Ouro Preto – De volta à antiga capital de Minas, depois de enterrar ontem o colega Pedro Silva Vieira, de 25 anos, em Belo Horizonte, o grupo de oito meninos cabisbaixos, todos de óculos escuros e blusas pretas, descendo em silêncio a ladeira da Rua Doutor Cláudio Lima, era a imagem do luto. Sem querer conversa, eles se refugiaram na república federal Saudade da Mamãe, onde Pedro morava havia cerca de um ano e onde ele morreu durante uma festa na madrugada de anteontem. Mas, em meio à dor, outros jovens, estudantes da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), romperam o silêncio para denunciar os abusos dentro das moradias federais.
Aluno de medicina, L. contou que conhecia Pedro e que a festa da quinta-feira era para comemorar a “escolha” do aluno, que finalmente tinha sido aceito na república. Segundo ele, o rapaz teria bebido cinco copos americanos de cachaça, o que causou a sua morte. Os moradores da Saudade da Mamãe se limitaram a negar a relação entre a morte do colega e o consumo de bebida alcoólica. “A traqueia dele estava limpa quando o médico examinou”, disse um deles, sem se identificar, procurando descartar a hipótese de asfixia pelo vômito.
Para L., essa situação dentro das moradias estudantis tem que mudar. “A entrada nas repúblicas federais não tem qualquer critério socioeconômico.
Essa é a segunda morte de estudante em república em pouco mais de um mês e a preocupação entre os alunos é que a situação leve a Ufop a interferir na autonomia das repúblicas. “Os pais estão pressionando a universidade para tomar alguma providência”, contou um estudante, que preferiu não ser identificado. “Quem fala disso aqui fica até jurado de morte”, afirmou, temeroso.
Nas ladeiras da secular Ouro Preto, o que se viu ontem foram brasões das repúblicas envolvidos por sacos e panos pretos, em sinal de luto por causa do episódio, mas também revelando a preocupação dos estudantes em esconder os nomes das moradias.
Nesse clima de silêncio imposto pelos estudantes, são poucos os que têm coragem de falar. Entre os vizinhos, a sensação é de que algo fugiu à normalidade. “Aqui na cidade as repúblicas fazem muita festa, excedem muito, só que tinha muito tempo que não víamos gente morrer assim”, disse uma moradora de 43 anos, nascida e criada em Ouro Preto, ao comentar as mortes de Daniel Mello, de 27, em 27 de outubro, em uma festa na Nóis É Nóis República, e a de Pedro Vieira, na Saudade da Mamãe.
UFOP NÃO SE MANIFESTA Depois da nota oficial de quinta-feira, depois da morte de Pedro, decretando luto de três dias, a direção da Ufop permaneceu em silêncio ontem, apesar das pressões e das críticas aos excessos cometidos pelos estudantes que moram nas repúblicas federais. .