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Estado de Minas

Medidas para domar a água são essenciais no terreno impermeabilizado de BH

Com a impermeabilização atingindo taxas preocupantes em BH, como mostra estudo inédito da prefeitura, soluções que possibilitem aumentar infiltração na capital tornam-se urgentes


postado em 10/12/2012 00:12 / atualizado em 10/12/2012 07:06

Flávia Ayer


Em contraponto ao concreto e aridez que dominam a paisagem urbana, alternativas na construção civil tentam conciliar crescimento e preservação. Na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, a Associação de Moradores do Bairro Santo Antônio e Entorno da Avenida Prudente de Morais (Amor-Santo) propõe projeto que devolva à cidade as ruas de paralelepípedo, menos resistentes à infiltração da água no solo. Assim como os antigos calçamentos, outros materiais e soluções de arquitetura, como bacias de contenção, reservatórios e telhados verdes visam a compensar os impactos da crescente impermeabilização da cidade e captar água de chuva, como forma de impedir inundações. Todas formas de amenizar um cenário em que superfícies resistentes à água dominam 59% do território da capital, de acordo com estudo inédito da Secretaria Municipal Adjunta de Planejamento Urbano.

Com um balde de água na mão, o presidente da Amor-Santo, Gegê Angelino, prova que o retorno do calçamento às ruas, em substituição às camadas de asfalto ,pode ajudar a evitar as inundações frequentes na região da Avenida Prudente de Morais. A associação pretende apresentar à prefeitura e ao governo estadual projeto que, a partir da mão de obra de jovens que cumprem medidas socioeducativas ou de presidiários, retiraria as camadas e remendos de asfalto para recuperar o paralelepípedo.

“Cerca de 90% das ruas calçadas do Santo Antônio estão remendadas por asfalto. Gostaríamos de voltar ao formato original, com exceção das vias de maior movimento. Por ser um bairro íngreme, a velocidade da água é um negócio de assustar”, afirma o representante comunitário. O formato ainda está em elaboração, mas ideia é envolver também a iniciativa privada, que poderia receber incentivos fiscais para tocar o projeto. “O Santo Antônio seria um projeto piloto, pelas características que temos aqui, mas a ideia é exportar o modelo para outros bairros”, ressalta.

A Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) não conta com estimativa da extensão de ruas asfaltadas e revestidas por paralelepípedos em BH. Segundo o órgão, o critério usado para pavimentação das vias é acordado pelas regionais e a BHTrans. A Sudecap faz vistoria técnica para verificar as condições do pavimento, tipos de calçamentos, sistema de drenagem, classificação da via (arterial, coletora primária ou secundária e local), se oferece condições para intervenções ou se é necessário algum tipo de contenção de terreno.

LENTIDÃO Conforme o Estado de Minas mostrou no último sábado, as obras prometidas pela Prefeitura de BH para sanar os problemas com inundações engatinham desde a temporada de chuvas 2008/2009, quando cinco pessoas morreram. Das 40 intervenções planejadas para conter as águas de córregos ou impedir alagamentos, 14 (35%) foram concluídas, e das 26 não executadas, 15 (57,7%) nem sequer saíram do papel. Estão na prancheta ações no Ribeirão Arrudas, avenidas Cristiano Machado, Bernardo Vasconcelos e Francisco Sá, Córrego da Ressaca e Lagoa da Pampulha, áreas em que já se registraram prejuízos e morte nesta temporada de chuvas.

 

Especialista critica tolerância

Professor da Universidade Fumec, o arquiteto Flávio Negrão, sócio-diretor de um escritório especializado em projetos de arquitetura sustentável, tem dentro de casa, no Bairro Vale do Sol, em Nova Lima, Grande BH, um exemplo de harmonia com o meio ambiente. Além de preservar a maior parte da mata nativa, ele tem um sistema de aproveitamento da água das chuvas. “A caixa de captação tem a função de reter a água, para ser lançada progressivamente no terreno ou usada em atividades domésticas”, conta Flávio, que critica os parâmetros de impermeabilidade de BH. “As taxas são muito permissivas. Em certos locais, você pode ter até 100% de impermeabilidade. Nos projetos de arquitetura sustentáveis, o que tentamos fazer é trabalhar com superfície permeável acima do exigido. Mais que prevenir enchentes, a manutenção das áreas verdes favorece a qualidade de vida.”

O consultor em geologia em meios urbanos Edézio Teixeira de Carvalho, professor aposentado do Instituto de Geociências da UFMG, não tem dúvida de que o futuro da água em meio urbanos depende das formas de pensar essas compensações. “Além de bacias de contenção, há possibilidade, por exemplo, de introduzir o uso da água de chuva na matriz de abastecimento da cidade”, afirma. O geólogo cita também o uso dos telhados verdes, em vez de telhas em que a água escorre.

A solução foi adotada em uma concessionária na Pampulha, onde um gramado verde de 400 metros quadrados reveste a laje. “A água é recolhida e vai direto para o sistema de drenagem pluvial”, comenta o diretor da concessionária. “No nosso caso, acabamos fazendo também por uma questão de estética”, diz.



Prédios com verde de mentirinha
Cristiana Andrade

Em 2007, recebi denúncia de um cidadão sobre um edifício que acabava de ficar pronto e que havia coberto sua quadra de esportes de concreto com um tapete de grama, apenas para iludir a fiscalização e obter o Habite-se da prefeitura. Em casos como esse, a administração aprova uma obra que tem certo percentual de área verde no projeto, mas, na verdade, ela não existe: vai desaparecer assim que Habite-se for expedido. É uma situação similar à das varandas: são colocadas para atender o que está no escopo arquitetônico. Liberada a obra, o dono pode mexer na estrutura como bem entender. As práticas ocorrem, todo o mercado sabe. Tempos depois, ao adquirir um imóvel, pude comprovar pessoalmente a artimanha do verde de mentirinha: a construtora encheu a quadra de grama até conseguir o documento. Depois, tirou a vegetação. Resultado: ganhamos uma enorme infiltração na garagem e ficamos com uma área cimentada no prédio, onde duas vezes por semana meia dúzia de pessoas jogam bola. Propor uma área verde e depois desprezá-la faz sentido? Em tempos de um calor de derreter, mudanças no clima e falta de sombra em Belo Horizonte, fica a pergunta: quem está enganando quem?

O que diz a lei

A Lei de Parcelamento, Ocupação e Uso do Solo (nº7.166/96) estabelece a taxa de permeabilidade para terrenos particulares. Segundo a legislação, lotes situados em zonas de proteção ambiental têm que ter no máximo 5% de impermeabilidade. Já naqueles localizados em zonas de proteção esse índice vai para 30%. Na Área de Diretrizes Especiais da Bacia da Pampulha, podem ser até 70% impermeáveis. Em grande parte dos lotes, a lei é mais permissiva e admite impermeabilidade entre 80% e 90%. A lei admite, em algumas situações, impermeabilidade de 100%. Nesse caso, há exigência de que as edificações mantenham áreas sem cobertura de telhado e dotadas de vegetação. Outro recurso é a construção de caixa de captação e drenagem que retarde o lançamento da água de chuva.


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