Ontem à tarde, o Estado de Minas conseguiu comprar serpentina metalizada numa distribuidora na Rua Guaicurus e confetes do mesmo material em uma loja de chocolates na Rua São Paulo, ambas no Centro de Belo Horizonte. A lei também proíbe a venda de produto similar que represente riscos em contato com a rede elétrica.
Nesta semana, reportagem da TV Alterosa mostrou também uma casa de festas da capital comercializando serpentina metalizada. Nas imagens, a funcionária do caixa admite que o produto é proibido e que ela não deveria estar vendendo. Ela lembrou a tragédia de Bandeira do Sul e mostra uma prateleira repleta de material.
“É bom você não soltar perto da rede elétrica”, orientou a vendedora. No rótulo da serpentina está escrito que o produto é ideal para ambientes fechados, o que contraria a legislação. Ainda segundo informações da embalagem, o produto não apresenta nenhum risco.
A fiscalização nas lojas compete aos órgãos de defesa do consumidor, mas nos últimos dois anos o Procon Estadual admite que fez apenas duas operações na capital, uma logo depois da tragédia em Bandeira do Sul e outra às vésperas do carnaval do ano passado. A coordenadora do Procon Municipal, Maria Laura Santos, informou que não há uma fiscalização específica para combater a venda de serpentina metalizada.
“Há uma fiscalização integrada. O fiscal confere se o estabelecimento tem alvará, se o Código de Defesa do Consumidor está disponível e também se há comércio de produtos não autorizados”, disse Maria Laura. Desde que a lei entrou em vigor em agosto do ano passado. Segundo ela, o Procon Municipal fez uma ou duas autuações por venda da serpentina metalizada. “O dono da loja é autuado e paga multa que varia de R$ 400 a R$ 6 milhões, conforme o faturamento bruto anual de cada empresa”, disse.
O Procon Estadual informou que, antes da Lei 20.374, já havia uma medida administrativa que proibia a venda da serpentina metalizada que não tivesse no rótulo o alerta de risco de uso perto da rede elétrica, cujas instruções estivessem em outra língua. Proibia também o uso do material em cima de trio elétrico. No entanto, depois que o produto foi proibido em qualquer circunstância, não houve mais fiscalização.
Bombeiros não fiscalizam
O capitão do Corpo de Bombeiros Thiago Miranda informou que não compete à corporação fiscalizar a venda de serpentina metalizada. “A pessoa pode denunciar a venda do produto ilegal pelo telefone 181 que a polícia encaminha o caso ao órgão competente”, disse o capitão.
A Regional Centro-Sul da prefeitura informou que apenas fiscaliza alvará e laudo técnico de segurança. A Delegacia Especializada de Armas e Munições, da Polícia Civil, não faz esse tipo de fiscalização também. Depois da reportagem da TV Alterosa, na qual o promotor de defesa do consumidor Amauri da Matta afirma que o Procon Estadual estaria olhando a questão, uma operação de combate à venda do produto foi anunciada para hoje na capital.
Risco com papel também
O gerente de Segurança, Saúde e Bem-Estar da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), João José Magalhães Soares, chama a atenção para o risco de confetes metalizados em contato com a rede elétrica. Segundo ele, não apenas a serpentina metálica representa risco. “Até mesmo os confetes e serpentinas de papel comum lançados na rede elétrica podem se tornar condutores de energia, se molhados, o que provoca curto-circuito e risco de rompimento de cabos.”
Para Magalhães Soares, os foliões devem estar atentos a todo material que possa causar danos na rede de energia e também em áreas que têm cabos de eletricidade. “A legislação proíbe a serpentina metálica e similares. O que se enquadra como produtos similares são todos aqueles que podem provocar curto-circuito”, alerta.
COMO FICOU? MORTES NO SUL DE MINAS
Parentes de vítimas indenizados
A investigação da morte de 16 pessoas no pré-carnaval de Bandeira do Sul, no Sul de Minas, não apontou culpados, e o Ministério Público pediu o arquivamento do processo criminal. Mas a Companhia de Energia de Minas Gerais (Cemig) foi condenada na área cível em primeira instância. O acidente ocorreu em 27 de fevereiro de 2011 e ainda deixou 55 feridos. Cerca de 3 mil foliões participavam do evento, quando serpentinas metalizadas atingiram a rede elétrica, causando curto-circuito e rompimento de cabos, o que, em contato com o solo molhado, causou a eletrocussão coletiva. O inquérito da Polícia Civil não apontou culpados. Em junho de 2011, o promotor Glaucir Antunes, de Poços de Caldas, pediu o arquivamento do processo criminal, apesar da gravidade dos fatos, com base nas apurações policiais, o que foi acatado pela Justiça. O advogado Edilberto Silva, porém, seguiu com o pedido de indenização e, em setembro do ano passado, a Cemig foi condenada a pagar R$ 255 mil a parentes dos mortos. A empresa e os familiares recorreram no Tribunal de Justiça. Há ainda mais três ações em fase de instrução.
A falta de fiscalização para coibir a produção, a comercialização e o uso da serpentina metalizada e produtos similares em Minas Gerais aumenta os riscos de tragédias, como a que matou 16 pessoas e feriu 55 no pré-carnaval de 27 de fevereiro de 2011, em Bandeira do Sul, no Sul de Minas. Mesmo depois da entrada em vigor da Lei Estadual 20.374, de 10 de agosto do ano passado, que baniu o uso do material, é possível encontrar produtos metalizados no comércio de Belo Horizonte, Contagem e Betim.