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Estado de Minas

Prefeitura e governo do estado mantêm plano de despoluir a lagoa antes da Copa de 2014

Apesar de alta na incidência de coliformes fecais, autoridades insistem na promessa. Especialista considera difícil cumprir meta


postado em 14/12/2012 06:00 / atualizado em 14/12/2012 07:03

Sonda que custou R$ 250 mil começou ontem a ser preparada: equipamento vai ajudar a monitorar a qualidade da água da lagoa(foto: PAULO FILGUEIRAS/EM/D.A PRESS)
Sonda que custou R$ 250 mil começou ontem a ser preparada: equipamento vai ajudar a monitorar a qualidade da água da lagoa (foto: PAULO FILGUEIRAS/EM/D.A PRESS)


Apesar da piora no índice de coliformes fecais e do fato de nenhuma das grandes obras de despoluição da Lagoa da Pampulha ter começado este ano, a Prefeitura de Belo Horizonte e o governo do estado mantêm a chamada Meta 2014, de limpar o lago que é símbolo da capital antes dos jogos da Copa do Mundo. Somando-se os recursos para intervenções da prefeitura e da Copasa, são R$ 222 milhões para que a companhia de abastecimento e saneamento da capital impeça que mais esgoto entre no reservatório e que a administração municipal limpe o reservatório. Ontem, iniciou-se a preparação de uma sonda flutuante para monitorar a qualidade da água da lagoa e fornecer dados para a despoluição.

Para o professor de liminologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) José Fernandes, o prazo de despoluição é muito apertado e dificilmente as ações conseguirão tornar as águas da Lagoa da Pampulha limpas. “A medida mais efetiva é impedir que a carga orgânica trazida pelo lançamento de esgoto continue. Mas duvido que mude num curtíssimo prazo. É como um fumante: a primeira coisa é parar de fumar, depois se trata do pulmão”, compara. O especialista reclama de a sociedade acadêmica não ter sido consultada nesse processo. “Por isso não sabemos os métodos. Não acredito em melhoria milagrosa”, disse.

Até o mês que vem a PBH espera lançar o edital para a dragagem do fundo da lagoa. Segundo o gerente de Planejamento e Monitoramento Ambiental, Weber Coutinho, serão extraídos 750 mil metros cúbicos de sedimentos e lixo do fundo do lago. Depois que isso for feito, duas outras medidas serão tomadas no que se refere à qualidade da água. Uma delas é a introdução de oxigênio nas águas por meio de aparelhos chamados aeradores. As máquinas são espécies de hélices fixas e outras móveis flutuantes usadas para injetar ar na água. A outra ação é chamada biorremediação e consiste em povoar o lago com micro-organismos que se alimentam dos poluentes. O custo estimado para todas essas medidas é de R$ 120 milhões, já liberados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). “São medidas para acelerar a recuperação. Se apenas impedirmos os esgotos de entrar no lago, seriam necessários cinco anos para a natureza despoluir a Pampulha. É um prazo que pode ser cumprido se tudo sair nas datas previstas”, afirma o gerente.

A Copasa tenta impedir que mais esgoto entre na Pampulha ampliando a coleta e a interceptação dos esgotos sanitários no entorno e encaminhando-os às estações de tratamento de esgotos (ETEs). Em parceria com as prefeituras de BH e Contagem, a empresa investe R$ 102 milhões para implantar redes coletoras de esgotos e interceptores, com o objetivo de retirar os lançamentos indevidos de esgoto nas sub-bacias da Pampulha. O plano é implantar 40 mil metros de redes coletoras, 15 mil metros de interceptores, além da urbanização de córregos, até dezembro do ano que vem. Um problema é a resistência de moradores de áreas de Contagem, muitos dos quais não querem pagar para ligar o esgoto à rede sanitária. A Copasa não informou como vai lidar com esse obstáculo.

