Apesar de obrigatório e reconhecido como um salva-vidas, o cinto de segurança é esquecido por cada vez mais motoristas em Minas, tanto nas estradas quanto em vias urbanas. A falta de uso do equipamento foi a infração campeã em registros da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no ano passado nas BRs que cortam o estado. Foram 8.084 motoristas flagrados sem o cinto em 2012, média de 22 por dia, contra 4.569 no ano anterior. O crescimento de 77% levou a infração da quarta para a primeira posição no ranking da multas aplicadas pela PRF.
Fora das rodovias federais, o equipamento também está sendo mais ignorado. As multas por falta do cinto aumentaram 45% no mesmo período. Ao longo do ano passado, houve 37.895 autuações por esse motivo, uma média de 104 por dia. Com o salto, a infração passou do 12º para o nono lugar na lista das mais cometidas, segundo o Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG).
O uso do cinto de segurança é obrigatório desde 1989 nas estradas brasileiras e passou a ser indispensável para motoristas e passageiros em todas as vias do território nacional depois da entrada em vigor do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), em 1998. A exceção são veículos destinados ao transporte de passageiros em percursos em que seja permitido viajar em pé. O descumprimento da norma é considerado falta grave pelo CTB, com cinco pontos na carteira e multa de R$ 127,69.
A prática faz parte da realidade de quem trabalha nas estradas, segundo o motorista profissional Francisco Pereira, de 39 anos, que admite já ter dispensado o cinto. “Muitos condutores de caminhão e carreta fazem isso por causa do conforto e nem se lembram que pode ocorrer um acidente”, afirma. Pois foi o equipamento que salvou a vida do filho do aposentado Francisco Zica de Oliveira, de 66. “O carro caiu em uma ribanceira. Havia mais duas pessoas no carro, todas de cinto, e ninguém se feriu”, conta.
Passageiros
Não são apenas os motoristas que deixam a obrigação do cinto de lado. Nas rodovias federais que cortam Minas houve 1.590 autuações por passageiros não usarem o equipamento no ano passado. O número é 9,8% maior em relação a 2011, mas manteve a infração no oitavo lugar do ranking da PRF. De acordo com a corporação, policiais multaram mais vezes por falta de cinto na BR-040, seja por parte de motoristas ou condutores. Foram 4.562 autuações.
“O combate à falta do cinto de segurança sempre foi um dos nossos focos. Muitos usuários das rodovias vêm esquecendo dessa importância e estão sendo autuados por isso”, afirma a inspetora Fabrizia Nicolai, assessora de Comunicação da PRF em Minas.
Segundo ela, as principais justificativas para a infração são falta de tempo, esquecimento e desconforto. Na estrada, durante o expediente de trabalho, um agente da corporação contou que a falta de hábito de usar o cinto na cidade é levada para fora do perímetro urbano. “Dentro da cidade o motorista sabe que não há fiscalização e não se preocupa. Só que acaba fazendo o mesmo na estrada, onde o perigo é bem maior”, ressalta.
Problemas para todos
Segundo ele, 67% dos pacientes envolvidos em acidentes de trânsito atendidos na Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação em 2010, por exemplo, não usavam o cinto de segurança – a maioria motoristas. “O risco é grande para todos os ocupantes. Quem não usa o cinto atrás pode machucar quem está na frente. As principais lesões são cortes, traumatismo craniano, lesões de pulmão e pâncreas”, conta.
Pela realidade nas enfermarias dos hospitais, Nascimento percebe que os principais envolvidos são jovens. “É muita gente tirando carteira e o preparo é deficiente. O motorista tinha que passar por reciclagens. Falta também fiscalização, educação para o trânsito e campanhas mais chocantes, assim como ocorre com o cigarro”, reclama o médico.