Jornal Estado de Minas

Aula de inglês atrai 80 prostitutas em BH

Vocabulário segue onda masoquista

Sandra Kiefer - Especial para o EM
Recém-chegada à atividade, Bruna não abre mão do dicionário - Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press


To whip é chicotear, na tradução simples do inglês para o portuguêsNa onda do maior best-seller dos últimos tempos, Cinquenta tons de cinza, este é um dos termos obrigatórios a ser ensinados no curso básico de inglês para prostitutas, com vistas à Copa do Mundo de 2014, previsto para começar em fevereiro na sede da Associação das Prostitutas de Minas Gerais (Aprosmig)Apesar de já contar com 80 candidatas inscritas, a data ainda não é certa em função da seleção de professores, que devem estar preparados para adaptar ao idioma tupiniquim todos os tipos de fetiches, segundo explica Cida Vieira, presidente da entidade, que está localizada na Rua Guaicurus, 268, ao lado do Hotel Brilhante, um dos pontos de maior rotatividade de clientes do Centro de Belo Horizonte, região onde está sendo erguido o maior hotel voltado para o Mundial do ano que vem.

Para dar aula na Aprosmig, o(a) professor(a) deve estar preparado(a) para oferecer um pequeno dicionário dos termos em voga entre as meninas da Guaicurus, tais como podolatria (loucura por pés), banho de neve (pingar vela sobre o corpo do cliente) e variações de submissão“A modalidade de escravo é muito requisitadaOs clientes pedem que a gente pise no pescoço deles e eles adoram”, conta Cida Vieira, que ainda não leu a trilogia famosa“Não tive tempo, mas já me contaram do que se trata”, diz ela, que oferece o programa com fetiche a R$ 150, cinco vezes mais em relação ao trivial de R$ 30, com duração de 20 minutos

 “Só sei falar money, good morning e good evening em inglêsVou ser uma das alunas do curso”, admite a presidente da entidade, vacilando na pronúncia do boa-noitePara Cida Vieira, assim como todos os setores da economia estão se movimentando para a Copa do Mundo de 2014, não poderia ser diferente com as profissionais do sexo“O inglês é importante não só para a Copa, mas também para a vidaTodos os dias atendemos aqui italianos
Também já recebi canadensesNa nossa profissão, o diálogo é essencial”, conta

“Quem tem boca vai a Roma”, reza o antigo ditadoE vai também à Espanha, Estados Unidos, Austrália e Portugal“Permita-me unas copas?”, arrisca um portunhol a loura Patrícia, de 47 anos, natural do Rio Grande do Sul, mas que trabalha na Guaicurus desde os 18Já conheceu parte do mundo com o dinheiro arrecadado nos programas e sabe “se virar” em diversas línguas“Sei falar bem o português de Portugal, porque morei dois anos por láArrebentei ganhando R$ 100 mil em um bingo e fui ficando

Novata

Do alto de sua experiência, Patrícia pretende se aposentar no ano da Copa no Brasil“Vai ser muita encheção de saco, vai dar muita polícia”, questiona
Já a colega Bruna, de 18 anos, está entusiasmada com os novos mundos que podem se abrir com a chegada do Mundial“Os estrangeiros devem ser mais educados que os brasileiros, devem tratar a gente melhor”, confessa a menina, que ainda não completou um mês na nova carreiraCom segundo grau completo, ela conta que gosta de estudar e tem facilidade de aprenderEntrou nesta vida porque tem duas filhas para sustentar, uma de 2 anos e outra de 8 meses“Meu sonho é conhecer um japonês e me apaixonar”, revela.

Velha de guerra, Daniela já se inscreveu no curso de inglês oferecido pela entidade de classeCom os cabelos longos e negros, pele cor de canela, ela se comunica por meio da internet com um irmão na Itália, um amigo nos EUA e quatro amigos virtuais na TurquiaDe certa forma, sabe trocar palavras em turco, que vai traduzindo pela ferramenta de tradução do GoogleTi voglio bene, comprova ela, tímida, mostrando na prática o que disse a ela recentemente a sobrinha de 2 anos, que mora na Itália.