O julgamento do goleiro Bruno Fernandes e outros quatro acusados da morte de Eliza Samudio começou tumultuado no Fórum de Contagem, na Grande BH. O principal empecilho foi a decisão de Ércio Quaresma e outros cinco advogados, que desistiram da defesa do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola. Com isso, o julgamento foi desmembrado e o homem acusado de matar Eliza será julgado em outra data. Outro problema foi causado por Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, que passou mal e foi levado de volta para a Penitenciária Nelson Hungria. O futuro de Bruno, que está preso há 867 dias e chegou magro e abatido ao fórum, será decidido por seis mulheres e um homem, sorteados entre 43 nomes pela juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, ontem à tarde.
Os impasses no plenário do Tribunal do Júri comandados pelos advogados de Bola atrasaram a sessão, que começaria às 9h, por três horas. Quaresma, que chegou a defender Bruno na fase de inquérito, mas foi afastado ao ser flagrado em um vídeo polêmico em que aparece fumando crack, se transformou no centro das atenções. Foi o grande articulador do tumulto, fazendo pressão psicológica para desestruturar a juíza e cansar os jurados, segundo o jurista e professor de direito em São Paulo Luiz Flávio Gomes, que acompanha o julgamento como observador.
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Defesa de Jaílson denuncia suposta ameaça de morte por Bruno e pede proteçãoPromotor diz que primeiro de júri dia foi bom para a acusaçãoJulgamento é novela com muitos capítulosAdvogados de Bola e Macarrão abandonam julgamentoAdvogados questionam tempo dado por juíza e ameaçam abandonar júriBancada feminina da Câmara dos Deputados acompanha julgamento do caso Bruno Advogado de Bola quer suspensão de julgamento após dispensa de sete juradosPopulação se divide quanto ao mistério do desaparecimento de Eliza SamudioEntidades de defesa dos direitos das mulheres protestam em frente ao Fórum de ContagemAdvogado de Bola vai apresentar lista de presença para tentar álibiEmocionada, mãe de Eliza diz que acredita na condenação dos réusBruno e Bola chegam ao Fórum de Contagem para julgamentoPredomínio de mulheres no conselho de jurados é bem-visto pela acusaçãoEntre os presentes estava a a dentista Ingrid Calheiros Oliveira e uma tia do goleiro. Ingrid afirmou estar no plenário na condição de mulher de Bruno e garantiu que os dois já oficializaram o casamento, mas não quis dar detalhes sobre a cerimônia. “Estou muito nervosa, mas se houver Justiça em Minas, Bruno será absolvido, em nome de Deus”. Compareceram também para acompanhar o júri um irmão de Dayanne; a mãe de Fernanda, Solange Castro, e a mulher e filha de Bola, Denislene dos Santos e Middian Kellyn.
Ao meio-dia, a juíza instaurou oficialmente a sessão citando os cinco réus: Bruno e Macarrão, que respondem por homicídio triplamente qualificado, sequestro, cárcere privado e ocultação de cadáver, o Bola, acusado de homicídio duplamente qualificado e ocultação de cadáver; Fernanda Gomes de Castro, por sequestro e cárcere privado de Eliza Samudio e do filho, Bruninho, que na época do crime estava com 4 meses de idade; e Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, acusada de sequestro e cárcere privado do menino.
A juíza fixou prazo de 20 minutos para cada um dos defensores manifestar questões preliminares (análise de pedidos dos advogados e decisões). O tempo estipulado gerou mais tumulto. Todos os defensores foram contrários à decisão fazendo com que ela estendesse o tempo para 35 minutos.
Rui Pimenta alegou que o tempo era curto para um processo que tem mais de 60 volumes e 15.684 páginas. Outro questionamento foi o indeferimento pela juíza sobre o depoimento do primo de Bruno, J.L.L.S., menor na época do crime, como testemunha em plenário ou por videoconferência. “O depoimento desse rapaz é imprescindível, pois foi a partir dele que esse processo teve início”, disse Pimenta. Em seguida, o advogado de Macarrão, Leonardo Diniz, disse sobre as mesmas questões.
Pornografia
Quaresma, mais uma vez, causou burburinho e ameaçou por três vezes abandonar o julgamento, o que acabou fazendo no início da tarde. Como essa manobra já era prevista, a juíza avisou que ela já havia convocado defensores públicos para assumir a defesa de qualquer um dos réus. Quaresma retomou a fala e passou a exigir a apresentação em plenário dos 25 vídeos com depoimentos de testemunhas, dos quais a juíza não permitiu que fossem feitas cópias. Outra polêmica foi a recusa da juíza à inclusão no processo de fotos de conteúdo pornógráfico, considerada ofensivas a Eliza.
O criminalista ainda acusou a juíza de cercear o direito da defesa plena e afirmou que o fato foi levado há duas semanas ao conhecimento da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG). Marixa, porém, rebateu: “Todo o teor das informações foi transcrito e anexado aos autos. Apenas não permiti cópias para preservar a imagem das testemunhas”.
A juíza lembrou que todas as provas dos autos ficam na secretaria do tribunal e são de livre acesso à defesa, inclusive, convidou ontem os advogados para que eles analisassem mais uma vez o material. “Uma coisa é a letra fria, outra é o semblante da pessoa", contestou Quaresma, insistindo na apresentação dos vídeos no plenário. “O senhor teve dois anos e meio para ver essas imagens", rebateu a juíza, cassando a palavra do advogado.
De volta ao plenário, Quaresma reafirmou sua decisão de abandonar a defesa de Bola e pediu para que constasse na ata. No entanto, a juíza suspendeu o julgamento por uma hora, às 13h26, sem tomar uma decisão. Ela determinou o intervalo e mandou servir almoço aos 33 jurados que ainda aguardavam o sorteio.
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