Tecnologia

A sonda para monitorar a lagoa começa a funcionar na próxima semana. O equipamento tem tecnologia norte-americana, funciona com energia solar e foi adquirido por R$ 250 mil. Com 500 kg, ele vai flutuar em uma boia fixada por quatro âncoras no ponto entre o Iate Tênis Clube e o Museu de Arte da Pampulha (MAP). A partir da semana que vem, técnicos do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) poderão fazer a leitura dos dados da sonda, de meia em meia hora, diretamente da sede do órgão, na Cidade Administrativa. As informações serão recebidas com uso do sinal GPRS, da telefonia móvel. Apesar de fazer parte das ações para despoluição da lagoa, a instalação do aparelho atuará somente como apoio, permitindo a medição dos parâmetros físico-químicos da água. Resolver o problema da contaminação e do aporte de esgoto ainda é um problema distante de ser resolvido.

A coleta da água na sonda permitirá que sejam analisados aspectos como quantidade de oxigênio dissolvido, pH, turbidez, nível de clorofila A (que dá o aspecto verde à água), condutividade elétrica, temperatura e salinidade, em diferentes profundidades. A máquina possibilita a leitura desses dados em distâncias de até 14 metros do fundo à borda da água, mas inicialmente os trabalhos serão feitos  somente com fundura de um metro, apesar de estar em um ponto com nove metros de profundidade. O projeto foi batizado de Avaliação de qualidade da água por sistema de monitoramento em tempo real. Uma sonda semelhante à instalada na Pampulha funciona desde outubro no Rio das Velhas, no município de Várzea da Palma, no Norte de Minas.

De acordo com a analista ambiental do Igam, Vanessa Kelly Saraiva, o monitoramento permitirá uma resposta rápida das ações de gerenciamento e correção de impactos na lagoa, bem como a constante avaliação das ações de despoluição que vêm sendo desenvolvidas nos córregos que deságuam no espelho d’água. O equipamento também irá monitorar os parâmetros meteorológicos de pressão atmosférica, radiação global, temperatura, umidade e precipitação.

O projeto de instalação do aparelho é da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes), responsável pela aquisição, e será controlado pela Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec), em parceria com o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam). Pesquisador do Cetec e coordenador do projeto Régis Costa Santos, afirma que a proposta da coleta de água contínua e automatizada vai contribuir para a gestão dos recursos hídricos onde está instalada. Ele reforça que as medidas serão ainda fundamentais para novos trabalhos científicos nas áreas de preservação e avaliação de recursos hídricos.


Enquanto isso, PBH busca título de patrimônio


Amanhã, às 9h30, no Museu de Arte da Pampulha (MAP), o prefeito Marcio Lacerda (PSB) vai assinar a portaria que cria uma comissão para acompanhamento e gestão do projeto para elevar a Pampulha a Patrimônio Histórico da Humanidade. O título concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) já contemplou, em Minas, os centros históricos de Ouro Preto, na Região Central, e Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, e a Basília do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, na Região Central.

Memória: R$ 333 mi e poucos resultados


Só entre 1997 e o ano passado foram injetados R$ 333,1 milhões na Lagoa da Pampulha para sua despoluição. Um dos símbolos da capital mineira, a lagoa foi construída com o represamento de córregos da região, em 1938, na administração do prefeito Otacílio Negrão de Lima. Mas foi no governo de Juscelino Kubistchek (1940 a 1945) que a lagoa recebeu tratamento urbanístico encomendado ao arquiteto Oscar Niemeyer. Em 1954, a represa rompeu na altura do aeroporto da Pampulha, inundando várias partes da estrutura. A reconstrução terminou com a inauguração pelo presidente Getúlio Vargas. Entre os anos 1950 e 1960, a região se valorizou e muitas casas foram construídas. O entorno da lagoa sempre foi usado para recreação. A degradação se acelerou na década de 1970, com a proliferação de caramujos transmissores da esquistossomose, a proliferação de mosquitos, plantas aquáticas e cianobactérias. Em 1998, foram cinco operações de limpeza, com 200 toneladas de lixo retiradas. Em 2004, 2 mil toneladas de lixo foram retiradas. Hoje, as principais medidas da prefeitura são mitigadoras, com dragagens e retirada de lixo e aguapés.


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