Jornal Estado de Minas

Uma sucessão de armadilhas

Rodovia da Morte tem estrutura defasada, pistas simples e traçado sinuoso

Nova promessa do governo federal é lançar editais de duplicação para o trecho de 110 quilômetros no fim deste mês

“A Rodovia da Morte levou minha família: marido, filho e filha”
O desabafo é de dona Rogélia Perez de Castro Rosa, de 52 anosMoradora de Caeté, ela clama pela duplicação da estradaO Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, que em 2013 suspendeu todos os editais para a obra, prefere não se manifestar sobre o assunto, mas há expectativa de os certames serem novamente publicados no fim de marçoQuem informa é o coordenador da bancada federal de Minas, deputado Fábio Ramalho (PV), o Fabinho Liderança: “Tivemos uma reunião com representantes do Dnit, na última quinta-feira, e nos garantiram isso”.


Dona Rogélia torce para que o Dnit cumpra com a palavra: “Espero que ninguém mais sofra o que eu continuo sofrendo”O EM percorreu a estrada e mapeou as armadilhasAo longo da viagem, uma constatação comum dos usuários: a BR está ultrapassadaSua estrutura se opõe à importância dela para o desenvolvimento do país, uma vez que o trecho é caminho para polos produtores, como o Vale do Aço, e para portos, entre eles o de Tubarão (ES)É também caminho para destinos turísticos, principalmente cidades históricas de Minas – Catas Altas, Santa Bárbara, Barão de Cocais – e municípios do litoral do Espírito Santo e da Bahia


Os dois maiores problemas são o traçado sinuoso, que acompanha montanhas, e as pistas simples e sem divisão físicaA combinação desses ingredientes matou familiares de dona Rogélia  em dois acidentes

Em 1990, ela perdeu o marido, Artur, de 33 anos, e o filho, xará do pai, de 4, numa curva próxima a Sabará, onde um caminhão invadiu a pista contrária e acertou em cheio o carro em que os dois viajavamEm 2009, outra carreta entrou na direção oposta e destruiu a van em que estava sua filha, a universitária Ranaly, de 21


Rogélia acredita que os três poderiam estar hoje ao seu lado se o trecho fosse duplicadoEnquanto a sonhada obra não sai do papel, os usuários precisam ter atenção e sortePara se ter ideia, há cerca de 200 curvas entre BH e Monlevade, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF)Logo ao sair da capital, o motorista se depara com uma delas, no km 456O local exige perícia do condutor, pois a curva é num decliveÀ frente, a placa que informa a existência da ponte sobre a linha férrea está danificadaÉ uma das primeiras mostras de que a sinalização na rodovia é deficiente.


No km 428, pouco depois do trevo para Caeté, há uma ponte em curvaDois quilômetros adiante, uma placa alerta: trecho com alto índice de acidentes

O asfalto está danificado no km 381, onde há duas faixas amarelas contínuas, o que confunde motoristasJá no km 365 há “costelas” no pavimentoNo km 360, sentido Belo Horizonte, o problema é o início de uma erosão no asfaltoO local está sinalizado, mas prejudica a circulação de veículosO caminhoneiro José Ronaldo Fernandes, de 44, reclama do trecho“O piso da 381 está uma porcariaAs curvas têm precipitaçõesElas ‘empurram’ o caminhão de banda se o motorista não segurar firme na direção.”

Manifestação Às 10h do próximo dia 25, representantes da bancada federal de Minas vão fazer uma manifestação, próximo à entrada para o Hotel Tauá, em Caeté, pela duplicação urgente da 381“Convidamos o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, e o diretor-geral do Dnit Jorge Ernesto Pinto FraxeDeputados federais, estaduais, prefeitos da região também estarão presentes, mas quero dizer que o evento é um ato apolíticoEssa rodovia precisa ser duplicada logo”, disse Fabinho Liderança, que organiza o evento ao lado de outros colegas, como a deputada Jô Moraes (PcdoB), uma dos parlamentares que tiveram a ideia da manifestação


Nos últimos anos, uma das medidas adotadas pelo Dnit para reduzir os acidentes foi o alargamento de pontes em parte do trechoOutra foi a instalação de radaresPara José Aparecido Ribeiro, especialista em segurança no trânsito e fundador da ONG SOS Rodovias Federais, as medidas são insuficientes para acabar com as tragédias“O correto é refazer a rodovia, com um traçado menos sinuoso e com menos inclinaçõesAté porque não há como realizar uma obra de duplicação com o volume de veículos no local”


O engenheiro Herzio Mansur, professor de logística e conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea), também não poupa críticas“Como admitir uma estrada dessa? O governo precisa entender que ele existe para propiciar segurança aos cidadãosÉ uma rodovia homicida”.