Jornal Estado de Minas

Epidemia de dengue já atinge oito cidades mineiras

Doze pessoas morreram este ano em Minas por causa da doença, 4 delas pelo tipo mais grave, o hemorrágico. Triângulo lidera o número de casos entre os 48,7 mil notificados

Tiago de Holanda
Um dos principais apelos das autoridades de saúde do estado e de BH à população é a necessidade de evitar acúmulo de lixo em lotes vagos e quintais, ambientes propícios para proliferação do Aedes aegypti - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

 

O número de pacientes diagnosticados com dengue em 2013, em Minas, subiu 30% em apenas uma semana, saltando dos 37.450 registrados até o dia 21 para 48.720 até ontemEm menos de dois meses, a quantidade de casos da doença superou em 4,36% os 46.681 notificados em 2012, segundo balanço divulgado ontem pela Secretaria de Estado de Saúde (SES)O titular da pasta, Antônio Jorge de Souza Marques, admitiu que oito cidades vivem situação de epidemia e aponta o ressurgimento do sorotipo 4 do vírus como principal causa do aumento.

Nos últimos sete dias, o número de óbitos causados pela dengue em todo o estado também sofreu grande acréscimo: dos seis registrados ate o dia 21, passou para 12 confirmados até ontem, quatro deles por dengue hemorrágica, o tipo mais grave da doençaO número já representa 70,6% dos 17 do ano passadoA maioria das mortes ocorreu no Triângulo Mineiro, em Uberaba (6) e Ituiutaba (1)O Norte de Minas contabiliza quatro casos: em Montes Claros (2), Buritizeiro (1) e São João da Ponte (1)O outro óbito ocorreu em Ipanema, no Vale do Rio Doce.

Três dos oito municípios que sofrem epidemia estão no Vale do Aço, segundo a secretariaEm Ipatinga, 4.784 paciente foram diagnosticados com dengue entre o início e o dia 21, o que representa taxa de 2.000,19 casos por 100 mil habitantesNo mesmo período, Coronel Fabriciano e Timóteo registraram 2.836 e 2.557 casos, respectivamenteAs outras cidades com surto epidêmico são Uberaba (3.348 casos até o dia 21), Ituiutaba (1.150), Pirapora (820), Buritizeiro (748) e Ibiá (521)“Estamos no meio do verão e a tendência é que a situação ainda se agrave

Fazemos um apelo para que as autoridades municipais transformem a dengue em uma agenda prioritária”, disse o secretário.

Marques ressaltou que a incidência de dengue costuma ser maior entre novembro e maio, mas aponta a reintrodução do tipo 4 como maior responsável pelo alastramento da doençaAo ser infectado por um dos quatro tipos do vírus, o organismo humano cria anticorpos contra aquele intruso, mas continua desarmado ante os outros tiposSegundo o secretário, a volta do tipo 4 a Minas foi constatada em 2011, após 28 anos sem nenhum caso registradoPor isso, a maior parte da população ainda não apresentava resistência“O vírus pegou muita gente sem imunidadeEsse é um fator muito forte”, disse Marques.

Assistência

O secretário acredita que um dos motivos para a proliferação do mosquito transmissor da doença, o Aedes aegypt, foi o descuido de algumas administrações municipaisMuitas equipes de controle e vigilância do inseto teriam sido desmobilizadas entre o fim de 2012 e o início deste ano, por causa da substituição do prefeito“Determinados municípios negligenciaram o combate ao vetor no segundo semestre do ano passado”, criticouMarques afirma que a secretaria não planeja nenhuma medida emergencial para conter o mosquito“Desde 2010, criamos uma ação permanente contra a dengue
Nossas ações são programáticas, estamos trabalhando o ano inteiroNosso maior foco é na assistência, para evitar que haja mortes”, explicou

Médico Gilberto Nable, morador do Bairro Sion, teve a doença - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press Em Belo Horizonte, a Secretaria Municipal de Saúde já confirmou 1.165 pacientes infectados, mas Marques considera improvável que o quadro se transforme em epidemia“A região metropolitana vem se comportando sem cadeia de transmissão instalada, longe de qualquer epidemia”, afirmouNa capital, uma das vítimas da dengue foi o clínico geral Gilberto Nable, de 58 anosEle só se curou do vírus no último domingo, dias depois de a filha ter se recuperado da mesma doença“Fiquei uma semana com os sintomasNos primeiros dias, tive febre e senti dor atrás dos olhosDepois, falta de apetite e desânimo intensoPor último, surgiram lesões na pele de uma das pernas”, recordouMorador do Bairro Sion, na Região Centro-Sul de BH, o médico disse que não encontrou nenhum possível criadouro do mosquito em seu apartamentoEle conseguiu se refazer após tomar um analgésico e muita água“Além de repouso, porque eu não conseguia fazer absolutamente nada.”