A angústia, a insônia e a tristeza, que têm impulsionado brasileiros a se tornarem cada vez mais reféns de medicamentos de tarja preta, podem significar desde um estado de espírito até uma doença grave, como a depressão
Os que se tornaram dependentes contam que os médicos indicaram o medicamento porque eles sofrem de um quadro depressivoNo entanto, especialistas esclarecem que a depressão vai muito além dos sintomas tristeza e insôniaEla precisa ser adequadamente diagnosticada, porque, ao ser mascarada com ansiolíticos como o Rivotril, pode evoluir para uma piora na saúde mental do paciente
A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que a depressão afeta 350 milhões de pessoas em todo o mundo, mas não é simples diagnosticá-la“Estatísticas mundiais apontam que cerca de 22% das mulheres e 11% dos homens vão desenvolver um estado depressivo ao longo da vida, que pode ser uma única vez ou algo recorrente”, comenta o psiquiatra Paulo Repsold, membro da Associação Brasileira de PsiquiatriaSegundo ele, a doença é um transtorno afetivo de lado emocional, que acaba afetando a parte cognitiva do ser humano“Os sintomas mais famosos para o quadro são tristeza e angústiaMas só isso pode não caracterizar a doença
De acordo com a presidente da seção mineira da Associação Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil, Ana Cristina Margest Pimentel, trata-se de um mal biológico que não passa com o tempo“Se os sintomas de tristeza e angústia persistem ao longo de três semanas, podem ser um sinal de depressão”, afirma AnaNesse caso, segundo ela, há uma diminuição dos neurotransmissores, que são substâncias químicas liberadas pelos neurônios e usadas para a transferência de informações entre eles
TRANSTORNOS No caso da depressão, o principal neurotransmissor afetado é a serotoninaAna Cristina explica que, na maioria das vezes, um paciente depressivo não sente prazer em fazer atividades habituais“E isso pode ser o princípio da doençaPor outro lado, às vezes a pessoa está muito cansada e só quer dormirIsso pode não ser depressão, mas um quadro clínico de falta de vitaminas no organismo”, compara
Ela afirma que há pessoas com predisposição genética para o mal e que, dependendo dos fatores ambientais e da personalidade, desenvolvem a depressãoMas para a psicanálise o transtorno tem outras causas
Ela esclarece, por exemplo, que um luto normal dura em média três meses“Depois disso, se a pessoa não consegue melhorar, tem de buscar ajuda psicológica para sair do estado depressivoMas se mesmo com a ajuda o mal não passar, é possível que o paciente tenha se encontrado com algo do passado, talvez da própria infância”, contaEla afirma que, nesse caso, pode se tratar de uma a depressão neurótica e quem sofre ainda não rompeu com o mundo“Mas há a psicose depressivaEssa é mais grave e está ligada ao rompimento materno”, diz
Carmem explica que aos seis meses a criança começa a perceber que ela e mãe não são a mesma pessoa“Se durante a gravidez a mãe estiver deprimida, essa criança, diante do primeiro obstáculo, pode enfrentar a psicoseAté mesmo quando adulta”, alerta, acrescentando que até a morte da mãe, quando o bebê já estiver amadurecido, ele pode sofrer da doença“Mas, se esse paciente estiver medicado com Rivotril, por exemplo, será difícil ser tratado, já que a medicação terá mascarado sintomas, sem tratar a raiz do problema.”