Jornal Estado de Minas

Estações têm muito esgoto e pouco tratamento

Locais que não suportam quantidade de dejetos contribuem para níveis altos de poluentes em Montes Claros e Três Marias. Em Iguatama, ETE pronta não funciona

Estação sem uso em Iguatama:Codevasf diz que apura desvio de verba - Foto: Beto Novaes/EM/D.A Press

Iguatama, Lagoa da Prata, Montes Claros e Três Marias – O crescimento das cidades tem superado o dos investimentos em tratamento sanitário em áreas do Vale do São Francisco, em MinasAli, estações de tratamento de esgotos (ETEs) já não suportam tudo o que chega pelas tubulações ou simplesmente não funcionamEm Iguatama e Lagoa da Prata, na Região Centro-Oeste, por exemplo, a ETE planejada não está em operaçãoEm Três Marias, na Região Central, e em Montes Claros, no Norte de Minas, a estação não consegue atender toda a demanda, permitindo que parte do esgoto seja despejado no Rio São Francisco e em seus afluentes.

O problema também explica em boa medida os índices ruins apresentados pelo Rio Vieiras, em Montes Claros, cidade mais populosa do Norte de Minas, com 360 mil habitantesO rio apresenta taxas de poluentes muito acima das toleradas pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), segundo o último levantamento do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam)As amostras indicam excesso de coliformes fecais (700%), nitrogênio (224%), manganês (168%) e fósforo (80%), o que resulta em índice de oxigênio dissolvido 79% menor que o tolerávelDe acordo com o engenheiro Guilherme Guimarães, que trabalhou no projeto da ETE inaugurada na cidade em 2009, a estação opera com capacidade para processar no máximo 500 litros por segundo, abaixo da quantidade de esgoto gerada pela cidade, de 700 litros por segundoTodo o restante segue para o Vieiras, afluente do Rio Verde Grande, que deságua no Rio São Francisco.

O chefe do Departamento Operacional da Copasa em Montes Claros, Daniel Antunes, reconheceu que a ETE, que recebeu investimentos superiores a R$ 130 milhões, ainda não trata todos os dejetos da cidadeA expectativa é que isso comece a ocorrer até agostoHá bairros que ainda não têm interceptoresSaudoso, o produtor rural Antonio Dias Maia, de 73 anos, espera que o Vieiras volte a ser como em sua infância, quando nadava no rio limpo
"Virou uma sujeira sóTriste ver um rio morrer", diz.

Em Três Marias, cidade de 27,5 mil habitantes, a ETE só trata 60% do esgoto que chega, segundo relatório do Ministério Público"Não adianta a ETE receber 80% do esgoto da cidade se não consegue tratar tudoEstamos terminando um laudo e vamos entrar com ação para exigir que a Copasa adapte os equipamentos", avisa o promotor de Três Marias, José Antônio Freitas Dias Leite"Não é possível o São Francisco ser sujeito a essa poluição", justifica.

Em Iguatama, primeira cidade no curso do Rio São Francisco, o esgoto da cidade cai direto no Velho Chico ou chega até ele por meio de quatro córregosA cidade, com quase 8 mil habitantes, até construiu uma ETE, com auxílio da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do Rio São Francisco e Rio Parnaiba (Codevasf)O complexo está pronto desde 2011, mas não funciona, de acordo com a companhia, por culpa da prefeituraA Codevasf informou que há investigação de desvio de parte da verbaA prefeitura informou que tenta sanar os problemas, que atribuiu à última administração, até o ano que vemEnquanto isso, apenas bodes se alimentam na área da ETE, que fica atrás de um curso de esgoto que deságua no Rio São Francisco e é chamado por moradores de "bosteiro do Neto".

Em Lagoa da Prata, com 46 mil habitantes, todo o esgoto é coletado e despejado na Lagoa Verde, que recebe esse nome devido à grande quantidade de algas que proliferaram por conta de nutrientes injetados pelas canalizações sanitárias
A lagoa despeja a água poluída no Rio Jacaré, um dos afluentes do São FranciscoOs efeitos são sentidos depois de Iguatama e Lagoa da Prata, na altura de Luz e Moema, cidades do Centro-OesteO Igam registrou índice de coliformes fecais 130% acima do tolerado.

60% do esgoto que chega à ETE de Três Marias é tratado

500 litros por segundo é a capacidade da ETE Montes Claros, abaixo da demanda

600 fiscalizações serão feitas ao longo do São Francisco


Vídeo: Antônio Dias Maia é morador da região de Montes ClarosEle fala sobre os antigos hábitos, quando o Rio dos Vieiras era limpo, e sobre a poluição atual do rio


Vídeo: Lagoa Verde poluídaEsgoto sai da cidade de Iguatama até chegar ao Rio São Francisco