Um dia depois das denúncias de trote ofensivo praticado por alunos da Faculdade de Direito da UFMG na sexta-feira, quando calouros foram vítimas de atos racistas e de apologia ao nazismo, novas acusações de práticas preconceituosas atribuídas a alunos da mais tradicional faculdade de direito de Minas Gerais foram publicadas nas redes sociais. No Facebook, entidades de defesa da diversidade sexual, de combate ao racismo e da defesa dos direitos das mulheres afirmaram que ações preconceituosas são frequentes na instituição de ensino. Também foi divulgado que um dos estudantes fotografados ao fazer a tradicional saudação nazista com o braço direito estendido, ao lado de um calouro amarrado a uma pilastra, é fundador de uma organização de ultradireita. Tudo isso em meio ao clima pesado vivido na faculdade, onde os estudantes fizeram uma assembleia ontem para discutir o que fazer para impedir novas manifestações de racismo, intolerância e preconceito.
Batizada de “Casa da Cadela”, a música é uma referência pejorativa e preconceituosa às alunas do curso da Faculdade de Direito Milton Campos, localizada em Nova Lima, Região Metropolitana de Belo Horizonte. O preconceito contra as mulheres é recorrente nas letras da charanga. Uma delas, de conteúdo impublicável, por causa das palavras de baixo calão, ataca mulheres negras e gordas e menospreza estudantes das faculdades de direito pagas, exaltando uma suposta superioridade dos alunos da UFMG.
A reportagem tentou contato com integrantes da charanga, mas nenhum deles quis falar. Um integrante do Centro Acadêmico Afonso Pena (CAAP), que representa os alunos do direito da UFMG, e que não quis se identificar, confirmou a execução de músicas consideradas preconceituosas e disse que todos na faculdade conhecem as letras da charanga.
Ano passado, essa e outras letras da banda foram alvo de nota de repúdio do Centro Acadêmico da Psicologia, que denunciou o teor preconceituoso e até agressivo das músicas. “Essa sua burrice não vai da pra exorcizar, paga, PUC, PUC, paga”, diz uma música, enquanto outra ataca moralmente as mulheres: “cadela da Milton campos, late, late, late que eu to passando”. Integrante do Gudds, Thiago Coacci, mestrando em ciência política da UFMG, disse que trotes preconceituosos, racistas e homofóbicos são frequentes e que a reitoria já foi alertada pelo grupo. “O que a gente quer não é uma punição pontual. O problema é mais grave, queremos que a UFMG adote uma política ampla de combate ao preconceito”, defende Thiago.
Intolerância “Eu sou um cara estranho com uma arma, eu gosto de atirar em pessoas e matar é divertido”. Esta frase, escrita em inglês, foi postada no Twitter por estudante que participou do trote na Faculdade de Direito da UFMG, apontado como fundador de um grupo de ultradireita. Também foram divulgadas outros posts do universitário, que revelam um perfil com tendências totalitárias e de intolerância contra minorias. Integrante do CAAP confirmou que o aluno é conhecido por suas posições radicais.
Em uma das denúncias publicadas no Facebook, o universitário aparece em uma rede social como integrante do Movimento Pátria Nossa, definido por ele como “um movimento nacionalista para brasileiros que amam o Brasil e defendem a tradição, a família, a pátria e os bons costumes”. O grupo é ligado à organização italiana de extrema direita Tuttadestra. Até anteontem, o estudante e o Pátria Nossa tinham páginas no Facebook, removidas depois que as denúncias de prática de racismo e de referências ao nazismo no trote de sexta-feira foram publicadas.
Em outro post, o jovem volta a falar sobre mortes. "A espécie humana é indigna de vida. Se eu pudesse, escolheria cinco pessoas e deixaria o resto morrer de fome". Há ainda textos contra homossexuais, feministas e manifestações como a Marcha das Vadias. Imigrantes também não escaparam de comentários.