Mais de 30% das mortes causadas pelas chuvas em Minas na atual temporada foram provocadas por raios. Sete das 22 vítimas de temporais morreram por causa de descargas elétricas entre outubro e janeiro, quando o número de raios teve um crescimento de 185% no estado em relação ao período anterior. Na temporada 2011/2012, foi registrada a ocorrência de 307.871 descargas, e na atual, 879.411, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Historicamente, Minas lidera a ocorrência do fenômeno nas regiões Sudeste, Sul e Nordeste e está em sexto lugar no país com a média de 3,3 milhões de descargas atmosféricas por ano, de acordo com dados do Inpe referentes ao período de 2000 a 2009. Os estados mais afetados são Amazonas (11 milhões), Pará (7,3 milhões), Mato Grosso (6,8 milhões), Rio Grande do Sul (5,1milhões) e Mato Grosso do Sul (4,2 milhões). Segundo a Defesa Civil estadual, em 2011/2012 foram causados por raios cinco dos 20 óbitos durante as chuvas.
Entre as causas da alta incidência de raios em Minas estão o relevo acidentado e as condições climáticas características do estado. “O microclima da região, com temperaturas mais elevadas e tropicais, potencializa a ocorrência das descargas. Minas tem também muitas montanhas, que favorecem formações rápidas de nuvens cumulo-nímbus”, afirma o técnico de planejamento hidroenergético da Cemig Geraldo Paixão.
Ele explica que esse tipo de formação se desenvolve verticalmente em relação à atmosfera e nas camadas superiores é formada por cristais de gelo que se chocam devido à turbulência dos ventos e geram partículas elétricas negativas. Os raios são resultado da descarga elétrica entre as partículas negativas das nuvens e as partículas com carga positiva presentes no solo. As duas se atraem devido à diferença de potencial para equalização das cargas elétricas. A incidência de raios é maior, portanto, no fim da primavera e no verão, quando as temperaturas no Brasil estão mais elevadas e a formação das nuvens cumulo-nímbus são mais frequentes.
A diferença entre os números de raios que atingiram o solo em 2012 e 2011 pode ser entendida analisando as características das chuvas nos dois períodos. “Na temporada anterior, o tempo ficou muito quente e as chuvas ocorreram em forma de pancadas, com trovoadas e raios. Diferentemente de 2011, quando choveu de forma intensa e por dias seguidos, o céu em 2012 não ficou nublado durante um período longo de dias, mas com nebulosidade variável”, disse Geraldo Paixão.
A quantidade de chuva, portanto, não exerce influência sobre a frequência de raios, uma vez que em 2011 choveu muito mais que em 2012. Mas a distinção entre os dois sistemas de chuvas tem resultado diferente. As chuvas de sistemas frontais, quando chove constantemente, encharcam o solo e alimentam o lençol freático, enquanto as tempestades que caem em forma de pancadas e com ventos e descargas atmosféricas são ruins para a agricultura e provocam estragos nas cidades. Se atingidas por raios, as pessoas podem sofrer queimaduras ou mesmo morrer vítimas de parada respiratória e cardíaca.
Risco
De acordo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Brasil é o campeão mundial em ocorrência de raios. A cada 50 mortes no mundo por descargas elétricas, uma é registrada em solo brasileiro. Por ano, cerca de 130 pessoas morrem vítimas do fenômeno e mais de 200 ficam feridas. Dados do Inpe mostram que a probabilidade de morrer vítima de um raio é de 0,8 em um milhão por ano no Brasil.
A probabilidade, no entanto, pode ser muito maior – de 1 em 1 mil – a depender do local. A recomendação dos especialistas é que, diante de uma tempestade, as pessoas procurem abrigos, evitem locais descampados e não fiquem perto de objetos pontiagudos, como árvores e postes, ou de estruturas metálicas.
Família lamenta perda de jovem
Plínio César de Oliveira, de 16 anos, teve a vida interrompida em 30 de outubro. Ele estava em casa, perto do fogão a lenha, quando foi atingido por uma descarga elétrica no povoado de Costas, em Itaguara, na Grande BH. O adolescente morreu na hora. Plínio estava com um irmão de 5 anos e uma prima de 12.
Os pais também estavam em casa, mas não puderam fazer nada. Plínio foi para casa justamente para fugir da chuva. “Ele estava no curral, e quando começou a chover, correu e foi para perto do fogão para se aquecer, mas a descarga elétrica desceu o encanamento da serpentina e o atingiu. Ele estava molhado, acho que foi por isso que isso ocorreu”, conta o primo da vítima, o motorista Alisson Rodrigues.
SETE VÍTIMAS NO ESTADO
»12 de outubro – O jovem Flávio Muniz de Abreu, de 23 anos, turista do Rio de Janeiro, morreu atingido por uma descarga elétrica durante uma festival de música rave em São Tomé das Letras, no Sul de Minas.
»30 de outubro – Plínio César Costa Oliveira, de 16, foi atingido por um raio durante uma tempestade na zona rural de Itaguara, na Grande BH.
»13 de novembro – Durante tempestade de raios em Elói Mendes, no Sul de Minas, o operador de máquinas Roberto Roberval da Costa, de 23, foi atingido por um raio em um terreiro de café, perto de um alambrado.
»13 de dezembro – O adolescente Yago Rodrigo de Moraes, de 15, foi atingido por uma descarga elétrica durante uma tempestade na zona rural de Santos Dumont, na Zona da Mata. Ele voltava da cachoeira Tico-Tico.
»19 de dezembro – Um lavrador de 58 anos morreu atingido por uma descarga atmosférica na zona rural de São Sebastião do Paraíso, no Sul de Minas. José de Matos Soares, de 58 anos, e outros trabalhadores faziam uma refeição sob uma árvore em uma plantação de café, na Fazenda Pituna. A descarga elétrica atingiu também um colega dele, que foi hospitalizado.
»20 de dezembro – Um homem de 30 anos morreu depois de ser atingido por escarga elétrica em Sarzedo, na Grande BH. Ele estava na laje de uma casa na Rua Coqueiros, Bairro Masterville, e depois do impacto caiu de uma altura de oito metros. A Defesa Civil estadual ainda não o relacionou entre os mortos.
»5 de janeiro – O lavrador Antônio Gomes Vieira, de 50 anos, morreu depois de ser atingido por um raio na localidade de Monte Alverne, em Miradouro, na Zona da Mata.