Diante de números que apontam crescimento do sobrepeso entre adolescentes, surge em Minas Gerais uma espécie de “bolsa-academia”. A partir de abril, jovens de 10 a 19 anos que estiverem acima do peso e sendo atendidos pelo Programa Saúde da Família poderão ter a atividade física custeada pelo governo. Para ter uma dimensão do problema, dados da Secretaria de Estado de Saúde mostram que, em 2010, 13,8% dos mineiros nessa faixa etária tinham o Índice de Massa Corporal (IMC) acima do recomendado. Em 2012, eram 15,1%. No Brasil, de acordo com o último Vigitel – pesquisa do Ministério da Saúde feita por inquérito telefônico –, 21,7% dos meninos e 19% das meninas estavam acima do peso em 2008/2009.
Desde o início do ano, prefeituras e academias estão sendo cadastradas para acolher os novos alunos no projeto Geração Saúde, desenvolvido pelas secretarias de estado de Esportes e de Saúde. A mensalidade será de R$ 50, paga pelo estado. Um total de 78 academias já se inscreveram no estado. Para ser beneficiado, o jovem precisa comparecer no mínimo três vezes por semana à academia e a presença será confirmada por meio de biometria.
A ideia é que ele seja avaliado constantemente e obtenha resultados positivos ao final de 18 meses. Inicialmente, são 14 mil vagas para este ano, gasto estimado em R$ 10 milhões. Eles poderão fazer qualquer atividade oferecida pela academia a partir de avaliação do educador físico, ou seja, além de musculação, terão acesso a atividades como spinning, hidroginástica, natação e jump, entre outras.
Interessado em atender a região onde está a L&F Academia, no Bairro Novo Riacho, em Contagem, na Grande BH, o preparador físico, professor e sócio-proprietário Fabrício Santos Araújo fez o cadastro do estabelecimento, mas não sabe se poderá participar. Segundo ele, o PSF não abrange todas as famílias que estão na região e, por isso, pode ser que não atenda o público do projeto. “A nossa expectativa é receber entre 50 e 80 alunos a mais”, afirmou.
Expectativa
Ainda assim, os profissionais da academia pensam em atendimentos diferenciados para os adolescentes. Além do programa individualizado para a prática de atividades físicas, eles planejam formar grupos de ginástica coletiva. A mensalidade cobrada na L&F está em torno de R$ 70, dependendo das modalidades e frequência, e atende uma média de 300 alunos por ano.
Já Gleiciene Lúcia Marques, proprietária da Atenas Academia Hidrofitness, no Bairro Céu Azul, Região da Pampulha, em Belo Horizonte, contou que soube do projeto por meio do Conselho Regional de Educação Física. Ela se cadastrou e montou uma nova unidade da academia no ano passado para receber os novos alunos. Mas a estrutura montada ainda não foi usada e ela ficou desanimada. “Providenciei a documentação, mas não foi de interesse da prefeitura na época. Agora, estamos esperando para ver se o projeto vai para a frente, mas perdi um pouco o interesse”, afirmou. A expectativa era de captar mais 100 alunos em uma região que, segundo ela, tem muita demanda.
Combate ao sedentarismo
De acordo com o subsecretário de Esportes, Adenilson Souza, o projeto Geração Saúde surgiu da necessidade de fazer os jovens serem mais ativos, tirá-los do sedentarismo, diminuir os índices de obesidade e ainda prevenir que eles tenham tantas doenças crônicas no futuro. Antes, o incentivo estava focado no projeto Saúde na Praça, em que eram montadas academias ao ar livre para os jovens se exercitarem.
Mas, em 2011, segundo ele, a secretaria identificou que os adolescentes não aderiam ao espaço, que tinha um tempo limitado de uso. “E começamos a pensar formas de levar o jovem para onde tem mais profissionais de educação física trabalhando, onde ele possa ter acesso a atividades aeróbicas diversas, até chegarmos à proposta atual”, explicou. Além de ir à academia, o jovem deve participar também de atividades com psicólogos e nutricionistas. Se não tiver 75% da frequência, ele será reavaliado e pode perder a vaga.
A diretora de Promoção à saúde em agravos não transmissíveis da Secretaria de Estado da Saúde, Daniela Souza Lima Campos, diz que, além do sobrepeso, a intenção é trabalhar outros fatores de risco que aparecem tipicamente na adolescência, como tabagismo e álcool. No total, 291.331 adolescentes são acompanhados nos postos de saúde do estado.
PALAVRA DE ESPECIALISTA:
ALINE CRISTINE SOUZA LOPES, professora do departamento de nutrição da UFMG
‘Essa é uma idade esquecida’
“O principal desafio é fazer com que os pais levem esses adolescentes aos centros de saúde para que o excesso de peso seja diagnosticado e que o acompanhamento continue após a infância. Essa é uma idade esquecida. A pediatra é uma especialidade difundida, mas poucos recorrem ao hebiatra, que é importante porque tem formação mais ampla, como em sexualidade. Acho que toda iniciativa é válida e vejo o projeto (Geração Saúde) como de cunho emergencial diante do quadro que estamos vivendo, mas a escola deve ser o caminho para incentivar a alimentação saudável e a atividade física. A educação física, por exemplo, hoje é negligenciada, não tem mais objetivo, rigor, ocorre uma vez por semana, sendo que a necessidade é praticar exercícios pelo menos três vezes por semana.”