E para alcançar o objetivo, Itamar, um dos fomentadores do movimento Deixem o Onça Beber Água Limpa, não se cansa de batalhar, a começar pelo cuidado com sua nascente“Aqui era um brejo, sujo de lixoLimpei, fiz uma horta e até um laguinho com peixesO próximo passo será uma cascata para melhorar a oxigenaçãoEssa é uma das gotinhas do Onça.” O cuidado trouxe recompensas
A perna amputada não cria dificuldade e agora ele está às voltas com a organização de mais um evento em prol do OnçaO sonho é transformar uma extensão de seis quilômetros no entorno do curso d’água em parque ecológico“O Onça tem três cachoeiras e nove corredeiras, sendo uma de 30 metros de alturaTemos que mostrar o potencial da região e, para conseguirmos chegar a nadar aqui, é preciso cuidar da Lagoa da Pampulha (que faz parte da Bacia do Onça), do tratamento do esgoto e também dessa mobilização da comunidade”, diz Itamar, que propõe uma reflexão: “Qual seria o lugar de BH se tivéssemos essa maravilha preservada a menos de um quilômetros da Praça Sete?”
Um parque de todos
Perto dali, conhecimento e mobilização social também se uniram para mudar a realidade no Bairro Aarão Reis, Região NorteEm 1999, alunos e professores da Escola Municipal Hélio Pellegrino, além de moradores da região, criaram uma força-tarefa que resultou na recuperação da nascente e de um trecho do Córrego Nossa Senhora da PiedadeAlém da revitalização do leito de aproximadamente 800 metros do curso d’água, que foi mantido em sua calha natural, como era desejo da comunidade, todo o entorno foi recuperado para criação, em 2008, do Parque Nossa Senhora da Piedade.
“Aplicamos uma pesquisa sobre a qualidade de vida dos moradores e descobrimos que o principal fator das doenças era a presença de animais peçonhentos”, conta uma das coordenadoras do projeto na época, Maria José Zeferino, que atualmente coordena o Subcomitê de Bacias Hidrográficas do Ribeirão OnçaA partir de então, iniciaram um trabalho de mobilização até que o córrego fosse incluído na pauta de recuperação de nascentes da Prefeitura de Belo Horizonte“Ver o córrego limpo e, acima de tudo, correndo em seu leito natural, é motivo de orgulho para todos.”
Ouro Azul é fonte de ideias
A comunidade do bairro abraçou a nascente do córrego, a empresa implantou sistema de economia de água, estudantes desenvolveram tecnologia para tratar recursos hídricosPara valorizar iniciativas em prol da preservação das águas, o Prêmio Furnas Ouro Azul, campanha dos Diários Associados em parceria com a Eletrobras Furnas, destaca bons exemplos de recuperação e conservação dos recursos hídricos em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Distrito Federal.
O concurso, auditado pela Walter Heuer Auditores e Consultores, chega este ano a sua 12ª edição e, mais que disseminar boas ideias em relação ao uso racional da água, contribui para mobilizar outras pessoas para a importância da causa
O destaque foi a categoria Mirim – a mais recentes delas, criada em 2010 As crianças entraram para valer no prêmio e, no ano passado, se tornaram o grupo mais concorrido, com 934 trabalhosRecorde no Ouro Azul, o número reforça a preocupação dos pequenos cedo com o futuro do planetaJá a categoria Adultos abrange empresas privadas, empresas públicas, comunidade, universitários, pós-graduados em nível de mestrado, pós-graduados em nível de doutoradoEntre no site www.ouroazul.com.br e fique atento à data de inscrição e novidades da edição deste ano.
Lições de casa para preservar água
Mais que abraçar causas, a defesa dos recursos hídricos deve começar em casa, com ações simples que, em conjunto, podem ser comparadas às gotas de um oceanoFenômenos como secas na Amazônia e no Pantanal, em 2005, regiões com grande disponibilidade de água, deram sinal de alerta e mostraram que, além de indústrias e setor agropecuário, o uso racional do bem natural passa pelos cidadãosDe acordo com a Copasa, uma torneira mal fechada desperdiça, em média, 2 mil litros de água por diaJá um banho demorado pode consumir 37% da água de uso doméstico, assim como descargas de vasos sanitários desreguladas.
Além dessas ações, é possível conciliar atitudes cotidianasAmbientalistas defendem que a mudança de postura se baseie em quatro “erres”: repensar uma relação mais respeitosa com a água, reduzir o consumo, reutilizar as águas e reciclá-las em estações de tratamentoA mudança de postura passa ainda pela relação com a água no trabalho doméstico e nas necessidades pessoais.
Educadora ambiental na Escola da Água, em Nova Lima, a bióloga Larissa Ferreira Lima ressalta o papel do cidadão e o compromisso em repensar seu estilo de vida“Quanto mais consumistas, mais apoiamos a retirada de recursos naturais para uso no processo de produção.” Segundo a ONG holandesa Water Footprint, para produzir um quilo de carne são gastos mais de 15 mil litros de água.
Larissa ressalta que a conservação da água também passa por temas como a coleta seletiva, o reflorestamento e a proteção de áreas verdesÉ essa a lição que a Escola da Água já ensinou, desde 2009, a mais de 3 mil estudantes dos ensinos fundamental e médio.