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Estado de Minas A ESPERANÇA NASCE NO QUINTAL

Nascente protegida leva aposentado a sonhar com natação no Ribeirão do Onça


postado em 22/03/2013 06:00 / atualizado em 22/03/2013 09:43

A nascente preservada no fundo do quintal, no Bairro Ribeiro de Abreu, Região Nordeste de Belo Horizonte, virou sinal de vida e bandeira de luta. Ao olhar para a água limpa brotando da terra, o aposentado Itamar de Paula reacende a esperança de voltar a nadar e pescar no Ribeirão do Onça. Um dos principais afluentes do Velhas, o ribeirão, formado pelos córregos Pampulha e Cachoeirinha, é o retrato da poluição e da degradação de cursos d’água. “Tenho 55 anos, aprendi a nadar e pescar no Onça, quando ainda havia peixe. Em 40 anos, acabamos com ele. Fico muito indignado ao ver que tiramos isso dos nosso filhos e netos. Não sei se estarei vivo, mas acredito na possibilidade de ele voltar a ser o que era.”

E para alcançar o objetivo, Itamar, um dos fomentadores do movimento Deixem o Onça Beber Água Limpa, não se cansa de batalhar, a começar pelo cuidado com sua nascente. “Aqui era um brejo, sujo de lixo. Limpei, fiz uma horta e até um laguinho com peixes. O próximo passo será uma cascata para melhorar a oxigenação. Essa é uma das gotinhas do Onça.” O cuidado trouxe recompensas. “Há sempre pássaros, as frutas do meu quintal são mais saborosas. A maioria da s pessoas drena e cimenta as nascentes, quando elas poderiam ser a solução”, afirma Itamar, que ampliou a atuação para além do lote.

A perna amputada não cria dificuldade e agora ele está às voltas com a organização de mais um evento em prol do Onça. O sonho é transformar uma extensão de seis quilômetros no entorno do curso d’água em parque ecológico. “O Onça tem três cachoeiras e nove corredeiras, sendo uma de 30 metros de altura. Temos que mostrar o potencial da região e, para conseguirmos chegar a nadar aqui, é preciso cuidar da Lagoa da Pampulha (que faz parte da Bacia do Onça), do tratamento do esgoto e também dessa mobilização da comunidade”, diz Itamar, que propõe uma reflexão: “Qual seria o lugar de BH se tivéssemos essa maravilha preservada a menos de um quilômetros da Praça Sete?”

Um parque de todos

 
Perto dali, conhecimento e mobilização social também se uniram para mudar a realidade no Bairro Aarão Reis, Região Norte. Em 1999, alunos e professores da Escola Municipal Hélio Pellegrino, além de moradores da região, criaram uma força-tarefa que resultou na recuperação da nascente e de um trecho do Córrego Nossa Senhora da Piedade. Além da revitalização do leito de aproximadamente 800 metros do curso d’água, que foi mantido em sua calha natural, como era desejo da comunidade, todo o entorno foi recuperado para criação, em 2008, do Parque Nossa Senhora da Piedade.

“Aplicamos uma pesquisa sobre a qualidade de vida dos moradores e descobrimos que o principal fator das doenças era a presença de animais peçonhentos”, conta uma das coordenadoras do projeto na época, Maria José Zeferino, que atualmente coordena o Subcomitê de Bacias Hidrográficas do Ribeirão Onça. A partir de então, iniciaram um trabalho de mobilização até que o córrego fosse incluído na pauta de recuperação de nascentes da Prefeitura de Belo Horizonte. “Ver o córrego limpo e, acima de tudo, correndo em seu leito natural, é motivo de orgulho para todos.”

Ouro Azul é fonte de ideias

A comunidade do bairro abraçou a nascente do córrego, a empresa implantou sistema de economia de água, estudantes desenvolveram tecnologia para tratar recursos hídricos. Para valorizar iniciativas em prol da preservação das águas, o Prêmio Furnas Ouro Azul, campanha dos Diários Associados em parceria com a Eletrobras Furnas, destaca bons exemplos de recuperação e conservação dos recursos hídricos em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Distrito Federal.

O concurso, auditado pela Walter Heuer Auditores e Consultores, chega este ano a sua 12ª edição e, mais que disseminar boas ideias em relação ao uso racional da água, contribui para mobilizar outras pessoas para a importância da causa. Desde a criação do concurso, em 2002, ele já recebeu quase 2 mil inscrições em sete categorias, mostrando que sustentabilidade e preservação dos recursos hídricos ganham cada vez mais atenção. Exemplo disso é o número de concorrentes. Em sua primeira edição, foram apenas oito. No ano passado, mais de 1 mil iniciativas foram inscritas.

O destaque foi a categoria Mirim – a mais recentes delas, criada em 2010. As crianças entraram para valer no prêmio e, no ano passado, se tornaram o grupo mais concorrido, com 934 trabalhos. Recorde no Ouro Azul, o número reforça a preocupação dos pequenos cedo com o futuro do planeta. Já a categoria Adultos abrange empresas privadas, empresas públicas, comunidade, universitários, pós-graduados em nível de mestrado, pós-graduados em nível de doutorado. Entre no site www.ouroazul.com.br e fique atento à data de inscrição e novidades da edição deste ano.

Lições de casa para preservar água

Mais que abraçar causas, a defesa dos recursos hídricos deve começar em casa, com ações simples que, em conjunto, podem ser comparadas às gotas de um oceano. Fenômenos como secas na Amazônia e no Pantanal, em 2005, regiões com grande disponibilidade de água, deram sinal de alerta e mostraram que, além de indústrias e setor agropecuário, o uso racional do bem natural passa pelos cidadãos. De acordo com a Copasa, uma torneira mal fechada desperdiça, em média, 2 mil litros de água por dia. Já um banho demorado pode consumir 37% da água de uso doméstico, assim como descargas de vasos sanitários desreguladas.

(foto: ARTE EM)
(foto: ARTE EM)
“Sempre tivemos a preocupação de levar ações de conscientização com foco nos consumidores com grande demanda em seus processos produtivos. Mas, depois dessas ocorrências, a situação mudou”, afirma o agente de saneamento da Copasa, Maurício de Castro, enfatizando a importância da conscientização de cada um. “Estamos preocupados porque o homem está interferindo no ciclo da água. Temos que acabar com a deposição de resíduos nos cursos d’água, o assoreamento, tratar o esgoto”, diz.

Além dessas ações, é possível conciliar atitudes cotidianas. Ambientalistas defendem que a mudança de postura se baseie em quatro “erres”: repensar uma relação mais respeitosa com a água, reduzir o consumo, reutilizar as águas e reciclá-las em estações de tratamento. A mudança de postura passa ainda pela relação com a água no trabalho doméstico e nas necessidades pessoais.

Educadora ambiental na Escola da Água, em Nova Lima, a bióloga Larissa Ferreira Lima ressalta o papel do cidadão e o compromisso em repensar seu estilo de vida. “Quanto mais consumistas, mais apoiamos a retirada de recursos naturais para uso no processo de produção.” Segundo a ONG holandesa Water Footprint, para produzir um quilo de carne são gastos mais de 15 mil litros de água.

Larissa ressalta que a conservação da água também passa por temas como a coleta seletiva, o reflorestamento e a proteção de áreas verdes. É essa a lição que a Escola da Água já ensinou, desde 2009, a mais de 3 mil estudantes dos ensinos fundamental e médio.


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