Jornal Estado de Minas

Dirigir sem o cinto foi a infração mais registrada nas BRs mineiras em 2012

Especialista cobra campanhas e alerta: uso do equipamento reduz em 70% risco de morte em acidentes

Flávia Ayer Guilherme Paranaiba
Motorista de ônibus é flagrado na br-381 sem o cinto: número de multas aplicadas por falta do equipamento em brs de minas saltou de 4.569 para 9.084 de 2011 para 2012, crescimento de 77% - Foto: MARCOS MICHELIN/EM/D.A PRESS


Apesar de obrigatório e reconhecido como um salva-vidas, o cinto de segurança é esquecido por cada vez mais motoristas em Minas, tanto nas estradas quanto em vias urbanasA falta de uso do equipamento foi a infração campeã em registros da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no ano passado nas BRs que cortam o estadoForam 8.084 motoristas flagrados sem o cinto em 2012, média de 22 por dia, contra 4.569 no ano anteriorO crescimento de 77% levou a infração da quarta para a primeira posição no ranking da multas aplicadas pela PRF.

Fora das rodovias federais, o equipamento também está sendo mais ignoradoAs multas por falta do cinto aumentaram 45% no mesmo períodoAo longo do ano passado, houve 37.895 autuações por esse motivo, uma média de 104 por diaCom o salto, a infração passou do 12º para o nono lugar na lista das mais cometidas, segundo o Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG).

O uso do cinto de segurança é obrigatório desde 1989 nas estradas brasileiras e passou a ser indispensável para motoristas e passageiros em todas as vias do território nacional depois da entrada em vigor do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), em 1998A exceção são veículos destinados ao transporte de passageiros em percursos em que seja permitido viajar em péO descumprimento da norma é considerado falta grave pelo CTB, com cinco pontos na carteira e multa de R$ 127,69.

- Foto: MARCOS MICHELIN/EM/D.A PRESS Apesar disso, em 15 minutos, o Estado de Minas flagrou pelo menos 20 motoristas sem a proteção na BR-262 e na Fernão Dias, trecho da BR-381 que liga BH a São PauloEles conduziam ônibus, caminhões e carros de passeiosNa Fernão Dias, em Contagem, na região metropolitana, um dos condutores aproveitou até para trocar de camisa com o veículo em movimento

Na BR-262, em direção ao Triângulo, vidros escuros, que dificultam a fiscalização, escondiam motoristas de caminhão rodando tranquilamente sem o cinto.

A prática faz parte da realidade de quem trabalha nas estradas, segundo o motorista profissional Francisco Pereira, de 39 anos, que admite já ter dispensado o cinto“Muitos condutores de caminhão e carreta fazem isso por causa do conforto e nem se lembram que pode ocorrer um acidente”, afirmaPois foi o equipamento que salvou a vida do filho do aposentado Francisco Zica de Oliveira, de 66“O carro caiu em uma ribanceiraHavia mais duas pessoas no carro, todas de cinto, e ninguém se feriu”, conta.

Passageiros

- Foto: MARCOS MICHELIN/EM/D.A PRESS Não são apenas os motoristas que deixam a obrigação do cinto de ladoNas rodovias federais que cortam Minas houve 1.590 autuações por passageiros não usarem o equipamento no ano passadoO número é 9,8% maior em relação a 2011, mas manteve a infração no oitavo lugar do ranking da PRFDe acordo com a corporação, policiais multaram mais vezes por falta de cinto na BR-040, seja por parte de motoristas ou condutoresForam 4.562 autuações.

“O combate à falta do cinto de segurança sempre foi um dos nossos focosMuitos usuários das rodovias vêm esquecendo dessa importância e estão sendo autuados por isso”, afirma a inspetora Fabrizia Nicolai, assessora de Comunicação da PRF em Minas.

Segundo ela, as principais justificativas para a infração são falta de tempo, esquecimento e desconforto
Na estrada, durante o expediente de trabalho, um agente da corporação contou que a falta de hábito de usar o cinto na cidade é levada para fora do perímetro urbano“Dentro da cidade o motorista sabe que não há fiscalização e não se preocupaSó que acaba fazendo o mesmo na estrada, onde o perigo é bem maior”, ressalta.

 

Problemas para todos


- Foto: MARCOS MICHELIN/EM/D.A PRESS Não por acaso o cinto de segurança é considerado um salva-vidasEm um acidente de trânsito, o simples ato de usar o equipamento reduz em 40% o risco de lesões e diminui em 70% o risco de morrerOs dados são da Associação Mineira de Medicina de Tráfego (Ammetra)“O cinto evita que a pessoa seja projetada para fora do veículoQuando isso ocorre, a mortalidade é de três em cada quatro casosNuma colisão ou freada brusca, os ocupantes continuam a se deslocar na velocidade do veículo”, explica o presidente da Ammetra, Fábio Nascimento.

Segundo ele, 67% dos pacientes envolvidos em acidentes de trânsito atendidos na Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação em 2010, por exemplo, não usavam o cinto de segurança – a maioria motoristas“O risco é grande para todos os ocupantesQuem não usa o cinto atrás pode machucar quem está na frenteAs principais lesões são cortes, traumatismo craniano, lesões de pulmão e pâncreas”, conta.

Pela realidade nas enfermarias dos hospitais, Nascimento percebe que os principais envolvidos são jovens“É muita gente tirando carteira e o preparo é deficienteO motorista tinha que passar por reciclagensFalta também fiscalização, educação para o trânsito e campanhas mais chocantes, assim como ocorre com o cigarro”, reclama o médico.