Morar em bairros nobres de Belo Horizonte não tem sido garantia de segurança no caso de imóveis próximos a morros nas partes mais íngremes. Há locais onde caberia à prefeitura realizar intervenções, e outros nos quais a falta de ação de proprietários pode elevar riscos. Seja qual for o problema, o medo de deslizamentos é o que tem levado moradores ou administradores de prédios a investir por conta própria em medidas para evitar o pior, muitas vezes sem orientações técnicas adequadas.
No Mangabeiras, há uma obra particular em ritmo acelerado. Depois da queda de uma grande parte do muro de arrimo, o proprietário de uma mansão se apressa para finalizar, antes dos temporais de fim de ano, as obras de uma canaleta. No local, dois operários trabalham com blocos de concreto e manilhas para que a água se infiltre com menos intensidade na terra. O desmoronamento levou ainda grande quantidade de terra, pedras, mato e tocos de árvores para a parte de baixo. Procurado, o proprietário estava em viagem e não foi localizado pela reportagem.
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No interior, moradores têm receio de novos desastres causados pela chuvaPara se proteger de desastres da chuva, moradores fazem obras por própria conta e riscoOs moradores dessa parte mais baixa convivem há anos com deslizamentos que ameaçam suas residências e bloqueiam a rua. Recentemente, se organizaram para cobrar uma obra da prefeitura e assumiram eles mesmos parte das responsabilidades. “Pelejamos para a prefeitura fazer um muro de arrimo reforçado na rua (no lote da mansão). Meu marido vai plantar árvores e grama no terreno para ajudar a reduzir a infiltração de água. Nosso medo, agora, é mais com a casa lá do alto”, acrescenta a médica Zuleide Abijaodi.
No Bairro Santa Lúcia, o barranco atrás do Edifício Raja Workcenter apresentou movimentações de solo, ameaçando ceder em caso de chuvas mais fortes. A solução foi estender sobre a encosta uma grande lona azul com 60 metros de largura, em meio ao matagal verde.
Da Rua Marco Aurélio de Miranda, no Buritis, Oeste da capital, os moradores do edifício de número 30 podem contemplar os escombros e a terra do edifício Vale dos Buritis, que desmoronou em janeiro, depois de ter sido condenado em outubro do ano passado. Mas essa não é a única marca para lembrar dos riscos de se viver próximo a encostas em movimentação. No ano passado, parte do barranco que fica atrás do edifício da Rua Marco Aurélio de Miranda desabou, inundando a garagem com meio metro de lama e terra. Alguns veículos chegaram a ser atingidos. “Estamos preocupados. Chamamos a Defesa Civil para analisar os riscos. Disseram que não tinha perigo de o prédio desabar, mas nada mais foi feito.
Só duas intervenções concluídas este ano
Mesmo com a proximidade das chuvas, 16 das 18 obras nas áreas de maior risco da capital, como a Rua Patagônia, no Sion, e a Flavita Bretas, no Luxemburgo, não têm data para serem finalizadas. Restou reforçar os barrancos com linhas de sacos de areia e canaletas improvisadas no solo aberto. Essas intervenções foram acordadas com o Ministério da Integração Nacional (MI), que previu R$ 25 milhões em recursos. Contudo, até ontem, apenas R$ 6,25 milhões haviam sido liberados, referentes à primeira parcela, de 9 de março. As duas obras concluídas tiveram de receber recursos municipais para que estivessem prontas antes das tempestades de fim de ano. Com isso, foram concluídas a reconstrução da Rua Américo Macedo, no Bairro Gutierrez (Região Oeste), e a recuperação da galeria da Avenida Cristiano Machado, no São Gabriel (Região Nordeste).
Dentro do que foi pactuado com o ministério, encontram-se em execução as contenções de barrancos nas ruas Marzagânia, Carmela Alluoto, Guararapes, Itamar Teixeira e Avenida Dr. Cristiano Resende. A execução de jateamento de concreto no morro sobre a Rua Patagônia, no Sion, aguarda a assinatura de contrato. Ainda dependem do término de licitação as contenções de encostas nas ruas Operários e Chicago. Segundo a PBH, as demais estão em revisão de projeto para serem licitadas.
Das 40 intervenções planejadas para conter as águas de córregos ou impedir alagamentos de vias desde 2008, 14 (35%) foram concluídas, e, das 26 não executadas, 15 (57,7%) nem sequer saíram do papel.