Jornal Estado de Minas

Pesque-pague vira obstáculo para obras de duplicação da Avenida Pedro I



No meio do caminho há um oásis, com muito verde, nascente de água fresca, duas lagoas e muitas tilápias, surubins e pacus. Sim, um oásis que interrompe a duplicação da Avenida Pedro I, no Bairro Santa Branca, na Pampulha, em Belo Horizonte, mas que está com os dias contados. Os donos de um pesque-pague e de um drive-in ainda não receberam a indenização da prefeitura para liberar os imóveis para continuação das obras. Enquanto isso, o verde prevalece em meio ao asfalto e escombros de casas e prédios demolidos. “O processo está paralisado, porque se trata de uma desapropriação judicial e depende do juiz para emissão de posse. Até que haja uma decisão da Justiça, a obra não pode continuar”, informou a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), por meio da sua assessoria de imprensa.

José Antônio Teixeira, o Zezé, “não está por dentro” da sua idade, mas conta nos dedos os 11 anos que passou alimentando os peixes com ração e cuidando da jardinagem do pesque-pague. “Tem pacu de mais de quatro palmos”, diz o jardineiro.

“E não é história de pescador”, garante. Nas horas de descanso, ele gosta de ficar debaixo de uma laje apreciando a nascente de água cristalina, onde é possível enxergar as pedras no fundo, a poucos metros da barulhenta e poluída Avenida Pedro I. “A gente fica triste de saber que vão passar o trator por cima dessa beleza. Agora, é partir para outra”, lamenta o jardineiro, em clima de despedida, comentando que ultimamente poucos pescadores têm ido ao local. “O cliente paga pelo peso do peixe que pesca e pode levá-lo para casa. Se o peixe é muito pequeno, ele é devolvido para a lagoa. Os grandes são difíceis de pegar no anzol”, conta Zezé.
O playground de madeira, onde crianças se divertiam enquanto os adultos pescavam, está desativado por falta de manutenção.

Alguns vizinhos lamentam a fim da área verde, mas outros comemoram e têm suas justificativas. O engenheiro Fabiano Lúcio Alves Pereira Fróes, de 35 anos, que mora na rua lateral, a Martinica, lamenta o fim do que considera um paraíso. “Temos poucas áreas verdes em BH. As árvores e a água das lagoas deixam o ar mais úmido”, observa o engenheiro. Segundo ele, com o fim do verde e das lagoas, a Avenida Pedro I vai ficar mais próxima da sua casa e haverá mais barulho e poeira. Por outro lado, Fabiano acredita que terá mais sossego com o fim do pesque-pague, lembrando que o espaço é alugado para festas e a vizinhança não consegue dormir com a poluição sonora. “Antes, era uma festa atrás da outra. Neste fim de ano, foram apenas três, mas que incomodaram muito também”, disse.

FESTAS

A estudante Ana Sueli Botelho, de 35, disse que vai soltar fogos de artifício pelo fim do pesque-pague e também do drive-in.
“Já sofremos demais com o barulho das festas e com a prostituição e usuários de drogas atraídos pelo drive-in. Perdemos um carro apedrejado na rua por prostitutas que ficam pegando clientes na porta do drive-in. A maioria dos moradores da Rua Martinica foi embora e alugou suas casas para empresas”, disse Ana Sueli. “Se a gente vai à padaria, é preciso buscar outros caminhos. Os carros ficam parando e os motoristas perguntando se somos prostitutas”, reclama a estudante, que chegou ao bairro aos 5 anos e lembra quando o pesque-pague ainda era um brejo. A presença de garotas de programa nas imediações também incomoda o engenheiro Fabiano. “Elas ficam a noite toda e agora até durante o dia”, acentou. Os donos do pesque-pague e do drive-in foram procurado diversas vezes pelo Estado de Minas, mas não foi localizado..