os locais mais críticos deverão receber o planejamento de uma vez. Outros, apesar de graves, terão de esperar, porque um plano assim só sendo implantado paulatinamente”, estima o engenheiro civil e especialista em transporte e trânsito, Silvestre de Andrade Puty Filho.
AMEAÇAS De acordo com os engenheiros de trânsito, locais como as avenidas Cristiano Machado, Bernardo Vasconcelos, Tereza Cristina, Francisco Sá e Vilarinho – todas com histórico de inundações, prejuízos e até mortes – têm problemas específicos e precisam de soluções de desvio e bloqueio bem preparadas. “Há lugares onde a ameaça é a insuficiência da drenagem da via; outros sofrem com a canalização de córregos. Temos vias que concentram água por estar em depressões e fundos de vale”, cita Silvestre Filho. E os problemas não são recentes: a Bernardo Vasconcelos e a Cristiano Machado, por exemplo, protagonizam o transbordamento do Córrego Cachoeirinha desde o início dos anos 1990.
O professor da PUC aponta ainda que não basta criar rotas alternativas e bloqueios simplesmente, sem medir os impactos dessas alterações no tráfego do restante da cidade, principalmente porque as tempestades costumam surgir no fim da tarde, justamente no horário em que o trânsito de veículos está mais intenso. “Uma ação dessas vai tirar alternativas de circulação de vias que são bastante importantes. Estimar o impacto real dessa medida da PBH em cada horário do dia é fundamental para saber se o plano será viável.”
Uma vez planejada a intervenção, a parte de execução dos bloqueios e desvios precisaria ser delegada a equipes específicas que ficariam a postos. “A sintonia dos alertas pluviométricos com as equipes de ação é muito importante, para que tudo funcione como deve”, acrescenta Silvestre Filho. Essa parte operacional consiste em usar barreiras com cones, cavaletes e cancelas para demarcar desvios e vias bloqueadas, inteira ou parcialmente. “Pode ser necessário inverter as mãos de uma avenida de grande porte, delimitando os espaços com cones ou até transformar um sentido em sentido duplo, com indicações de desvios antes”, completa.
No comunicado a PBH alega que as mudanças da forma como foram pensadas são suficientes e informa que, na sexta-feira, a BHTrans recebeu aviso de possibilidade de chuva com inundação. “A equipe estava pronta em 20 minutos, com todos os equipamentos de sinalização, mas não foi necessária nenhuma ação (porque a chuva não caiu)”, informou a nota.
Cidadão teme prejuízos
As constantes inundações na Avenida Vilarinho, em Venda Nova, que foi construída sobre o córrego de mesmo nome, e que fica confinado em galeria subterrânea, levaram os moradores, comerciantes e industriais a se precaver. Entradas de lojas foram elevadas, portas corta-enchentes instaladas e portões reforçados. Depois de muitas noites sem dormir e de finalmente terem conseguido proteger suas casas e negócios, os moradores temem que o plano de contingência os deixe ilhados e traga prejuízos.
Na vidraçaria onde Daniela Mansur, de 30 anos, é gerente de vendas, as entregas feitas por motos e veículos de carga representam cerca de 50% do movimento. No caso de uma tempestade, ela teme ficar sem alternativa de escoamento da produção, o que traria dificuldade para atender clientes, além de impedir a chegada de insumos. “Dependemos da Avenida Vilarinho para funcionar. Se a via está fechada, usamos a (Rua) Padre Pedro Pinto ou a (Avenida) Cristiano Machado. Só que todas elas têm problemas de inundação. Se a prefeitura fechá-las, ficaremos isolados aqui.”
Para Daniela, a solução seria fazer obras que resolvessem o problema de forma definitiva. “A (Avenida) Vilarinho foi feita e fecharam o córrego. Melhorou por um tempo, mas a água voltou a subir. Tinha de ter uma obra que resolvesse. O tio do meu esposo ficou preso no meio da água e teve de sair do carro rápido se não seria arrastado. Foi um horror”, lembra. Morador do Bairro Bonsucesso, o vendedor Ricardo Almeida, de 27, disse que já precisou enfrentar de moto muitas inundações do Ribeirão Arrudas e do Córrego Bonsucesso. “Acontece tudo muito rápido. A água vem subido e a gente não consegue escapar. Se a prefeitura conseguir prever e fechar a avenida, a gente mesmo escolhe outro lugar para passar e não se arrisca.”
“As equipes da BHTrans levariam de 20 a 30 minutos para chegar ao local. Será realizado o fechamento da via com sinalização, permitindo acesso somente ao pessoal em missão (ambulâncias e viaturas). Nas vias com trânsito local, não haverá desvios a serem realizados e os fechamentos não afetarão o transporte coletivo”, informou a prefeitura por meio de um comunicado. As mudanças repentinas do transporte coletivo e desvios sem estudos aprofundados foram criticados por especialistas.
Um plano completo de fechar vias ameaçadas por inundações durante tempestades, como declarou na sexta-feira o prefeito Marcio Lacerda (PSB), não encontraria tempo hábil para ser concebido ou sequer aplicado na sua totalidade nesta temporada chuvosa de 2012/2013. Especialistas em engenharia de transporte e trânsito procurados pelo Estado de Minas avaliam que iniciar o levantamento das condições dos 80 pontos de alagamento do município, identificar trechos de retenção, traçar as rotas alternativas e desviar ônibus já seria impossível para este ano.
