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Estado de Minas

Movimento estudantil convoca manifestação após trote polêmico na UFMG


postado em 21/03/2013 06:00 / atualizado em 21/03/2013 06:50

Assembleia na Faculdade de Direito repercute trote: alunos prometem se mobilizar novamente hoje, Dia de Combate ao Racismo(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Assembleia na Faculdade de Direito repercute trote: alunos prometem se mobilizar novamente hoje, Dia de Combate ao Racismo (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)


 

Em repúdio ao trote ocorrido sexta-feira no prédio da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), organizações do movimento estudantil deve realizar um protesto hoje, data que a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu como Dia Internacional de Combate ao Racismo. A concentração dos manifestantes está prevista para as 8h, na Praça Afonso Arinos, no Centro de Belo Horizonte. Por volta das 9h, o grupo segue para um pátio no terceiro andar do edifício, onde uma encenação coletiva pretende criticar piadas e “brincadeiras” de conotação preconceituosa.

O ato, que inclui a distribuição de panfletos e cartazes, tem a participação do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFMG, da Assembleia Nacional de Estudantes Livre (Anel), da União Estadual dos Estudantes (UEE), do Sindicato dos Trabalhadores nas Instituições Federais de Ensino (Sindifes) e da União de Negros pela Igualdade (Unegro). “A ideia é dialogar com o fato de algumas pessoas acharem que o que aconteceu no trote foi uma brincadeira”, explica a estudante de psicologia Andressa de Araújo Moreira, da Anel.

O que parte dos alunos da faculdade tem considerado uma “brincadeira de mau gosto” são as cenas mostradas em fotos divulgadas na internet. Em uma delas, uma jovem, com o corpo tingido de preto, tem uma placa em que se lê “caloura Chica da Silva” e as mãos atadas por uma corrente segurada por um veterano. Em outra foto, ao lado de um calouro amarrado a uma pilastra, três veteranos fazem saudação semelhante à dos nazistas, um deles com um bigode pintado parecido com o do ditador Adolf Hitler.

Em assembleia ocorrida no fim da tarde de terça-feira no câmpus Pampulha, os estudantes decidiram pedir que a direção da Faculdade de Direito inclua representantes dos alunos na comissão montada para investigar o trote, composta por três professores.  Decidiram também encaminhar manifesto ao reitor da universidade, Clélio Campolina, cobrando providências. “Queremos que aqueles que fizeram o trote sejam punidos e façam uma retratação pública”, afirma Andressa.

As entidades autoras do manifesto divergem com relação à punição. “O que temos que cobrar é conscientização, que a cada semestre se faça uma campanha contra o racismo e outras formas de preconceito. As faculdades também devem ficar mais atentas, deve haver uma fiscalização mais eficaz por parte dos colegiados e coordenações de cursos”, opina o presidente da UEE, o estudante de história Rafael Leal.

Presidente da seção mineira da Unegro, o estudante de ciências do Estado Alexandre Braga acredita que os alunos não devam ser expulsos. “Eles e outros que tenham feito trotes ofensivos têm que pegar uma suspensão de três meses. Isso ajudaria a evitar que esses casos se repetissem”, sugere. Ele acusa de omissão a direção da faculdade e o Centro Acadêmico Afonso Pena (Caap), que não teriam feito nada para evitar o trote.

No início da noite de ontem, a diretoria do Caap divulgou nota de repúdio ao trote em que “se compromete a continuar agindo contra práticas discriminatórias e, de hoje em diante, posicionar-se contra trotes universitários tradicionalmente ocorridos nesta e em outras faculdades.”

Chafurdando na lama

Três vídeos disponíveis no YouTube mostram que os trotes violentos na Faculdade de Direito da UFMG não são novidade. O primeiro, que mereceu uma reportagem do SBT em 2010, exibe cenas dos calouros sendo chamados de burros, recebendo ovos na cabeça e sendo obrigados a mergulhar em lama espalhada no Espaço Livre José Carlos da Matta Machado, administrado pelo Centro Acadêmico Afonso Pena (Caap). O segundo, feito em 5 de outubro do ano passado, foi postado por um estudante que critica o estado do pátio da faculdade, cheio de legumes e verduras misturados a lama. No áudio, o narrador denuncia que os calouros foram obrigados a rastejar no barro e diz que isso ocorre no início de todo semestre. O terceiro, de 2011, exibe uma “maratona” constrangedora: calouros de ambos os sexos, vestindo fraldas geriátricas, são obrigados a disputar uma corrida na Praça Afonso Arinos, durante o dia e no meio do trânsito.

Nova denúncia de racismo na UFMG

Em meio à comoção provocada pelo trote de conotação racista e nazista promovido há menos de uma semana na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, outra acusação de preconceito no ambiente da UFMG vem à tona. A escola de educação básica e profissional da instituição, o Centro Pedagógico, abriu ontem processo administrativo para apurar a denúncia de que um professor teria chamado de “macaco” um aluno do 8° ano, de 15 anos. A comissão criada para averiguar o caso tem 60 dias para apresentar suas conclusões.

Segundo a diretora da escola, Tânia Lima Costa, o caso ocorreu na segunda-feira. O professor de português saiu da sala de aula, depois de deixar os alunos assistindo ao filme À procura da felicidade. “Quando ele voltou, os meninos estavam eufóricos”, relata. Foi quando o homem chamou o garoto de “macaco”, segundo ele mesmo admitiu à diretora, embora tenha alegado que não o fez de forma racista. “Ele disse que foi porque os meninos estavam fazendo um barulho parecido com o animal, que estavam fazendo macaquices. Mesmo assim, nada justifica o xingamento”, afirma.

Tânia soube do ocorrido por meio de outro professor. “Pedi ao aluno que me acompanhasse, para conversar com minha equipe pedagógica. Quando cheguei à sala da direção, os pais já estavam lá e me contaram o que tinha acontecido. Depois, falamos com o professor denunciado, a monitora que estava na sala, o aluno ofendido e os demais estudantes”, conta.

A diretora diz que nunca havia tido notícia de conduta reprovável por parte do educador, funcionário do colégio há cerca de 20 anos. Caso fique configurada a ofensa racista, o acusado pode ser advertido ou receber punições mais severas, como suspensão ou demissão. “Repudiamos qualquer atitude preconceituosa. A escola é pública e democrática. Um fato como esse mancha nossa história”, ressalta a dirigente. O professor não foi encontrado para comentar o caso.

A mãe do estudante, que não quis se identificar, disse a uma emissora de TV que pretendia registrar um boletim de ocorrência na Polícia Militar. “O professor passou um filme e saiu da sala. Quando ele retornou, todos estavam falando alto e rindo. O meu filho riu um pouco mais alto. O professor pediu que todos saíssem. Aí ele disse para o meu filho: 'Você vai ficar. Agora quero ver você rir, macaco. Ri, macaco’”, afirmou. “Meu filho está muito chateado.”


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