Em meio ao luto pela morte de dois estudantes por excesso de bebida alcoólica em repúblicas da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), na Região Central de Minas, alunos de outras moradias cedidas pela instituição de ensino ignoram o alerta e já anunciam pacotes para o carnaval de 2013, tendo entre os atrativos a fartura de álcool. Das 21 repúblicas com programação no portal carnavalouropreto.com, 13 são federais. A bebida liberada 24 horas é o principal chamariz e algumas até fazem apologia ao exagero.
Os preços dos pacotes individuais variam de R$ 375 a 950, por quatro, cinco ou seis dias de hospedagem, com direito a cerveja a qualquer hora do dia e da noite, além de vodca com energético, cachaça, uísque, caipirinha e outros drinques. Nas repúblicas particulares, o preço de um pacote para oito pessoas chega a custar R$ 8,9 mil, com direito a um cômodo da casa abarrotado de bebidas.
Ao preço de R$ 950 o pacote masculino e R$ 650, o feminino, a república federal Verdes Mares promete muita diversão movida a bebidas quentes. Durante o carnaval, os moradores da Bastilha vão se mudar para a Doce Bastilha, que é feminina, para ceder o imóvel aos hóspedes. “Oferecemos hospedagem, alimentação e muita, mas muita bebida, mesmo. São quatro dias de carnaval e a pessoa pode beber 24 horas por dia, sem parar. Bebe o tanto que aguentar”, desafia um dos moradores da Bastilha. “Teremos festas temáticas, festa baiana, cabaré e festa a fantasia. Cerveja é o tempo todo e nas festas temáticas vamos servir também vodca, absinto e cachaça”, completa o estudante. “Para quem sobreviveu, vem aí o carnaval Doce Bastilha 2013”, anuncia o site da moradia , que batizou a festa de encerramento de “Só não vai quem já morreu”, dedicada às pessoas que “ainda aguentam mais um dia de golo”.
Tudo liberado
A grande promessa da República Quitandinha é de não faltar bebida para seus hóspedes durante a festa de momo. “Temos bebida à vontade e vamos liberar tequila, vodca, rum e outras”, disse um estudante. A República Canaan já está no segundo lote de vendas de pacotes. O masculino custa R$ 900 e o feminino, R$ 730. “Inclui hospedagem, alimentação e bebidas liberadas o tempo todo, como vodca com energético, cerveja, caipirinha e mojito”, promete um morador da república.
As repúblicas Tabu, Marragolo, Cosa Nostra, Cassino, Formigueiro, Gaiola de Ouro e a Pronto-Socorro, todas federais, também estão com os pacotes praticamente esgotados. Elas tentam vencer a concorrência oferendo uma carta de bebidas variada e com produtos de qualidade. “Cerveja liberada todos os cinco dias, 24 horas. Café da manhã e almoço todos os dias. Tradicionais cachaças mineiras curtidas em diversos sabores. Frozen e gelatinas com vodca 24 horas por dia. Caipirinha liberada 24 horas por dia. Muita curtição com bebidas diferentes e festas temáticas”, anuncia a República Hospício em seu site na internet.
Festança é permitida pela Ufop
O reitor lembra que em 2010 a administração da Ufop decidiu pelo fechamento das repúblicas no período carnavalesco, atendendo a uma recomendação do Ministério Público, e também devido à insatisfação da população com o caráter comercial das festas. Mas, diante do apelo da prefeitura, a Ufop voltou atrás.
“Foi acordado assim, mediante procedimento de controle claro e oficial, aprovado pelo Conselho Universitário da Ufop e pelo Ministério Público, que as repúblicas federais poderiam receber convidados, familiares e ex-alunos para as festas do carnaval, desde que fossem de apresentadas à administração da Ufop as devidas prestações de contas (receitas e despesas), passíveis de serem auditadas tanto pela auditoria da universidade quanto pelo Ministério Público Estadual”, diz a carta do reitor.
João Luiz Martins reforçou que os recursos obtidos com as festas deveriam ser obrigatoriamente investidos na manutenção e conservação dos imóveis da universidade, e que as eventuais sobras seriam depositadas no caixa único da União. Isso, segundo ele, para impedir que os imóveis sejam utilizados para fins econômicos. “Porém, isso não configura uma atividade comercial com geração de lucro para terceiros e sim uma ação garantidora dos interesses culturais da cidade e de preservação do seu próprio patrimônio. Tudo sem fins lucrativos” argumenta a carta.