Soado o alarme de uma enchente, colocar a parte operacional na rua, – que é aplicar tudo isso nas vias ameaçadas, em diversos pontos simultâneos, usando apenas a mão de obra dos agentes da BHTrans e da Guarda Municipal –, é ainda mais complicado. O prefeito declarou ainda que as obras de ampliação do sistema de drenagem da cidade e da capacidade das vias, que seriam a solução definitiva para as enchentes, levarão mais de cinco anos e custarão cerca de R$ 4 bilhões.
“Bloquear o tráfego para que as pessoas não transitem onde pode alagar é uma medida extremamente delicada. Não é nada simples de se executar. Seria necessário fazer uma licitação para contratar empresas especializadas para reforçar os técnicos da PBH só para estudar as alternativas”, avalia o mestre em engenharia de transportes e professor da PUC Minas, Paulo Rogério da Silva Monteiro. “Os locais mais críticos deverão receber o planejamento de uma vez. Outros, apesar de graves, terão de esperar, porque um plano assim só sendo implantado paulatinamente”, estima o engenheiro civil e especialista em transporte e trânsito, Silvestre de Andrade Puty Filho.
AMEAÇAS De acordo com os engenheiros de trânsito, locais como as avenidas Cristiano Machado, Bernardo Vasconcelos, Tereza Cristina, Francisco Sá e Vilarinho – todas com histórico de inundações, prejuízos e até mortes – têm problemas específicos e precisam de soluções de desvio e bloqueio bem preparadas. “Há lugares onde a ameaça é a insuficiência da drenagem da via; outros sofrem com a canalização de córregos. Temos vias que concentram água por estar em depressões e fundos de vale”, cita Silvestre Filho. E os problemas não são recentes: a Bernardo Vasconcelos e a Cristiano Machado, por exemplo, protagonizam o transbordamento do Córrego Cachoeirinha desde o início dos anos 1990.
O professor da PUC aponta ainda que não basta criar rotas alternativas e bloqueios simplesmente, sem medir os impactos dessas alterações no tráfego do restante da cidade, principalmente porque as tempestades costumam surgir no fim da tarde, justamente no horário em que o trânsito de veículos está mais intenso. “Uma ação dessas vai tirar alternativas de circulação de vias que são bastante importantes. Estimar o impacto real dessa medida da PBH em cada horário do dia é fundamental para saber se o plano será viável.”
Uma vez planejada a intervenção, a parte de execução dos bloqueios e desvios precisaria ser delegada a equipes específicas que ficariam a postos. “A sintonia dos alertas pluviométricos com as equipes de ação é muito importante, para que tudo funcione como deve”, acrescenta Silvestre Filho. Essa parte operacional consiste em usar barreiras com cones, cavaletes e cancelas para demarcar desvios e vias bloqueadas, inteira ou parcialmente. “Pode ser necessário inverter as mãos de uma avenida de grande porte, delimitando os espaços com cones ou até transformar um sentido em sentido duplo, com indicações de desvios antes”, completa.
No comunicado a PBH alega que as mudanças da forma como foram pensadas são suficientes e informa que, na sexta-feira, a BHTrans recebeu aviso de possibilidade de chuva com inundação. “A equipe estava pronta em 20 minutos, com todos os equipamentos de sinalização, mas não foi necessária nenhuma ação (porque a chuva não caiu)”, informou a nota.
Cidadão teme prejuízos
As constantes inundações na Avenida Vilarinho, em Venda Nova, que foi construída sobre o córrego de mesmo nome, e que fica confinado em galeria subterrânea, levaram os moradores, comerciantes e industriais a se precaver. Entradas de lojas foram elevadas, portas corta-enchentes instaladas e portões reforçados. Depois de muitas noites sem dormir e de finalmente terem conseguido proteger suas casas e negócios, os moradores temem que o plano de contingência os deixe ilhados e traga prejuízos.
Na vidraçaria onde Daniela Mansur, de 30 anos, é gerente de vendas, as entregas feitas por motos e veículos de carga representam cerca de 50% do movimento. No caso de uma tempestade, ela teme ficar sem alternativa de escoamento da produção, o que traria dificuldade para atender clientes, além de impedir a chegada de insumos. “Dependemos da Avenida Vilarinho para funcionar. Se a via está fechada, usamos a (Rua) Padre Pedro Pinto ou a (Avenida) Cristiano Machado. Só que todas elas têm problemas de inundação. Se a prefeitura fechá-las, ficaremos isolados aqui.”
Para Daniela, a solução seria fazer obras que resolvessem o problema de forma definitiva. “A (Avenida) Vilarinho foi feita e fecharam o córrego. Melhorou por um tempo, mas a água voltou a subir. Tinha de ter uma obra que resolvesse. O tio do meu esposo ficou preso no meio da água e teve de sair do carro rápido se não seria arrastado. Foi um horror”, lembra. Morador do Bairro Bonsucesso, o vendedor Ricardo Almeida, de 27, disse que já precisou enfrentar de moto muitas inundações do Ribeirão Arrudas e do Córrego Bonsucesso. “Acontece tudo muito rápido. A água vem subido e a gente não consegue escapar. Se a prefeitura conseguir prever e fechar a avenida, a gente mesmo escolhe outro lugar para passar e não se arrisca.”