Jornal Estado de Minas

Especialista considera impraticável reduzir a poluição do ar até 2030

A dificuldade de controlar as emissões de dióxido de Carbono (CO2) em Belo Horizonte leva especialistas e técnicos da prefeitura a divergir sobre a viabilidade de se reduzir, até 2030, a poluição do ar a níveis de 2000, como almeja a administração municipal. Em vez de diminuir, a quantidade de gases despejados na atmosfera aumentou em três anos. A política municipal de combate a mudanças climáticas tinha como meta, em 2009, voltar aos patamares de poluição a nove anos antes, com 20% menos emissões. Passaria, assim de 3.180.000 toneladas medidas naquele ano para 2.544.000. Porém, os dados divulgados ontem pelo 2º Inventário de Emissão de Gases de Efeito Estufa mostraram aumento de 570 mil toneladas do gás tóxico em três anos. O esforço em conter os poluentes agora precisará ser 38% maior para que a meta seja atingida.

Como a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) não conseguiu estruturar a política municipal de combate a mudanças climáticas em 2009, precisou esperar mais três anos para que dados mais atuais, de 2010, fossem consolidados e só então norteassem suas ações. “Houve esse atraso e, por isso, precisamos esperar que os dados de 2010 ficassem prontos. O aumento foi considerável e vai dificultar que alcancemos essa meta com o mesmo esforço de antes, mas ainda é possível atingir a meta em 2030”, afirma o gerente de Planejamento e Monitoramento Ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Weber Coutinho.

O doutor em planejamento de sistemas energéticos Carlos Martinez, coordenador do Centro de Pesquisas Hidráulicas e Recursos Hídricos da UFMG, considera irreal a meta da PBH.
“Já seria um grande ganho se o objetivo fosse não poluir mais do que já se polui. Dizer que em 18 anos vão reduzir em 38% algo que em três anos subiu 18% é impossível”, critica. De acordo com o especialista, seria necessário um conjunto de medidas sérias para que realmente se viabilizasse um recuo das emissões de CO2. “Deveríamos mudar a nossa matriz energética, que é voltada para combustíveis muito poluidores, derivados de petróleo. Seria preciso pactuar com a sociedade para trazer o comércio para os fins de semana e as aulas também. Tudo isso reduziria o volume de veículos e a queima de gasolina”, afirma.

POLUENTES De acordo com o gerente da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, o nível de poluição de BH ainda é melhor do que em outras cidades. Enquanto a média per capita de poluição na capital é de 1,58 tonelada de CO2 por habitante, no Rio de Janeiro o índice chega a duas toneladas e em São Paulo a 2,4 toneladas por pessoa.
“A cidade tem um parque industrial menor e a nossa geografia possibilita uma dispersão melhor dos poluentes”, afirma Coutinho.

 Contudo, para o presidente da Sociedade Mineira de Pneumologia e Cirurgia Toráxica, Maurício Meireles Goes, o aumento de novos casos de doenças respiratórias nos consultórios médicos e o agravamento do estado de doentes crônicos demonstra que a poluição vem piorando a qualidade de vida dos belo-horizontinos. “O que vemos é que crianças até 5 anos e idosos com mais de 75 têm sido mais sensíveis, por causa da fragilidade do seu sistema imunológico.”

O médico alerta ainda que a poluição pode levar ao desenvolvimento de doenças típicas de fumantes, como enfisema pulmonar e até câncer. “A chance de a população adoecer tem aumentado. É preciso que mais medidas sérias sejam tomadas pelo poder público para reduzir esse impacto, seja fiscalizando as emissões de gases dos veículos ou exigindo medidas mais rígidas de controle”, sugere..