Jornal Estado de Minas

Cuidadores das nascentes celebram preservação do Rio das Velhas

Rogério Sepúlveda, presidente do Comitê do Rio Velhas: reconhecimento a quem adota nascentes e incentivo para que surjam novos guardiões - Foto: Roberto Rocha/Esp. EM Muitos são apenas minas ou filetes d’água. Algo aparentemente insignificante, mas, na verdade, donos de uma imensa responsabilidade: formar o curso de córregos, ribeirões e rios. A origem de tudo isso é assim, tímida. Mas de tão frágil, precisa ser cercada de atenção. E é pensando nessa preservação e nas consequências dela que os cuidadores de nascentes doam muito além do que tempo para a causa ambiental. Nesse sábado, um evento do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH-Velhas) celebrou o trabalho desses personagens praticamente anônimos, no fechamento do projeto de valorização das nascentes urbanas, no Parque Ecológico do Eldorado, em Contagem. Foram identificados e cadastrados 345 pontos como esses, que dão vida aos ribeirões Arrudas e do Onça, em Belo Horizonte e na região metropolitana.


Gente como Wildes de Souza, morador da Vila São Paulo, em Contagem, e responsável pela nascente que brota no bairro, está fazendo a diferença. O filete de água localizado perto da quadra esportiva da Escola Municipal Virgílio de Melo Franco é conhecido da população há cerca de 40 anos, 15 dos quais sob a proteção desse senhor de fala mansa.

E ele tem certeza de que existem mais nas proximidades. “Tentei, com uma barra de ferro, identificar, mas encontrei muitas pedras. É preciso agora um trabalho de engenharia”, afirmou.

Wildes se orgulha de dizer que plantou boldo e caninha-de-macaco, dois tipos de plantas medicinais, no entorno da nascente, que serve como fonte para os jovens refrescarem o rosto depois do esporte. Numa garrafa PET, ele exibia a água e as plantas da região. “Os meninos levam para pôr em aquário e os peixinhos não só estão se reproduzindo como sorrindo também à toa com essa água”, brincou.

 

O presidente do CBH-Velhas, Rogério Sepúlveda, explica que só foram visitadas as nascentes que têm cuidadores.

Nos locais, foram encontradas situações diversas. Em comum, foi constatada a ocorrência de coliformes fecais, provenientes de esgotos e fossas. Apesar disso, o nível de qualidade da água foi classificada como médio. “O mais importante disso tudo é que há cidadãos voluntários cuidando de um bem que é público. Quando ele trabalha a melhoria da qualidade, não faz apenas por ele, mas para todos”, disse. “A qualidade de vida nas cidades está associada à quantidade de água e de verde no entorno”, completou.

A iniciativa identificou e cadastrou pessoas, nascentes e o que fazer para melhorar. Será necessário outro projeto para elaborar ações, mas, de acordo com Sepúlveda, sempre fortalecendo a imagem de quem cuida. “Isso incentiva quem já está fazendo algo a continuar e outros a aderir.” Foram identificadas 183 nascentes no Arrudas (o próprio Parque Eldorado abriga duas delas) e 162 no Onça.
Do total, 60 foram selecionadas para, inicialmente, receber planos de ação.

A analista da Copasa e representante da empresa nos subcomitês do Arruda e do Onça, Magda Vaz Tertuliano, disse que os problemas encontrados são comuns. Além do esgoto, foram identificadas ainda questões relacionadas à poluição, lixo, entulho e áreas cimentadas. Já os planos de intervenção sugerem ações como limpeza de quintal, reflorestamento, limpeza de caixa d’água e até quebra do piso que sufoca nascentes que insistem em brotar. “Em alguns casos será preciso buscar orientação técnica da Copasa”, afirmou Magda.

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