“É, certamente, um número alto”, reconhece, preocupado, o terapeuta comunitário da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Luciano Carneiro de LimaEle, juntamente com uma equipe do Programa de Saúde da Família (PSF) da capital, fez, em 2009, uma monografia para o curso de especialização na área, em que constatou que a maioria dos pacientes que usa benzodiazepínicos, classe de medicamentos da qual o Rivotril faz parte, não se lembra por que começou a usar a medicação e não recebeu orientação médica para o uso“O remédio deveria ter dia certo para começar e terminarO ideal é o profissional de saúde começar com uma dose alta e ir diminuindo”, diz
Na opinião do especialista, a realidade da capital reflete um tormento da sociedade“Vivemos em um mundo cada vez mais consumista, as pessoas procuram soluções rápidas e estão pouco tolerantes às frustraçõesPor sua vez, os médicos não sabem dar outras respostas, pois muitos saem despreparados das faculdades e ao verem um paciente chorando em seus consultórios logo prescrevem a droga”, critica
A observação é também a do assessor técnico em saúde mental da Secretaria de Estado de Saúde e diretor da Associação Mineira de Psiquiatria, Paulo Repsold: “Há ginecologista, clínico-geral e outros especialistas que prescrevem o clonazepam”
Na família do advogado Lourenço Rabelo, de 26 anos, morador de BH, todo mundo usa“Minha mãe, meu padrasto, irmão e meus tiosE todos estamos tranquilosComecei a tomar Rivotril há seis meses, por causa da ansiedade e da insôniaCom a medicação, consigo dormir e acordo bem disposto”, conta.
A preocupação de Paulo Repsold é que o remédio vicia muito rápido“Ele é mais fácil de viciar do que o álcool e a cocaínaO paciente não pode largar a medicação de uma hora para outra, pois entra em síndrome de abstinência.”
Outro alerta do especialista é que o Rivotril pode representar um tratamento para depressão pela metade“Ele não é um antidepressivo, mas atua associado aos que sãoNo entanto, ao medicá-lo para tratar a doença, há o risco de a depressão não estar sendo tratadaPara a doença, vai funcionar como analgésico, assim, a pessoa continua deprimida, sem concentração, mas está tranquila e calma”, alerta
Barato Em Santa Luzia, o consumo também é altoNo total, 1, 6 milhão de comprimidos distribuídos em 2012, média de oito para cada moradorA farmacêutica Maria Cristina Senra Toledo, de 53, diz tomar o Rivotril desde abril de 2012“Trata-se de um medicamento mais barato e que traz uma solução rápidaEstou passando por um momento de depressão e quando passei a tomar o remédio consegui dormirSei que estou mais esquecida, mas sem ele não durmo.”
O QUE É
DEFINIÇÃO: O clonazepam, o Rivotril, é um benzodiazepínico que tem como principais propriedades a inibição de funções do sistema nervoso, com ação anticonvulsivante, alguma sedação, relaxamento muscular e efeito tranquilizante
INDICAÇÕES: As principais indicações são para crises epilépticas, transtornos de ansiedade e afetivo bipolar, fobia social, depressão em fase inicial de tratamento, tratamento da síndrome das pernas inquietas, vertigem e sintomas relacionados à perturbação do equilíbrio, como náuseas, vômitos, pré-síncopes ou síncopes, quedas, zumbidos e distúrbios auditivos.
EFEITOS COLATERAIS: Depressão do sistema nervoso central, como sonolência, dor de cabeça, irritabilidade, perda do equilíbrio, náusea, falta de concentração, perda da memória, perda da voz, movimentos dos braços e pernas, coma, visão dupla, dificuldade para falar, aparência de “olho vítreo”, fraqueza muscular, depressão respiratória, fala mal articulada, tremor, letargia, formigamento, alteração da sensibilidade nas extremidadesHá também distúrbios psiquiátricos como alucinações, histeria, insônia, tentativa de suicídio, ataque de ansiedade e risco de parada cardíaca