A cena se repete sempre que chove na Rua Washington, no Bairro Sion. Terra, pedras e por vezes árvores escorregam de morro de 20 metros de altura que começa na via e chega à Avenida Nossa Senhora do Carmo, na Região Centro-Sul, mesmo com uma lona preta instalada pela Defesa Civil na encosta. Para evitar o pior durante os temporais de fim de ano, a vizinhança decidiu agir. Administradores de um edifício comercial abriram uma vala de concreto e empilharam 150 sacos de areia e brita. O paliativo já deu mostras de que pode não ser suficiente: houve novo deslizamento de terra na última chuva, o que bloqueou parte da garagem.
“A prefeitura não faz obras e não nos deixa fazer porque o terreno é público. Estamos sem saída”, reclama o zelador do prédio, Josemar Santos, de 46 anos. O drama na Rua Washington é comum a outras áreas da capital com riscos semelhantes: sem obras, há moradores tomando medidas por conta própria. Além do Sion, o EM identificou casos do tipo no Mangabeiras, Santa Lúcia e Buritis. Entre as medidas bancadas por moradores, há cobertura de barrancos com lonas e até construção de canaletas.
Na Rua Washington, o receio é de que novas chuvas provoquem estragos maiores, mesmo com os sacos de areia e brita posicionados no barranco. “Quando chove, mina água das paredes. Os donos das salas estão revoltados porque não podem mais usar suas garagens e um até fechou a loja porque a água destruiu os carpetes e móveis”, conta o zelador Josemar Santos. A apenas dois metros da Nossa Senhora do Carmo, por onde passam 95 mil veículos por dia, o barranco de 20 metros cede a cada chuva, ameaçando levar parte da via.
Susto
O supervisor de vendas José Confessor, de 36 anos, trabalhava numa das salas do edifício na Rua Washington quando parte do barranco cedeu e bateu na parede externa da garagem. “Foi um barulho assustador. Todos estavam trabalhando e pararam”, descreve. “A prefeitura tinha de fazer uma obra definitiva aqui”, cobra. Segundo ele, quem frequenta o prédio é obrigado a deixar os carros na rua e teme que o barranco possa atingi-los.
Para especialistas, é preciso atenção ao tomar medidas por iniciativa própria. O professor aposentado da UFMG Euler Magalhães da Rocha, consultor de mecânica do solo e engenharia geotécnica, alerta que muitas dessas ações levadas a cabo em um momento de medo têm pouca eficácia. Mal executadas, ele alerta, essas medidas podem até agravar o problema. “Sacos de areia, por exemplo, não funcionam para escorar barrancos muito altos. No caso, podem até ajudar a represar um pouco mais a água, tornando mais forte o deslizamento”, adverte. “Já as lonas precisam ser bem presas. Se a água passar por baixo dela não adianta. E mais: a pessoa passa a não ver mais a evolução da movimentação do solo e o desmoronamento vem de surpresa”, acrescenta. Na opinião do engenheiro, valas para desviar a água que desce do alto dos morros ameaçados podem funcionar melhor.