Jornal Estado de Minas

Autuações por crime em BH triplicam com a nova Lei Seca

Desde a entrada em vigor das regras mais rigorosas, média de motoristas flagrados dirigindo sob efeito de bebida alcoólica saltou de 1,1 para 3,2 por dia em BH

Flávia Ayer


Nas últimas três semanas, 26 motoristas que dirigiam bêbados em Belo Horizonte foram presos em flagrante e responderão por crime de trânsito mesmo sem a prova do bafômetro, segundo a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds)
A abertura dos inquéritos é resultado da aplicação da versão linha-dura da Lei Seca, sancionada em 20 de dezembro pela presidente Dilma RousseffAlém de dobrar o valor da multa, que passou para R$ 1.915,40, as alterações permitem que fotos, vídeos, testemunhos e até a constatação de sinais de embriaguez pelos policiais sejam usados para enquadrar infratores

A nova Lei Seca triplicou o número de crimes de trânsitoEnquanto antes da mudança uma média de 1,14 motorista – cerca de oito por semana – ia parar na delegacia por desrespeitar a lei, depois, esse número passou para 3,2 motoristas por dia, quase 23 por semanaNa ponta do lápis, o aumento foi de 189%Para ter uma ideia do impacto, do dia 21 até anteontem, do total de 59 condutores processados, apenas 33 haviam soprado o bafômetro e tiveram nível de álcool acima de 0,34 mg/l, caracterizando crime de trânsitoOs outros 26 haviam se recusado a fazer o teste e, constatadas evidências do consumo de álcool pelos policiais, foram conduzidos à delegacia e encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML) para análise de um perito.

Como as blitzes em BH ainda não contam com máquinas fotográficas e filmadoras, os policiais seguem orientações da Resolução nº206, de 2006, do Conselho Nacional de Trânsito (Contran)O documento estabelece que, diante da recusa, a autoridade policial pode caracterizar o crime de trânsito descrevendo aparência, capacidade motora e verbal, atitude e orientação do motoristaO relato deve trazer informações como olhos vermelhos, vômitos, desordem nas vestes ou hálito de álcool, fala alterada, dificuldade no equilíbrio, além de agressividade, exaltação e até detalhes se o motorista sabe onde está ou onde mora.

“A grande maioria dos que se recusam a soprar o bafômetro tem culpa e apresenta sinais de embriaguezHoje, é interessante o condutor fazer o teste, pois é uma contraprova e pode apontar níveis de álcool que caracterizem infração de trânsito e não crime”, afirma o comandante do Batalhão de Trânsito de BH, tenente-coronel Roberto Lemos
“Temos conduzido esses motoristas que se recusam a fazer o teste à delegacia e, além do depoimento do policial, eles são encaminhados ao IML para análise do peritoO condutor é autuado pelo delegado por crime e, além da multa, tem de pagar fiança para ser liberado e responder em liberdade”, explica Lemos.

O subsecretário de Promoção da Qualidade e Integração do Sistema de Defesa Social, Robson Lucas da Silva, afirma que câmeras fotográficas e filmadoras e mais 100 bafômetros serão adquiridos até março para auxiliar o trabalho nas blitzes“A Polícia Militar está fazendo um levantamento e nos informará quantas máquinas serão necessárias”, afirmou Silva, que ressalta que a contratação de médicos legistas para acompanhar as blitzes está em estudoAlém de aumentar o valor da multa e ampliar a possibilidade de caracterização do crime de trânsito, as mudanças na Lei Seca alteram a própria definição do crime, que não está mais vinculado à quantidade de álcool ingerida.

Avanço

O advogado Carlos Cateb, que participou da elaboração do Código de Trânsito Brasileiro, considera um avanço as alterações na legislação“As mudanças deram mais recursos para a polícia e ao Judiciário, com o uso de filmagem, foto e provas testemunhaisEnfraqueceu também aquela justificativa odiosa dos que se recusam a soprar o bafômetro de que ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo”, comenta o especialista, que cobra uma aplicação mais ampla da Lei Seca em Minas“O efetivo da PM é muito pequeno frente à necessidade”, ressalta.

Palavra de especialista
Avaliação médica é essencial
Valdir Campos, Membro da Comissão de Controle do Tabagismo, Alcoolismo e Outras Drogas da Associação Médica de Minas Gerais (AMMG)

Estudos mostram que um policial apenas não é capaz de reconhecer um motorista sob efeito do álcool, na maioria dos casosHá pessoas que não aparentam, mas estão embriagadas, assim como o inversoTem gente que apresenta tremores por causa de alguma doença, por isso, a avaliação de um médico, além de exames de sangue, urina e saliva, é importante para constatar se um motorista realmente consumiu álcool ou outras drogas.


TIRE DÚVIDAS

Se o motorista soprar o bafômetro e o nível de álcool for menor que 0,13 mg/l

O condutor é liberado

Se o motorista soprar o bafômetro e o nível de álcool estiver entre 0,14mg/l e 0,33 mg/l


O condutor perde o direito de dirigir por um ano e recebe multa de R$ 1.915,40


Se o motorista soprar o bafômetro e o nível de álcool estiver acima de 0,34 mg/l

Além de perder o direito de dirigir por um ano e pagar multa de R$ 1.915,40, o condutor será processado por crime de trânsito, de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB).

Se o motorista não soprar o bafômetro?

Independentemente de ele ter ou não sinais evidentes de embriaguez, perde o direito de dirigir por um ano e recebe multa de R$ 1.915,40Se forem constatadas evidências do consumo de álcool, ele ainda será processado por crime de trânsito, de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB).