O tema “escolhidos para morrer” foi o prato do jantar de ontem à noite no restaurante principal do câmpus da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), durante protesto de alunos do curso de artes cênicas. A manifestação, que pegou de surpresa a administração, funcionários e estudantes da universidade, criticou o processo de admissão de alunos nas repúblicas, que estaria levando calouros ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas. No protesto, cartazes com fotos destacaram a morte de Pedro Silva Vieira, assim como a de Daniel Macário de Melo Júnior, de 27 anos, que cursava artes cênicas, esta ocorrida em 27 de outubro.
O aluno de ciência da computação A., de 21, afirmou que em abril de 2011 precisou de atendimento médico quando disputava vaga em uma república e se viu obrigado a consumir bebidas alcoólicas e drogas. “Fui cuidado pela empregada da república. Os calouros, que ganham a denominação de ‘bixos’, são obrigados a participar de festas dos universitários, servindo as bebidas e consumindo aquilo que for determinado pelos veteranos. Se não seguir as regras, é considerado fora do perfil para morar na república.”
Para A., a situação foge ao controle da administração da Ufop. “Na época busquei apoio na Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e tentei falar com o reitor. Porém, as repúblicas, que deveriam atender alunos carentes e que têm suas despesas custeadas pelo dinheiro público, têm autonomia de gestão.
Quem conhece a prática nas repúblicas acredita que Pedro Vieira pode ter sido forçado a ingerir bebidas na Saudade da Mamãe. Um funcionário público de Ouro Preto, que pediu para não ser identificado, mas que frequenta o local, reforça a denúncia de que o “bixo” é obrigado a consumir todo tipo de bebida e até a usar drogas durante sua festa de escolha. Prática comum na república, segundo o servidor, que chegou a conhecer a vítima na festa de 12 de outubro, tradicional em Ouro Preto. “Eles devem ter enchido o rapaz de bebidas, cachaça, vodca. Se tiver droga, eles obrigam a usar também”, disse.
A delegada Fabiana Leijoto instaurou inquérito para apurar as causas da morte de Pedro Vieira e saber se há indícios de crime. Na segunda-feira ela começa a ouvir colegas do estudante. A policial também investiga a morte do universitário Daniel Macário de Melo Júnior.
Na República Saudade da Mamãe, ninguém quis comentar a morte de Pedro. Portas e janelas permaneceram fechadas o tempo todo e até vizinhos tinham receio de falar..