Apesar da piora no índice de coliformes fecais e do fato de nenhuma das grandes obras de despoluição da Lagoa da Pampulha ter começado este ano, a Prefeitura de Belo Horizonte e o governo do estado mantêm a chamada Meta 2014, de limpar o lago que é símbolo da capital antes dos jogos da Copa do Mundo. Somando-se os recursos para intervenções da prefeitura e da Copasa, são R$ 222 milhões para que a companhia de abastecimento e saneamento da capital impeça que mais esgoto entre no reservatório e que a administração municipal limpe o reservatório. Ontem, iniciou-se a preparação de uma sonda flutuante para monitorar a qualidade da água da lagoa e fornecer dados para a despoluição.
Para o professor de liminologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) José Fernandes, o prazo de despoluição é muito apertado e dificilmente as ações conseguirão tornar as águas da Lagoa da Pampulha limpas. “A medida mais efetiva é impedir que a carga orgânica trazida pelo lançamento de esgoto continue. Mas duvido que mude num curtíssimo prazo. É como um fumante: a primeira coisa é parar de fumar, depois se trata do pulmão”, compara. O especialista reclama de a sociedade acadêmica não ter sido consultada nesse processo. “Por isso não sabemos os métodos.
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Laudo revela que Lagoa da Pampulha está 100% contaminadaLagoa da Pampulha será despoluída só depois da CopaA Copasa tenta impedir que mais esgoto entre na Pampulha ampliando a coleta e a interceptação dos esgotos sanitários no entorno e encaminhando-os às estações de tratamento de esgotos (ETEs). Em parceria com as prefeituras de BH e Contagem, a empresa investe R$ 102 milhões para implantar redes coletoras de esgotos e interceptores, com o objetivo de retirar os lançamentos indevidos de esgoto nas sub-bacias da Pampulha. O plano é implantar 40 mil metros de redes coletoras, 15 mil metros de interceptores, além da urbanização de córregos, até dezembro do ano que vem. Um problema é a resistência de moradores de áreas de Contagem, muitos dos quais não querem pagar para ligar o esgoto à rede sanitária. A Copasa não informou como vai lidar com esse obstáculo.
Tecnologia
A sonda para monitorar a lagoa começa a funcionar na próxima semana.
A coleta da água na sonda permitirá que sejam analisados aspectos como quantidade de oxigênio dissolvido, pH, turbidez, nível de clorofila A (que dá o aspecto verde à água), condutividade elétrica, temperatura e salinidade, em diferentes profundidades. A máquina possibilita a leitura desses dados em distâncias de até 14 metros do fundo à borda da água, mas inicialmente os trabalhos serão feitos somente com fundura de um metro, apesar de estar em um ponto com nove metros de profundidade. O projeto foi batizado de Avaliação de qualidade da água por sistema de monitoramento em tempo real. Uma sonda semelhante à instalada na Pampulha funciona desde outubro no Rio das Velhas, no município de Várzea da Palma, no Norte de Minas.
De acordo com a analista ambiental do Igam, Vanessa Kelly Saraiva, o monitoramento permitirá uma resposta rápida das ações de gerenciamento e correção de impactos na lagoa, bem como a constante avaliação das ações de despoluição que vêm sendo desenvolvidas nos córregos que deságuam no espelho d’água.
O projeto de instalação do aparelho é da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes), responsável pela aquisição, e será controlado pela Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec), em parceria com o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam). Pesquisador do Cetec e coordenador do projeto Régis Costa Santos, afirma que a proposta da coleta de água contínua e automatizada vai contribuir para a gestão dos recursos hídricos onde está instalada. Ele reforça que as medidas serão ainda fundamentais para novos trabalhos científicos nas áreas de preservação e avaliação de recursos hídricos.
Enquanto isso, PBH busca título de patrimônio
Amanhã, às 9h30, no Museu de Arte da Pampulha (MAP), o prefeito Marcio Lacerda (PSB) vai assinar a portaria que cria uma comissão para acompanhamento e gestão do projeto para elevar a Pampulha a Patrimônio Histórico da Humanidade. O título concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) já contemplou, em Minas, os centros históricos de Ouro Preto, na Região Central, e Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, e a Basília do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, na Região Central.
Memória: R$ 333 mi e poucos resultados
Só entre 1997 e o ano passado foram injetados R$ 333,1 milhões na Lagoa da Pampulha para sua despoluição. Um dos símbolos da capital mineira, a lagoa foi construída com o represamento de córregos da região, em 1938, na administração do prefeito Otacílio Negrão de Lima. Mas foi no governo de Juscelino Kubistchek (1940 a 1945) que a lagoa recebeu tratamento urbanístico encomendado ao arquiteto Oscar Niemeyer. Em 1954, a represa rompeu na altura do aeroporto da Pampulha, inundando várias partes da estrutura. A reconstrução terminou com a inauguração pelo presidente Getúlio Vargas. Entre os anos 1950 e 1960, a região se valorizou e muitas casas foram construídas. O entorno da lagoa sempre foi usado para recreação.