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Estado de Minas

Ritos sagrados ganham proteção em Minas Gerais

Iepha faz inventário de costumes ligados à quaresma e à semana santa em Minas, que podem ganhar título de patrimônio imaterial. Tradição de Morro Vermelho é estudada


postado em 03/02/2013 06:00 / atualizado em 03/02/2013 07:40

Banho do Cristo com aguardente é a primeira prática documentada (foto: BETO NOVAES/EM/D.A PRESS %u2013 21/2/12)
Banho do Cristo com aguardente é a primeira prática documentada (foto: BETO NOVAES/EM/D.A PRESS %u2013 21/2/12)


Os tradicionais ritos da quaresma e semana santa em Minas vão ser alvo, pela primeira vez, de um inventário podendo, no futuro, ser registrados como patrimônio imaterial. O trabalho do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) vai começar pelo distrito de Morro Vermelho, em Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde, há mais de 200 anos, ocorre o banho de aguardente na escultura de Nosso Senhor dos Passos, sempre na quarta-feira de cinzas. Segundo o gerente de Patrimônio Imaterial da instituição, Luis Gustavo Molinari Mundim, a pesquisa pretende identificar as origens, características e outros aspectos de manifestações religiosas e culturais mineiras que hoje estão predominantemente nas mãos de leigos. “O inventário é um tipo de proteção, mesmo não havendo ainda o registro”, explica o gerente.

As primeiras atividades já começaram, com a equipe de Luis Gustavo ouvindo moradores de Morro Vermelho. A próxima etapa será no dia 13, quarta-feira de cinzas, quando o rito, restrito aos homens e transmitido de geração em geração, será filmado na Matriz de Nossa Senhora de Nazareth, respeitando limitações ditadas pela tradição. “No momento do banho, as mulheres não podem entrar na igreja. Dessa forma, as filmagens enquadrarão a imagem da cintura para cima, jamais o Cristo será mostrado despido”, diz o gerente. “A história chamou a nossa atenção por ser muito singular no estado e, agora, vamos tentar compreendê-la melhor.”

O projeto Inventário de ritos da quaresma e semana santa incluirá levantamento bibliográfico e das referências culturais, elaboração de ficha e produção de um vídeo que estará disponível na internet. “Há vários detalhes interessantes no banho da imagem com cachaça. Depois que ele termina, os sinos tocam para anunciar o encerramento à comunidade”, conta Luis Gustavo. O gerente destaca outras expressões culturais do período da semana santa, como a confecção de tapetes na missa do domingo de ressurreição em Ouro Preto, São João del-Rei e outras cidades coloniais. “Temos certeza de que vamos encontrar muitos ritos no interior do estado”, acredita.

Escultura de cedro

No ano passado, o EM acompanhou a cerimônia secreta de Morro Vermelho iniciada ao meio-dia, na quarta-feira de cinzas, na matriz. Em fila, os homens entram na igreja carregando garrafas de aguardente. Depois de retirar do altar a imagem de Nosso Senhor dos Passos, o grupo despe a peça e dá o banho de cachaça em toda a escultura de cedro. A medida, conforme reza a tradição, visa a evitar que a madeira se deteriore ao longo dos anos ou seja alvo de cupins. Coincidência ou não, o fato é que essa é a única peça sacra da Matriz de Nossa Senhora de Nazareth ainda não atacada pelos insetos ou destruída pela ação do tempo.

A escultura do século 18 tem 1,85m e é toda articulada, com tiras de couro fazendo as ligações dos braços e pernas com o tronco. Durante o banho, o Cristo fica sobre uma gamela de madeira. A “pinga benta” que escorre do corpo de cedro é recolhida e é administrada para curar feridas e ajudar os enfermos, conforme dizem os mais velhos. Da mesma forma, as roupas recém-retiradas da peça podem ser usadas por quem estiver doente.


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