Em média, 20 motociclistas se acidentam todos os dias nas ruas de Belo Horizonte e região metropolitana. O número se refere ao atendimento feito no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII e não para de crescer. No ano passado, foram mais de 7 mil condutores e garupas. Até novembro de 2012, já são 6.607 pessoas que deram entrada na unidade com ferimentos causados ao cair ou bater com a motocicleta. O emplacamento dos veículos aumenta praticamente na mesma proporção na capital. Entre janeiro e setembro, segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), o tráfego de BH ganhou 7.518 motos, uma média de 27 por dia. Para especialistas, o problema começa na formação e atinge também quem não está em cima do veículo de duas rodas.
Segundo o tenente-coronel Roberto Lemos, chefe do Batalhão de Trânsito da Polícia Militar, a maioria das batidas é resultado da imprudência do condutor.
De acordo com dados do Seguro Dpvat, entre janeiro e junho, os motociclistas foram responsáveis por 69% das indenizações pagas no Brasil. No mesmo período, os acidentes com motos representaram 74% dos casos de invalidez permanente. “A formação desse condutor é deficiente. Ele faz um exame na pista fechada e depois enfrenta a realidade do trânsito.
A gerente de Educação para o Trânsito do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), Rosely Fantoni, considera que a falta de qualificação do condutor é um dos fatores para o aumento no número de acidentes com motos. Ela acrescenta como facilitador o sistema de transporte coletivo inadequado e a falta de punição. “Hoje é mais barato comprar uma moto e o acesso faz com que as pessoas prefiram esse transporte a andar em um ônibus que não atende e não é confortável. Outro ponto é, se um motociclista burlar uma norma de trânsito, a multa não é alta. O contexto faz com que as pessoas se exponham, se arrisquem”, afirma.
Jovens
Mais um ponto que, na avaliação de Rosely, contribui para que os acidentes aconteçam é a idade do condutor. “Geralmente são jovens que usam a moto para trabalhar ou para se deslocar. Eles têm uma personalidade de mais agressividade e não acham que vão sofrer acidentes. A moto é um veículo de duas rodas e tem que circular como tal, seguir pela faixa determinada, a uma distância de segurança.
E existe alguma saída? Para Rosely Fantoni, o Brasil ainda está assustado com o problema e os governos perdidos em relação ao que fazer. “As motos vieram para ficar, agora é preciso discutir o que fazer. Ainda não foi feita, pela sociedade, uma ação política incisiva, os meios de saúde estão mais atentos e têm alertado o governo sobre a necessidade de urgência.” Segundo ela, é possível reverter os números, mas não de uma hora para outra. “É preciso fazer um trabalho melhor de qualificação inclusive de quem está treinando esse condutor. A maioria dos instrutores é especialista em quatro rodas, o que não é ideal. Temos que trabalhar as campanhas, fazer com que as mães, parentes, amigos desse motociclista ajudem na conscientização”, afirma.
O peso das estatísticas
Número de atendimentos a acidentados envolvendo motocicletas no HPS:
2011
Janeiro: 597
Fevereiro: 637
Março: 509
Abril: 636
Maio: 691
Junho: 570
Julho: 595
Agosto: 569
Setembro: 585
Outubro: 539
Novembro: 559
Dezembro: 520
2012
Janeiro: 588
Fevereiro: 595
Março: 626
Abril: 578
Maio: 574
Junho: 591
Julho: 652
Agosto: 617
Setembro: 609
Outubro: 632
Novembro: 545
Número de motocicletas registradas em Belo Horizonte em 2012:
Janeiro: 179.539
Fevereiro: 180.718
Março: 181.913
Abril: 182.733
Maio: 183.743
Junho: 184.516
Julho: 185.559
Agosto: 186.460
Setembro: 187.057
FONTES: Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig) e Denatran
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