O casal Helmar, de 50, e Gislene Zadra, de 51, com dois filhos nas salas de aula, vê com simpatia e reconhece a importância da parceria. No entanto, ambos cobram mais ações das autoridades para dar jeito no que parece insolúvel. “Há um conjunto de responsabilidades envolvendo escola, pais e poder público. Não podemos assumir toda a culpa. Já pagamos impostos demais”, critica Gislene. Helmar cobra maior vigilância por parte da polícia. Para o economiário, a questão da segurança do pedestre no entorno das escolas tem relação direta com a preocupação dos pais em deixar as crianças o mais perto possível da portaria.
Na visão da mãe e relações-públicas Raquel Veloso, de 40, levar a educação no trânsito às salas de aulas é um bom caminho. Com dois filhos, de 8 e 11, matriculados, Raquel se diz surpresa com a palestra no miniauditório do Colégio Loyola. “A gente tem o conceito errôneo de que a BHTrans só multa. Fico satisfeita em saber que tem uma equipe fazendo esse trabalho.” De carona no encontro dos pais com educadores das escolas públicas, a empresa que gerencia o tráfego de BH tem promovido uma série de atividades educativas em parceria com o Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep/MG). Ontem, o “puxão de orelha” foi na Região Centro-Sul.
Mais do que ajudar contra as filas duplas, a ação, de olho no futuro, propõe reflexão das mais sérias: “Que mundo queremos deixar para nossos filhos?”, provoca a lâmina que finaliza a apresentação. Raquel Veloso, motorista desde os 18 anos, garante que faz a sua parte. Mostra-se contente com a exposição do agente de trânsito Marcelo Andrade, especialmente porque vê alinhadas as suas lições de casa. “Você pode perguntar ao meu filho de 8 anos… ele sabe que usamos o cinto de segurança porque ele pode salvar vidas, e não porque podemos ser multados”, afirma.
“Não é bem um puxão de orelhas. É uma reflexão a respeito do exemplo que os pais devem dar aos filhos”, diz Edina Lara, de 50, da Gerência de Educação da BHTrans. Ela recorre aos números para falar da gravidade do assunto. De acordo com a pedagoga, em 2011, apenas em Belo Horizonte, 2,9 mil jovens, entre 18 e 29, sofreram lesões permanentes em acidentes de trânsito. Edina, que se desdobra como professora da rede municipal de ensino, considera importante agir no “berço da questão”. “Trata-se de respeito ao outro. São valores da vida. Comportamento por uma cidade melhor para viver”, ensina.
CONSCIENTIZAÇÃO Rosilene Modesto Menin Boratto considera a presença dos agentes de trânsito na escola uma boa maneira de chamar a atenção dos pais, que, muitas vezes, abusam das filas duplas porque não abrem mão de parar o carro na entrada: “A maior parte são pais de adolescentes, que não permitem que o filho ande um único quarteirão”. Para a empresária, se houver conscientização e cada um fizer a sua parte, “um pouquinho que seja”, a história vai ser outra e uns vão acabar ajudando os outros na hora de deixar ou buscar os alunos. Para reduzir o caos na Avenida do Contorno, próximo ao Loyola, há um estudo para que os escolares sejam transferidos, ainda neste ano, para uma rua transversal, a Sinval de Sá.
No Loyola, alunos do ensino fundamental estão também levando a cartilha com as lições para casa. Dever e trabalho de reflexão em família, segundo Alexandra Gazzinelli Haddad, de 46. “Estamos sempre muito preocupados com essa formação humanista. Queremos alcançar os pais por meio das crianças”, explica. A coordenadora pedagógica cita ainda a “carona solidária” – revezamento entre os pais no levar e buscar dos filhos – e a presença de um funcionário auxiliar para receber ou conduzir os alunos na portaria do colégio.
Não há melhor expressão que “mirar no que viu e acertar no que não viu” para falar das consequências alcançadas com a mudança de horário na Escola da Serra neste ano. A proposta de começar as aulas às 8h, e não mais às 7h10, teve motivação pedagógica, mas acabou melhorando o trânsito na porta do colégio, situado na Rua do Ouro, no Bairro Serra, Região Centro-Sul da capital, dois quarteirões abaixo da Avenida Bandeirantes. “Os meninos tinham muito sono no primeiro horário e, portanto, atrasamos as aulas e compensamos com mais horários à tarde. Queremos que a escola fique no centro da vida dos estudantes”, explica o diretor da escola, Sérgio Godinho Oliveira.
Com as alterações promovidas há três semanas, o entorno da escola ficou livre de retenções e tumulto, já que a unidade educacional é a única das cinco na região em que as aulas começam mais tarde. O alívio no tráfego foi reforçado ainda pelo fato de a entrada e saída dos estudantes ter sido transferida da Rua do Ouro, importante via que corta o bairro, para a Rua dos Dominicanos, bem mais tranquila. Os pais aprovaram: “Achei fantástico, pois 7h era muito cedo. E às 8h não tem mais aquele vaivém de movimento de escola”, afirma Cibele de Araújo Magalhães, de 54, mãe de Bernardo, de 13. Já o filho prefere o horário antigo: “Achei ruim porque antes só ficava aqui na parte da manhã”.