Bem na entrada do modesto apartamento no Conjunto Estrela Dalva, Região Oeste de Belo Horizonte, está o hall da fama do tenista Rafael Medeiros, de 22 anos, que participou este ano de sua primeira Paralimpíada, em Londres. Apesar de o jovem deixar claro que não gosta de ser tratado como alguém “especial”, a mãe, Marina Medeiros, de 51, nem tenta esconder o orgulho que sente do filho. Ela cuida de cada um dos troféus de diversos tamanhos e diferentes posições que lotam o aparador posicionado na sala de visitas.
Mal sobra espaço para Rafa passar com sua cadeira de rodas, a raquete e a bola. No meio do corredor, o atleta dá um giro inesperado sobre as rodas, revoltado, no momento em que a mãe começa a falar sobre o episódio de 2010. “Nosso Natal este ano vai ser de agradecimento a Deus pelo milagre. Ninguém imaginava que Rafael estaria disputando as Olimpíadas. Ele ficou entre a vida e a morte”, revela.
Naquele ano, Rafael encarou várias cirurgias e se recuperou de um quadro de hidrocefalia, conseqüência do cisto aracnoide na medula tratado desde a infância. O rapaz, que treinava desde novo em outra modalidade esportiva, recuperou a força física em tempo recorde. Em 2011, já participava do torneio internacional de tênis paralímpico.
Em um ano, treinando em média duas horas e meia por dia, Rafael conseguiu se posicionar entre os 56 melhores atletas paralímpicos do mundo, formando dupla com Daniel Rodrigues, de Santa Luzia. Com isso, atingiu a pontuação necessária para representar o Brasil em Londres. Na cidade olímpica, sentiu a diferença de se locomover em um ambiente totalmente adaptado às pessoas com necessidades especiais. “Em Londres, parecia outro planeta. Rafa contou que não precisou de ajuda para nada. Ele não reclama de nada nem gosta que eu fale, mas aqui a rua é muito íngreme, nem todos os ônibus têm elevador e alguns motoristas são incapazes de parar rente ao passeio para ele subir. Acredita?”, entrega Marina.
Ela conta que o jovem vai sozinho aos treinos, tocando a cadeira sobre a passarela de pedestres. Perguntado se ele pode dar um conselho a quem está enfrentando barreiras pessoais, Rafael é taxativo, apesar da pouca idade: “A pessoa não pode desistir no primeiro obstáculo. Tem de seguir seu caminho, sem fazer muito drama. Assim, a vida se torna simples”.