O Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG) anunciou que abrirá sindicância para apurar as denúncias contra os profissionais de Uberlândia, no Triângulo Mineiro. Dois médicos e sete empresários de vão responder a processo por envolvimento num esquema fraudulento de implantação de marcapassos mediante recebimento e pagamento de propinas, que chegavam a R$ 48 mil. Em outubro, o Ministério Público Federal (MPF), por meio do procurador Frederico Pellucci, apresentou denúncias contra os dois médicos, credenciados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A Justiça Federal de Uberlândia acatou a denúncia no começo deste mês e na próxima semana os acusados devem ser intimados para responder pelas acusações de crimes de corrupção, peculato, falsidade ideológica e formação de quadrilha.
“Quando uma informação dessas vai para a mídia ou é protocolada no CRM-MG, a entidade obrigatória e imediatamente tem que apurar, com a certeza da isenção total, doa a quem doer”, garantiu o presidente do CRM, João Batista Gomes Soares. Ele explicou que, apesar de invasivo, o implante de marcapasso é um procedimento considerado simples e o risco maior não é a cirurgia, mas a permanência do aparelho no corpo. “O coração tem competência para estabelecer seu próprio ritmo, e o que acontece nessas situações é que fica uma briga entre o marcapasso e o próprio sistema fisiológico do paciente”, disse.
Denúncia
De acordo com a denúncia, no período de 2003 a 2008, os médicos E.E.K. e P.R.S.J. adquiriram desfribiladores e realizaram implantes de marca-passos em números altamente desproporcionais aos do restante do país. Eles colocaram em risco a vida de muitos pacientes e causaram prejuízo aos cofres públicos. As investigações acabaram apontando para a existência de um esquema que envolvia empresas fabricantes e revendedoras dos aparelhos, com o pagamento de propinas aos médicos.
Os acordos eram registrados inclusive em planilhas e relatórios, com os percentuais das comissões fixados entre 5% a 10% do valor dos aparelhos. O pagamento era efetuado mediante depósitos ou transferências bancárias em contas pessoais dos beneficiários. Em alguns casos, houve pagamento de propina em valores elevados. Segundo o MPF, para justificar nos movimentos contábeis a saída dos recursos, as empresas registravam os depósitos e transferências bancárias por meio da emissão de notas fiscais frias. Os médicos, por sua vez, nominavam as propinas de “estudos clínicos”.