A longa novela de revitalização do Anel Rodoviário, por onde passam cerca de 140 mil veículos por dia, complica cada vez mais o saturado trânsito de BH, porque compromete o início de outras intervenções viárias importantesApesar da demora para início das obras e do aumento dos nós no tráfego, o superintendente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), José Maria da Cunha, diz que as alças do Rodoanel e até do Portal Sul, que desafogariam o congestionamento diário do trevo do Belvedere, no entroncamento das BRs 356 e 040 com a MG-030, só serão executadas depois que o projeto executivo do Anel estiver pronto e as obras engatilhadas, às vésperas da Copa do MundoA previsão é de que só em 2017 a rodovia esteja de cara nova
Cunha reconhece que os projetos do Rodoanel e o Portal Sul ficarão estagnados, mas justifica que as obras se somam e que são interdependentesEspecialistas discordamPara eles, todas as intervenções são necessárias e deveriam ser executadas paralelamenteO superintendente do Dnit pede paciência para que o trabalho seja benfeito, sem risco de precisar ser reajustado.
“A velocidade não é a que a população anseia, mas é necessário ter paciência para fazer um bom trabalhoOs projetos para enfrentar o trânsito local e de longa distância são interdependentes e iniciá-los pontualmente pode acabar interferindo”, afirma José Maria
“A Alça Norte do Rodoanel, por exemplo, tem um desenho complexo e é necessário um projeto bem detalhado para a execução da obraO trecho Sul, em função das melhorias propostas pelo DER para o Anel, deve sofrer alterações tambémEssas alças são complementares e precisarão de encaixes
O engenheiro civil e mestre na área de transportes Silvestre de Andrade Puty Filho afirma que todas as obras são urgentesEle destaca que a única relação entre elas é o objetivo: dar fluidez ao trânsito“O Rodoanel é uma alternativa ao Anel atualÉ um novo projeto, com outro itinerário, para tirar os veículos do Anel e substituí-loO Portal Sul, por sua vez, é um projeto importante para aliviar o trânsito do Bairro Belvedere, não tem nada a ver com o Anel”, explica o especialista
Silvestre concorda que as obras do Anel precisam, “por exigência lógica”, de um bom projeto executivo, mas lembra que os demais projetos básicos foram elaborados há mais de 10 anos“São intervenções complementares, mas independentesTodos são indispensáveis, urgentes e o melhor seria se fossem executados em paraleloComeçar pelo Anel e deixar as outras obras na gaveta atrasa soluções que são para hoje”, enfatiza Silvestre.
Diretor de Trânsito da Associação de Moradores do Belvedere, José Renato Pereira Filho, diz que a iniciativa privada já arcou com R$ 8 milhões do valor total do complexo viário do Portal Sul, orçado em R$ 28 milhõesCom medidas compensatórias, uma pequena alça e uma trincheira serão concluídas em março
José Renato propõe que a arrecadação do bairro seja revertida para o próprio Belvedere e lembra que a obra poderia ter sido assumida pela prefeitura, uma vez que integrou o Orçamento Participativo mas acabou perdendo para a Praça São Vicente.
“O Portal Sul é importante porque vai desfazer o nó no entorno do BH Shopping, que para todos os dias, principalmente às 18hPelo fluxo de hoje, é uma obra que já nasce com capacidade esgotada, uma vez que o projeto tem 10 anosHá reflexos na Avenida Nossa Senhora do Carmo e na Rua Patagônia, por exemplo, e os acessos já não aguentam maisSe tivermos que esperar pelo Anel, o bairro vai parar e vai ser melhor andar de helicóptero para escapar do caos absoluto”
Na avaliação do especialista em transportes e trânsito e doutor em engenharia de transportes Frederico Rodrigues, se não há orçamento para contemplar todos os projetos ao mesmo tempo, a escolha deve ser feita pela segurança viária, em detrimento da fluidez“Nesse caso, eu começaria mesmo pelo Anel, que é a via com mais capacidade de escoamento na cidade e precisa de uma revitalização pautada na segurança viária”, diz ele“Há três variáveis quando se pensa num projeto de tráfego e quase nunca é possível contemplar os trêsOu se aposta na mobilidade ou na segurança viária ou na acessibilidade, o que necessariamente reduz a capacidade de circulação”