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Estado de Minas

Garotos de programa e travestis vão para a sala de aula aprender outros idiomas


postado em 05/03/2013 06:00 / atualizado em 05/03/2013 07:34

(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press. )
(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press. )
Serão mais de 1 mil alunos envolvidos no aprendizado de novas culturas. No clima de preparação para a Copa do Mundo, profissionais da ocupação mais antiga da história não querem ficar de fora das oportunidades. Afinal de contas, entre quatro paredes também é preciso se comunicar. Segunda-feira, garotas e garotos de programa e travestis de Belo Horizonte e região metropolitana vão para a sala de aula aprender outros idiomas. E eles vão além: mês que vem, começa a ser oferecida também a Educação de Jovens e Adultos (EJA), com ensino fundamental para quem não teve a chance de estudar.


As primeiras lições de inglês, espanhol, francês e italiano serão aprendidas num espaço improvisado da Associação das Prostitutas de Minas Gerais (Aspromig), na Rua Guaicurus, no Centro da capital. Dentro de um mês, os cursos serão ministrados num shopping da região, ao lado da rodoviária, onde estão sendo montadas três salas e um auditório com recursos multimídia para receber as turmas. Para acomodar os primeiros estudantes foi preciso fazer sorteio, pois o espaço da Aspromig não tem capacidade para o tamanho da demanda.

Doze professores, todos voluntários, terão a missão de ensinar o “vocabulário técnico” e algo a mais, de acordo com as necessidades dos profissionais. Cada grupo será composto por no máximo 20 alunos. E quem quiser fazer mais de um curso, que é gratuito, poderá encarar o desafio. A presidente da associação, Cida Vieira, diz que a demanda partiu das mulheres, mas a vontade de melhorar na profissão e na vida pessoal se espalhou e conquistou os outros colegas. “Todo mundo está se preparando para a Copa, não seria diferente com o movimento das prostitutas”, diz.

Além de BH, há alunos de cidades vizinhas, como Betim, Contagem, Sabará. E, de acordo com Cida, a procura está tão grande que há outras pessoas interessadas, mas a ocupação de profissional do sexo foi o critério de seleção. “Depois que a estrutura estiver consolidada, pode até ser que abramos para a população em geral, mas, claro, com menos vagas”, afirma a presidente da associação. Outra ideia é que os professores que aceitaram o desafio passem a experiência para a frente e conquistem adeptos. “Muita gente ainda tem medo de estar numa sala de aula como essa. É preciso quebrar os preconceitos e isso não é fácil”, avalia.

O empresário que está bancando o projeto, Elias Tergilene, dono do shopping popular, investiu R$ 32 mil e conta que está quase tudo pronto. Agora, faltam só as carteiras, que já foram encomendadas. Empolgado com a iniciativa, ele teme apenas que, por ser um trabalho voluntário, os professores acabem desistindo, o que poderia desestimular as turmas. Por isso, Cida pede apoio à iniciativa privada para contribuições que banquem pelo menos o transporte dos responsáveis pelas aulas.

Tergilene diz que pensou em procurar patrocínio, mas esbarrou num obstáculo: “As pessoas não querem agregar sua marca à prostituta. Ficam com preconceito e não fazem nada. Fábricas de preservativos, de absorventes e até os hotéis onde elas ficam podiam ajudar. Afinal, são mulheres e seres humanos como qualquer outro”, diz Tergilene. “Quando eu falo, as pessoas me olham como se eu estivesse fazendo algo errado e não acho que eu esteja. Elas são clientes do shopping, consomem, usam nossa academia. Infelizmente, as coisas não mudam pela vontade da sociedade”, acrescenta.

EJA Outra demanda das prostitutas desde o ano passado é a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Inicialmente, um professor disponibilizado pela Prefeitura de BH vai atender uma turma de cerca de 20 pessoas. O curso, já aprovado pelo Ministério da Educação (MEC), vai oferecer o ensino fundamental. A expectativa é de que as profissionais possam também fazer o nível médio futuramente. A EJA também será ministrada numa das salas do shopping. “As pessoas poderão se qualificar, formar, ter educação, tirar o estigma que há sobre elas e o medo das outras pessoas”, afirma Cida Vieira.


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