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Estado de Minas

Queda de quadra no São Bento é mais um exemplo de insegurança no período chuvoso

Queda de muro entre edifícios do São Bento e da Vila Paris, em plena Zona Sul, fere uma pessoa e deixa 39 famílias desabrigadas. Prédios tinham sido interditados seis horas antes


postado em 28/01/2013 06:00 / atualizado em 28/01/2013 11:41

Flávia Ayer e Jefferson da Fonseca Coutinho

A moradora Neusa Cardoso, de 80 anos, caiu e ficou ferida na cabeça
A moradora Neusa Cardoso, de 80 anos, caiu e ficou ferida na cabeça
A insegurança em período de chuva por causa do risco de desmoronamentos, comum em morros e aglomerados de Belo Horizonte, virou realidade em área nobre. O desabamento de um muro de contenção, nos limites dos bairros São Bento e Vila Paris, na Região Centro-Sul, transformou em um mar de lama um dos metros quadrados mais caros da cidade e deixou pelo menos 39 famílias desabrigadas. A estrutura, de quase 15 metros, se rompeu pouco depois das 17h de ontem sobre dois edifícios na Avenida Professor Cândido Holanda. Houve pânico e gritaria entre os moradores que estavam de plantão em frente aos prédios. Por orientação da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec), parte das famílias já havia saído dos imóveis mais cedo. Na tentativa de correr dos destroços, uma senhora de 82 anos tropeçou, teve um corte na cabeça e precisou ser levada para um hospital.


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De acordo com a Comdec, não há risco de queda dos edifícios, mas novos desmoronamentos podem ocorrer. O muro fazia a contenção da quadra de esporte do prédio de trás, o Edifício Morigerati, na Rua Abadessa Gertrudes Prado, no Bairro Vila Paris. O peso da terra destruiu toda a área de lazer do Edifício Bela Morada, que fica no nº 120 da Cândido Holanda, erguido há cerca de 20 anos pela construtora Lider. Com isso, uma montanha de barro invadiu a garagem, no subsolo. O impacto foi tão grande que o portão de ferro do estacionamento foi lançado para a calçada. O prédio tem 11 apartamentos e foi interditado.

Com a queda, a garagem do Edifício São Tomás de Aquino, no nº 70 da Avenida Professor Cândido Holanda, também ficou tomada por lama, e a estrutura de concreto, apoiada na janela do terceiro andar da edificação. Construído há mais de 30 anos também pela Lider, o prédio tem dois blocos, com 28 apartamentos cada um, e os imóveis do bloco de trás, próximo ao muro de contenção, foram todos interditados, sem previsão de retorno. Depois do desabamento, o que se viu foi uma correria completa, choro e desespero entre quem viu ruir o investimento de uma vida.

“Quando comprei o apartamento, em setembro, vi uma pequena rachadura e pensei que poderia dar problema, mas nunca imaginei que estava tão próximo”, comenta Fernando Quintão, de 65, que se mudou há menos de duas semanas para o Bela Morada, onde cada apartamento está avaliada em cerca de R$ 800 mil. Mesmo aqueles que não tiveram recomendação oficial para sair do prédio correram às pressas para a casa de parentes com bichos de estimação e objetos pessoais. “As janelas do meu apartamento tremem a cada estalo, estou muito preocupada”, contou uma moradora que não quis se identificar, com malas nas mãos.

Uma parte do muro ficou apoiada na janela do apartamento da dentista Elba Moreira, moradora do São Tomás de Aquino, onde apartamentos estavam sendo vendidos a R$ 600 mil cada um. Ela havia acabado de gastar R$ 300 mil numa reforma e era consolada pela irmã, Rivanessa Moreira, e a sobrinha, Sofia Bopp, de 11. “A gente não tem que ligar para o dinheiro, e sim para o valor que a vida tem”, disse a menina. “Nunca imaginaríamos acontecer algo desse tipo com prédios de luxo”, comenta Rivanessa. A Comdec isolou também a área de lazer do Edifício Morigerati, mas nenhum morador teve de sair de casa. A BHTrans precisou fechar o quarteirão da Avenida Professor Cândido Holanda para evitar a presença de curiosos.

De acordo com o coordenador da Comdec, coronel Alexandre Lucas, uma escala de horários seria montada para que os moradores possam entrar nos apartamentos interditados e retirar mais objetos pessoais. “Não há risco de os prédios caírem, pois não houve comprometimento de nenhum pilar dos prédios”, disse. O abalo da estrutura surpreendeu até mesmo o coordenador da Defesa Civil. “A técnica usada nessa contenção é a cortina atirantada. É uma das mais seguras e é muito raro ocorrer qualquer abalo em sua estrutura”, afirma Lucas.

Depoimento
Foi fração de minuto. O chão tremeu e uma nuvem de poeira subiu entre os prédios interditados. No ar, o pó e o burburinho provocavam pânico nos espectadores. “Ai, meu Deus, vai cair tudo!”, exclamou a moradora do Edifício São Tomás de Aquino. Pouco antes, ela havia dito que não arredaria o pé da cena. Assustada, correu, caiu e se machucou: corte estreito, acima da orelha direita. Nada grave. Grande foi o susto. Corre-corre e choro de lamento. Uma outra moradora suspirou alto o horror: “Corre, gente! Corre!”. Todo mundo – Defesa Civil, imprensa e curiosos – se afastou às pressas dos limites do prédio de número 70. Por instantes, tudo parecia ruir. No vácuo, num estampido, pela pressão do volume da terra vermelha, o portão do Edifício Bela Morada voou. Tombou além da área interditada. Por muito pouco não feriu ninguém. No mesmo quadrante, estilhaços de vidro fumê se espalharam na calçada.
“Que é isso? Deve ser assim o fim do mundo!”, exclamou o moleque magrelo, com os dentes brancos à mostra, aventureiro, em cima da bicicleta.  


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